sábado, 12 de julho de 2014

"É Para Mim Mesmo..."

Querido Diário,

Deixemos um pouco as reminescências e memórias desta crossdresser aqui e vamos usá-lo como realmente um diário deve ser usado: como um registro do que se passou no decorrer de um dia. E este dia foi hoje.
A frase que dá título a este post é uma das mais libertadoras para um crossdresser, e para podermos falar em público precisou, no meu caso, de alguns anos. E hoje, pelo menos, repeti-a duas vezes... mas antes, uma pequena reflexão...
Quando você se descobre crossdresser, ou seja lá o nome que você queira dar à aquela-estranha-mania-de-querer-usar-roupa-de-mulher, e você se depara diante de uma loja tendo na sua frente um vestido, uma lingerie ou coisa que o valha, e uma atendente solícita pergunta se gostou do modelo etc e tal, você logo se encanta e faz mil e uma perguntas (ok, sem exagero, um pouco menos) sobre o produto, tipo: tamanho, cor até que chega a pergunta crucial, com suas variações, aquele momento em que nossa cdzinha preferia que congelasse tudo, como num final de capítulo de novela de sábado para dar a resposta só na segunda-feira seguinte: 
1 - "Ela gosta de que estilo?";
2 - "Qual o tamanho dela?";
3 - "É para sua mãe ou esposa?"
(Hoje mesmo ouvi estas três frases...)
Pausa para os comerciais, ou melhor, para a reflexão...
Geralmente temos vergonha ao assumir isso. Não sei os outros, mas, pelo que vejo nos relatos, eu não estaria sozinha. Acho que o maior medo é o da pessoa a sua frente rir, caçoar de você. Até hoje, isso eu nunca vi, nas poucas vezes que repeti as quatro palavras que batizam esta postagem. O máximo que acontece, e é compreensível até, é a vendedora (acho que nunca fiz isso com um vendedor) é parar por alguns décimos de segundo na sua frente, engolir em seco e dizer: "tudo bem, quer ver algo mais?"
Outras nem ligam tanto, e até te tratam como se fosse menina desde o parto de sua mãe (essas são as melhores...): tenho uma conhecida que quando chega novidades na sua loja não hesita em me ligar (e eu em passar lá e quase sempre voltar carregada com algum vestido ou saia)...
Mas, pensemos bem, o riso seria talvez a última reação. Surpresa talvez, até pelo inusitado da situação, mas o que elas querem é vender. Por isso, estou aprendendo a perder este medo. É difícil, mas não impossível...
Mas, mesmo assim temos vergonha. Vergonha de ter o seu rosto marcado pela vendedora e no dia seguinte, se cruzarmos com ela na rua ela se lembrar de nós e cochichar com uma amiga sobre o seu segredo. E de, inconscientemente (isso seeeeeeempre acontece comigo) você se sentir desvalorizado perante aquela pessoa (que, no fundo no fundo, nunca terá importância nem papel algum em sua vida)... maaaaaassss... como vivemos de aparências, de personas que construímos para nós mesmos e pior, insistimos em acreditar, o que acontece? Sofremos.
Sim, sofremos.
Por uma ilusão.
Ou pior ainda, por medo.
Aquele estranho, indizível, inconfessável, imperscrutável medo...
De ser quem somos...
De assumir quem somos...
E pior (ou melhor): de viver quem somos...

(Nossa, como esse post está grande! Continuo na sequência!)





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