quinta-feira, 31 de julho de 2014

E Afinal de Contas, Quem Sou Eu?

Indefinido Diário,

Já passou mais ou menos um mês e você pôde (o acento diferencial no verbo poder ainda existe?) perceber uma pequena mudança nos meus hábitos. Estou mais solta e lidando melhor com minha incipiente feminilidade, mas, porém, todavia, contudo, quando me olho no espelho quando acordo, que decepção! Logo eu, um legítimo exemplar de um homem das cavernas, um Toni Ramos gordo, resolve ser menina???
Depois destes eventos do último fim de semana, entre várias comemorações pela minha coragem etc, algo começou a caraminholar no meu cocoruto: e afinal de contas, o que eu pretendo para minha vida? Já que aquele foi um evento mágico e eu agora quero este evento mágico sempre, logo, devo fazer com que isso aconteça mais e mais vezes... mas aí teria outro pequeno problema: serei sempre um menino de vestido, uma pequena aberração ambulante? Ou deveria me feminilizar cada vez mais, em busca da Vanessa perdida?
Os (principalmente as) partidários (as) desta segunda tese começam a me seduzir cada vez mais com argumentos mais irresistíveis...
Será que adiantaria dizer que sou um chefe de família, um filho amantíssimo, um esposo zeloso? Ou será que nenhuma destas imagens se combina com a Vanessa que aqui escreve?
Será que adiantaria dizer que eu tenho o maior medo do mundo em magoar as três pessoas que eu mais quero bem na vida (não, Laura Pausini não está nesta Santíssima Trindade...), a saber: meus pais e minha senhora?
Será que adiantaria dizer que sou uma pessoa que morre de vergonha de ser apontada em público, que não tem jogo de cintura para quase nada na vida (bem, também nem tanto, acho que consigo improvisar um pouco...) e que, librianamente, depende absurdamente da opinião dos outros para ser feliz?
Será que adiantaria...?
Será que...?
Será...?
Se...?
...?
Veja você que curioso é a vida: o meu maior prazer na vida é ser menina, seja lá como, mas arrumo mil e um "serás" racionais para manter o meu status quo. Mas até que ponto estes freios vão conseguir me parar? A partir de qual momento eles começarão a ficar gastos?
Veja, por exemplo, a questão da vergonha: quando estava na fila do ônibus, vi uma menina me olhando com cara de espanto e rindo, e me apontou com a cabeça, ainda que discretamente (meninos, eu vi!) para o homem que estava com ela. Fiquei, obviamente, cismada (se bem que, naquela situação, não deveria muito ter esse direito...), mas depois pensei: eu nunca mais vou ver essa criatura na minha frente, então, porque eu daria poder para essa pessoa, que nunca mais verei, ditar minhas regras de comportamento, o que eu devo fazer, vestir, etc?
E aí, meu crítico Diário, eu lhe digo: ainda que esteja apenas no look "menino de vestido", ainda que doa ser o alvo involuntário de olhares atravessados, eu já começo a desenvolver anticorpos contra a opinião alheia. E neste sentido, ainda que eu vire um abajur (entendedores entenderão!), ainda serei um abajur com opinião própria.
Mas isso tudo é fruto de exercício e desenvolvimento de auto-estima. Auto-estima por entender que não sou apenas um menino de vestido. Sou um menino de vestido (ainda!) com qualidades que Vanessa herdará e saberá usar muito bem. Talvez, eu até diria, um ser humano menos hipócrita, mais leve e mais feliz.
Como você pode reparar, assustado Diário, o freio da opinião pública começa a se desgastar...
Aonde isso vai levar?
Assistam as cenas dos próximos capítulos (já que a mulherada gosta, né? Entendidas entenderão...)

quarta-feira, 30 de julho de 2014

A Volta à Realidade...Mas Que Realidade?

Angustiante Diário,

Depois daquela epopéica tarde de domingo e de suas recordações fantásticas (e das não menos fantásticas reações de minhas amigas, que me deram parabéns pela coragem, prometeram-me vestidos, estimularam uma improvável carreira literária etc), eis que a poeira começa a baixar e volto à realidade do meu cotidiano "normal" de um homem preso por uma profissão que não quer (isso sem falar no sexo...), por um casamento que quer mas o senso comum adora me cochichar que viver uma experiência como a que eu tive definitivamente não vai dar futuro ao meu matrimônio, entre outras coisas, entre outras coisas...
Ou seja, a tal Vergonha ainda me recomenda: vamos deixar de lado as fantasias e voltar a realidade, baby! Abaixa este fogo, kiridinha! Você tem uma família pra sustentar, pais para manter, um papel para representar na sociedade, e tudo isso é incompatível com aquele pretinho básico que você andou desfilando na Dutra! Volte para a sua prisão domiciliar, Sra. Vanessa, somente lá, no recesso de seu lar e com o complacente beneplácito de sua magnânima senhora você pode ter aqueles parcos momentos de felicidade como os que você teve naquele dia.
E a Vergonha continua: E nada de se aventurar por aí, tá? Vai que alguém te pega, o que você vai fazer? Você tem um nome (pequeno, é verdade) a zelar, uma profissão para honrar, o nome de sua família a resguardar! O que dirão seus conhecidos ao te ver assim na rua? Não faça mais isso sequer no âmbito do corredor do seu prédio, sabe como os vizinhos são!
Além disso, filha (continua a impiedosa das gentes), você é uma covarde que sequer tem a coragem e a ombridade de se mostrar para sua família, vai querer o que, buscando a felicidade num pedaço de pano que nunca foi para te cobrir? Contente-se com o que você é, e basta! Fica aí onde você está que está muito bem. e agradeça a Deus por Ele ter pena de sua alma tão atormentada...
Bom, nestas horas, para me lembrar do que e de quem sou, acho que nada é melhor do que Shakira en sus viejos tiempos:

Tudo bem, a qualidade do vídeo não é lá das melhores, mas prestem atenção na letra!
Beijos!



terça-feira, 29 de julho de 2014

1 Mês de Blog!

Aniversariante Diário,

Parabéns! Completei um mês de blog! Um mês inesquecível, em que me abri como nunca, me deixei revelar como poucas vezes antes, mas que foi muito, muito bom pra mim, principalmente com o que aconteceu no fim de semana passado. Voltei a falar com pessoas que há muito não tinha contato, que me deram apoio, estreitei laços já fortes... em suma, é muito bom compartilhar isso tudo com vocês! Que venham os próximos meses e tudo o que eles nos irão reservar (e que aconteçam maravilhosas loucuras como as que eu relatei antes!)

segunda-feira, 28 de julho de 2014

27 de Julho de 2014 - Epílogo - Das Coincidências

Coincidente Diario,

Estas foram minhas memórias de ontem. Apenas à guisa de epílogo, finalizo este relato com algo inaudito: hoje, ao pegar o ônibus para trabalhar, quem encontro na última cadeira do coletivo? Sim, minha BFF que iniciou todo o processo de ontem, com o FAÇA... e eu nunca peguei ônibus com ela, mas desta vez, por uma felicíssima coincidência, tudo parecia armado... e aí relatei com riqueza de detalhes tudo o que ocorreu...
Quem disse que as coincidências são apenas um dos pseudônimos que Deus usa para assinar Suas obras estava certo, certíssimo!

27 de Julho de 2014 - Cap. 9 - Você Surtou?

Surtado Diário,

Foram com essas doces palavras que minha senhora me recebeu ao me ver de vestido. Assustada, ficou embasbacada ao me ver entrar pela porta quase meia noite sem que ninguém, nem no prédio, me visse (sorte do cacilda!).
Da mesma forma, nada vi na parada do ônibus.
Se eu surtei? Sim, de felicidade. Eu atravessei mais de quatrocentos quilômetros vestida como sempre quis estar. Encarei olhares, meus medos, meus receios. E vi que o bicho não é tão feio como se pinta...
Pelo menos quando não se tem conhecidos. Meu Anjo da Guarda cuidou bem de mim. Deve ter sido efeito das orações de agradecimento por estar daquele jeito, no ônibus.
Apesar do medo eu estava feliz. Se algum momento me perguntassem como é a felicidade, eu me lembraria exatamente do dia 27 de julho de 2014.
O dia mais feliz da minha vida.

Hoje é dia do riso chorar!

27 de Julho de 2014 - Cap. 8 - Sozinha, no Ônibus

Solitário Diário,

Uma coisa é você ter uma pessoa que lhe incentiva, acha tudo a coisa mais natural do mundo. Outra coisa é você sair do raio de ação desta pessoa e ficar sozinha, vestida diferente, e sendo a atração de vários olhares, dos indignados aos curiosos. E era assim como me sentia na fila do ônibus. Até uma passageira fez sinal para seu colega, provavelmente falando de mim.
Mas eu estava no lago.
E a água não era fria.
Ou melhor, era até fria, mas não tinha mais como voltar atrás.
Meu medo maior seria o de encontrar alguém conhecido, que estivesse voltando para casa. Aí não teria jeito, teria q me assumir mesmo e dane-se o mundo. Mas não encontrei ninguém.
Minha companheira de banco não estava a fim de muita conversa. Fiquei teclando no celular com umas amigas, contando a novidade, até a bateria acabar. Aí, a BFF que começou tudo me deu uma recomendação, ao ouvir dizer que estava tão feliz que estava com vontade de chorar: Chore, escondido, mas chore... peguei meu MP3, coloquei na Laura Pausini querendo ouvir esta canção, e chorando copiosa mas discretamente:

E os versos que não saiam da minha cabeça naquele exato momento eram: "E so che sostenere il colpo non sarà mai facile"... eu sei que aguentar o golpe nunca será facil... mas eu estava no jogo, agora aguenta!

27 de Julho de 2014 - Cap. 7 - Como Eu Estava Me Sentindo?

Diário,

Em resposta ao post anterior, o vídeo abaixo mostra singelamente como eu estava me sentindo naquele exato momento, sem tirar nem pôr:

É tetra!!!

27 de Julho de 2014 - Cap. 6 - E Aí, Como Você Está Se Sentindo?

Emocionado Diário,

A pergunta que batiza este post foi feito logo após ter retornado do almoço, ter provado os dois vestidos, ter visto que o primeiro vestido, por mais lindo que fosse, me deixava com a aparência de uma funkeira prestes a dar a luz, de ter provado (e aprovado) o segundo vestido e tê-lo comprado. Após um brinde, eu com minha Pepsi, ela com um Guaraná, ela fez a pergunta acima...
Eu não consegui responder. Faltou a voz. Sério, de verdade. Não digo que embarguei e tentei chorar, nada disso, mas travei.
Queria poder abraçá-la e agradecê-la pelo que ela me fez. De contar tudo o que passei, de todas as vergonhas que tive e que ainda terei, de tudo. Dos sonhos perdidos, que busco reencontrar em pedaços de pano que me dão a ilusão de ser quem não sou, simplesmente por querer ser. Queria poder contar minha história. Eu queria simplesmente ser...
Quando finalmente pude falar algo, resumi após um suspiro:
- Feliz. Muito feliz.
E ainda ela me lança o grand finale:
- Bom, por que você não dá uma volta aqui em frente para se acostumar com o público?
Diário, te garanto que quando saí da loja e me dei de cara, de vestido, no meio de toda aquela gente, foi a mesmíssima sensação de uma ave sendo jogada do alto. Sem tirar nem pôr. Nessa hora, minha BFF entra em contato comigo e conto o ocorrido. Ah, me manda uma foto? Fico distraída, mas dando meu voo, digo, meu passeio. Vejo olhares sobre mim, ou penso pelo menos que estão me encarando. Volto rápido:
- E aí, viu como não era tão feio como você pensava?
Faltava meia hora para o ônibus. Tempo suficiente para trocarmos facebook, falar de você, famoso diário, e ainda de algo inusitado:
- Eu queria ir ao banheiro...
- Ah, é para aquele lado...
Fui apressada, de vestido e tudo, no banheiro. Não fiz como o Laerte, fui no masculino mesmo, e um bando de homem me olhando (e tive a primeira sensação de que poderia ter sido atacada lá dentro...). Volto para as despedidas:
- Olha, volte sempre, vou te mandar fotos das novas coleções...
E pego o meu ônibus... Alea jacta est!

27 de Julho de 2014 - Cap. 5 - Onde Aparece A Fada Madrinha...

Ansioso Diário,

No linguajar dos crossdressers o termo S/O, que significa, se não me falha a memória, Supportive Oppositive, é aquela pessoa que, na graduação que fiz no post "Dia Dazamiga", é o número 1 clássico, ou seja, a pessoa (geralmente do sexo que você pretende ser) que, como diria Seu Peru, te dá o maiorrapoio, te trata como se você fosse tão mulher quanto ela...
Foi o que acabei encontrando na próxima loja. Entro e faço a clássica pergunta:
- Bom dia, tem vestidos GG?
- Bom dia, temos uns aqui, olha este aqui...
Era um vestido de comprimento médio, apertado (já viu, né?), mas largo o suficiente para me caber, preto, com detalhes laterais em oncinha (ai ai, o animal print ainda me mata...). Peguei o vestido, coloquei-o na cintura e ela me disse, solícita?
- Não quer olhar ali no espelho para ver como fica?
Olho no espelho e disfarço. Pergunto se eu poderia entrar no provador.
- Claro, pode entrar - disse ela, abrindo a cortina...
Uepa, gritaria Ricky Martin. Essa parece ser das minhas.
Coloco a roupa toda nervosa. Não foi lá aquele caimento, mas...
- Gostei, mas vou dar uma olhada no restante aqui...
- Pois não, esteja à vontade...
Olho um vestido longo, preto, só que G. Era o que o FAÇA queria: um vestido para passear em São Paulo ou para coisa pior, que no meu caso... bom, continuamos...
- Achei este daqui, é G mas parece que entraria em mim. Posso ver lá?
- Claro, pode ir.
Provei por cima da roupa de novo. E, realmente, ficou um xuxu! Saí de lá:
- Obrigado... desculpa por isso...
- Que nada, imagina... você gostou?
Se eu gostei? Achei o vestido que queria, o atendimento mais natural possível e ela pergunta se eu gostei?
- Sim, gostei... gostei tanto que estou pensando se devo usá-lo para viajar.
E dando mais asa à cobra:
- Ué, e por que não vai? Se você se sente bem com isso, por que não vai?
Fiquei parada, olhando a situação e tentando arranjar mil e uma desculpas, mas todas esbarravam naquele mais forte argumento: se você se sente bem, why not?
- É, vou pensar... onde tem mais loja de roupas e um lugar para almoçar?
Ela, surpreendentemente me mostrou mais umas duas ou três lojas e o mesmo número de opções para almoço. Surpreendentemente porque ela não parecia ter medo de concorrência...
- Você pode deixar as duas roupas separadas? Eu já volto...
Fui ver as outras roupas. O atendimento não era lá dos melhores. Voltei para a menina querendo me lembrar onde poderia almoçar bem. Ela, com paciência, me diz onde. Fui almoçar, e mandei um recado para a BFF de anteontem, mais ou menos nestes termos:
"Estou prestes a fazer uma doideira por sua causa" (eu me lembro bem do termo doideira, iria usar outro termo mais enfático...)
Volto do almoço com metade de uma Pepsi Cola para ela, que estava com sede. E o que se seguiu foi inesquecível...




27 de Julho de 2014 - Cap. 4 - E Vai Rolar a Festa...

Simplesmente Diário,

Mente vazia oficina do diabo, dizem alguns. O que fazer durante três horas presa numa rodoviária? Colocar o FAÇA em ação! Já que estamos aqui sem fazer nada, porque não olhar as modas, literalmente? Foi o que me pus a fazer: no segundo piso da Rodoviária tem algumas lojas interessantes...
Fui na primeira, em que fui atendida por uma funcionária que, não sei se chateada por trabalhar num domingo chuvoso ou não, atende com displicência, mostrando-me algumas saias indianas (engraçado, antigamente achava saia indiana o suprassumo da breguice riponga, hoje até considero ter uma...), até que ela veio com a mais desalentadora das perguntas...
Sim, amável Diário e eventuais leitores deste post, ela perguntou: "É pra sua esposa?"
Próxima loja, por favor...


27 de Julho de 2014 - Cap. 3 - E O Universo Continua Conspirando...

Ansioso Diário,

O que eu tinha para fazer em São Paulo encerrou-se lá pelas 13 horas. É hora de voltar pra casa... pego um táxi, volto pra Rodoviária e tento trocar minha passagem; lembrem-se, minha volta seria apenas 16:15, e descubro que tem um ônibus com apenas três lugares saindo 14:15. Fiquei revoltada por saber que iria levar um prejuízo de uns vinte a trinta reais porque o ônibus que eu voltaria saiu mais caro e dei as costas. Cinco minutos depois volto arrependida (mas com o FAÇA on my mind...) mas cadê os três lugares vagos? Compradores menos muquiranas que esta que vos tecla passaram a minha frente. E agora, uma e pouco da tarde, com ônibus lá pras quatro, que tédio, né? Só que não...

27 de Julho de 2014 - Cap. 2 - E O Universo Conspira...

Querido Diário,

Já estamos na fria manhã paulistana de 26 de julho de 2014 quando descubro que voltarei sozinha para o Rio no dia seguinte, pegando o ônibus de 16:15. E o FAÇA on my mind...

27 de Julho de 2014 - Cap. 1 - FAÇA

Curioso Diário,

Ansioso para saber as novas, depois da introdução que fiz? Acompanhe-me então. O dia 27 de maio de 2014 começou na realidade no dia 25 de julho, quando, faltando pouco mais de meia hora para viajar para São Paulo, encontro uma BFF que, comentando o post que coloquei uma foto e disse que era somente aquilo que eu queria, me fala que lendo o texto, jurava que a menina da foto fosse eu. Quem tiver o interesse em ver, por favor, pode dar uma olhada no post "Apenas Isso"... ou então, vamos refrescar a memória, a foto é essa:

Lembraram? Pois bem, a criatura vira pra mim e disse: "puxa, eu pensei que fosse você"... além de ser uma crueldade com a moça comparar comigo, já que sou mais gorda que ela, informo a todos: não, não era eu. Eu era apenas a fotógrafa. Mas, voltando...
Eu disse para ela que... ah, acompanhem o diálogo:

BFF: Eu jurava que a pessoa da última foto era você
Estava lendo o texto e torcendo, é ela, é ela huh
VJ: Quem dera... ainda chego lá...
Torcendo?
BFF: Sim quero que você desabroche e que sua essência transceda (sic!) (PS.: Não é uma fofa?)
VJ: Mas tô com vontade de fazer isso mesmo...
BFF: FAÇA
VJ: Ui!

Pois bem, fui viajar com aquelas quatro letras em Caps Lock na minha cabeça. Mas como, se iria ir e voltar devidamente acompanhada de pessoas que sequer desconfiam da minha existência? Resposta nos próximos posts...


27 de Julho de 2014 - Prefácio, Introdução ou Gloria Estefan, Como Preferirem...

Querido Díário,

Existem dias, ou frações de dias, que podem justificar uma vida inteira, ou melhor, podem dar um novo sentido e um novo rumo às nossas vidas. Acho que foi Paulo Coelho quem disse que todo dia esconde a oportunidade de um milagre, basta percebermos isso. E porque estaria eu tão filosófica refletindo sobre o dia de ontem? Porque ontem, 27 de julho de 2014, muito provavelmente naquela tarde de 27 de julho de 2014 eu tive toda essa percepção. Como canta Gloria Estefan aqui embaixo, "some days are made to be remembered", e este, certamente, é um deles. Um dia que encerrou um fim de semana totalmente despretensioso mas que... bom, curtam aí Glorinha que o resto eu conto nos próximos posts... mas leiam, vocês não irão se arrepender...

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Aviso aos Navegantes...

Querido Diário,

Só passei aqui para dizer que este fim de semana estarei fora da área de cobertura. Devo aparecer pouco, vou para um lugar onde poucos desconfiam que eu existo. Mas desde já vou ficar com saudades de escrever e dividir minhas alegrias, angústias e otras cositas mas... prometo que, se der, vou postar alguma gracinha aqui, mas não garanto. E vou colocar meu face em vez do meu avatar masculino... quem estiver com saudades, entre em contato! Beijos e até quando puder aparecer!

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Apenas Isso...

Fotogênico Diário,

Apenas considere a seguinte foto:

O que vocês observam a sua frente? Apenas o que eu queria para mim. Não, malicioso diário, não estou aqui cortejando a mulher do próximo e minha senhora pode ficar tranquila quanto a isso. Mas a figura a frente representa o que eu queria para mim: um vestido (animal print!), uma bolsa (preta, of course!), um casaquinho pro frio e nada mais (e olha que eu nem vi o sapato...)
Considere mais uma pequena coisa, minucioso Diário: quando eu me imagino menina, não me imagino como uma diva, um mulherão, algo inimaginável. Apenas assim, anônima, indo para o seu trabalho numa preguiçosa manhã de inverno.
Falta um pouco. Mas daqui a algum tempo eu estarei assim. Porque eu quero isso. Apenas isso...

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Ah, As Pequenas Coisas Da Vida...

Querida Diário,

Diz um sábio ditado que os melhores perfumes se encontram nos menores frascos. Analogamente, as surpresas mais interessantes da vida encontram-se nas coisas mais imperceptíveis...quer um exemplo?
Hoje de manhã vi algo bobo, inusitado, mas que mudou meu dia e me deixou bem feliz... e que pode servir de explicação para tentar entender a cabeça de uma crossdresser...
Ontem à noite estava teclando com uma das minhas BFF´s via uatizapi e ela se despediu de mim com um lacônico mas fofíssimo "Obrigada querida"...
Repararam? Vou repetir? "Obrigada, queridA"
E daí, poderiam perguntar alguns? Grandes coisas...grandes coisas pra vocês, que nasceram com tudo certinho, no lugar, não precisam se preocupar nem se agoniar por estar dentro do sexo errado etc e tal. Para mim, pelo menos, isso vale e muito, o simples prazer de ser tratadA no feminino...
Ok, ok, eu sei, vamos relembrar aquele post anterior e seu primeiro mandamento: o sexo das pessoas é igual ao hino do Flamengo: uma vez homem, sempre homem, e uma vez mulher sempre mulher. Biologicamente não tenho como fugir disso, quando muito, no máximo no máximo apenas camuflar, esconder bem sob uma pesada maquiagem, regado a hormônios etc e tal. No entanto, será que ao menos socialmente não poderia tirar uma casquinha deste tal do sexo frágil?
Aí é que está. Tirar esta tal casquinha (ainda) assusta as pessoas, o que não deixa de ser um tanto quanto compreensível. Ainda mais quando o tal do sexo biológico não se encaixa mas você, sexualmente, (ainda) é heterossexual. Ou seja, numa equação simples, uma crossdresser é quase sinônimo de homossexual, quando na verdade existem crossdressers que têm, sim, atração por mulheres e são heterossexuais assumidos...
Mas é tudo muito confuso ainda. Nestas horas eu costumo um pouco baixar a guarda e me lamentar da minha falta de sorte, e repetindo o Professor Girafales, saber por que causa, razão, motivo ou circunstância eu vim assim a este mundo.
Mas, enquanto eu não tenho a resposta, vou me alegrando com as pequenas coisas da vida, como, simplesmente, uma querida mensagem...

PS.: Entenderam agora o querida Diário acima? Nem repararam, né? Tsc, tsc, tsc...

domingo, 20 de julho de 2014

Feliz Dia Dazamiga!

Amigo Diário,

Acho que esgotei todo o assunto quando falei das BFF´s, mas, mesmo assim, em homenagem a data de hoje, vale a pena falar um pouco mais das minhas amigas...
Inicialmente, parabéns a todas as que me aturam, seja ao vivo, seja pela internet, seja apenas em pensamento...
Engraçado que hoje, eu pensando no assunto, cheguei a conclusão de que tenho alguns tipos de amigas,a saber:
1 - as desvairadas (poucas, mas que eu adoro!) que ainda se perguntam por que não chutei o pau da barraca (frase preferida: "ué, mas por que você não está de vestido?")
2 - as céticas do bem: as que preferem que eu passe por um tratamento psicológico, psiquiátrico, com pai de santo ou coisa que o valha, para que eu tenha absoluta certeza do que eu quero (frase preferida: "eu acho que você deveria ter um acompanhamento antes...")
3 - as agnósticas: ou seja, as que não conhecem ainda do assunto, mas que prometem se atualizar quanto ao assunto "crossdresser" para poder falar com propriedade comigo (frase preferida: "olha, não sei muito sobre isso, mas quando souber a gente volta a se falar...")
4 - as que não querem nem saber (sim, elas existem!): ou seja, não sabem o que é crossdresser, não querem saber e têm muita raiva de quem sabe. Frase preferida: "Isso pra mim não passa de uma grande palhaçada!"
Embora a grande maioria das minhas amigas (inclusive das MELHORES amigas) estejam no segundo grupo acima mencionado, confesso que me divirto mais com o primeiro grupo, pelo menos eu sinto que a tal da barreira biológica é totalmente dissolvida por uma crise momentânea de alucinação coletiva, na qual eu ainda tenho que me justificar porque cargas d´água eu ainda não me depilei ou não furei a orelha, já que hoje tudo é tão simples...
E é em homenagem a todas elas que dedico, apenas para variar, mais uma cançoneta da sua, da minha, da nossa musa (que também não deixa de ser uma amiga muito querida minha, e do primeiro grupo...)

sábado, 19 de julho de 2014

Chega de Lágrimas, Vamos a Algumas Verdades...

As últimas postagens aqui parecem mais o Muro das Lamentações do que propriamente minhas memórias e impressões. E este, repito, não é o objetivo deste blog, que quer apenas registrar as peculiaridades (e põe peculiaridade nisso...) da vida de uma crossdresser plus size (ou, no popular, de uma bicha gorda, whatever). Por isso, doravante vou me policiar para não aborrecer nem este diário nem o(a) amável leitor(a) destas páginas com choros e mimimis que em nada contribuirão para minha felicidade ou para o meu grande sonho. Neste ponto, estabeleçamos certas verdades inescapáveis, para início de conversa:
1 - Nasci homem, e mesmo que me opere, continuarei sendo homem, biologicamente falando;
2 - Toda a minha história e biografia, pelo menos até o momento, é/foi masculina. Então, conviva com seu passado da melhor maneira possível (o que não quer dizer que seu futuro também o será infalivelmente);
3 - Minha escolha causará espanto em uns, repulsa em outros (cujas opiniões são/serão, em sua grande maioria, absolutamente irrelevantes) e mágoa (esta é a pior) em alguns poucos, mas estes alguns poucos são os que realmente podem mais te importar. Saiba lidar com este fato e fardo (talvez seja por isso que não mergulhei de cara no lago. Ainda...)
4 - Saiba que esta sua escolha modificará, para todo o sempre, a sua vida. Saiba muito bem onde você estará pisando. Sua ficha poderá ser queimada, pelo menos, até a próxima encarnação;
5 - Lembre-se de que além de sua vida pessoal, sua vida profissional também será fortemente afetada por esta decisão e que você não é tão atraente nem deseja tanto assim se prostituir para ganhar o pão vosso de cada dia. Arrume uma ocupação decente e de acordo com sua nova vida;
6 - Nunca, nunca, NUNCA se esqueça de que esta decisão é apenas uma decisão de como viver sua vida daqui pra frente. Mas não despreze todo o seu cabedal de conhecimento nem o caráter da pessoa que você foi a.V (antes de Vanessa), ao contrário, utilize como uma força diferenciadora a seu favor. Eles, apesar de toda a sua covardia e acomodação disfarçados de vontade-de-não-magoar-quem-mais-amo, ainda assim, são maravilhosos e devem ser usados como diferencial em sua nova vida;
7 - Por fim, se quer viver como menina, viva como uma menina natural e normal. Você odeia afetações e não-me-toques. Apenas, por uma questão de educação, evite falar tantos palavrões, não fica bem numa menina (mas pode mandar alguém se f... em doses regulares, se isso for absolutamente inevitável...)
Acabou? Acho que sim. Queria que chegasse a pelo menos dez verdades, mas fico aqui em sete. São coisas que queria escrever para mim há tempos, algo como "olha, faça o que quiser, mas não se esqueça disso...". E também não me pergunte porque, do item 4 em diante, passei a usar a terceira pessoa em vez da primeira. Deve ser porque alguém escreveu por mim na hora. Talvez um anjo... então, em respeito a ele, fica como está... quod scripsi, scripsi...


E segue a vida. No more tears...

Vontade X Vergonha

Envergonhado Diário,

Desde ontem uma interessante questão se fez para mim: como contrabalançar a necessidade que tenho de sair andando por aí como uma menina e o choque que isso causaria em quase toda a humanidade que fosse ver tal cena.
A princípio, nenhuma preocupação deveria vir a tona, afinal de contas, vamos voltar àquele velho chavão de que "ninguém paga as minhas contas", etc e tal. Mas entra a questão, tão trabalhada no tal do livro sobre a imperfeição que te comentei posts atrás, da vergonha. E aí, jovem, o que fazer com isso?
A questão se resume de uma forma ridicula e cruelmente simples: devemos preservar nossa imagem (e a de nossos entes queridos) ou mandar tudo à-tonga-da-mironga-do-kabuletê?
Se estivesse sozinha nisso, como diria certo ministro, mandaria às favas os escrúpulos de consciência e partiria para o abraço. Mas tenho família e esposa, além de domicílio numa cidade de porte médio, o que possibilitaria uma rede de fofocas considerável. Assim...
Outra coisa: como ainda sou um ogro, não tenho acesso, ou permissão, a muitas coisas simples de mulherzinha, dentre as quais destaco três: furo na orelha, ser depilada e ter cabelo grande... assim, como certa amiga me disse ontem (e se ela ler este post vai reconhecer...) fica difícil tentar o mínimo de feminilidade sem ter, pelo menos, as pernas lisas...
E assim caminha a humanidade, jogando água fria nos pulsos para ver se esquenta, em vez de se jogar no lago...
Para meu consolo (sem duplo sentido...) só mesmo minha Laurinha...


PS.: Tem algumas amigas minhas a quem esta música se aplica também, embora não pelos mesmos motivos que os meus. A quem a carapuça servir, escute com carinho esta canção também!

quinta-feira, 17 de julho de 2014

As Teorias na Prática

Teórico Diário,

Se eu não utilizei esta imagem uso-a agora: imagine que você esteja de frente para um lago onde você queira muito estar para nadar, se divertir, brincar, enfim. Só que a água deste lago é muito gelada, e você, para se acostumar com ela, você começa a molhar algumas partes do seu corpo, para se acostumar com a temperatura, mas nunca consegue (outro exemplo interessante e com o mesmo efeito é você tentando acostumar seu corpo a um chuveiro gelaaaado...)
Imaginou? Pois é assim como me sinto: tentando de todas as formas mergulhar mas só colocando um pé, uma mão, um dedo na água, sem mergulhar. 
Porque mergulhar é perigoso. Precisa coragem e uma boa dose de cara de pau, requisitos que não possuo no momento, confesso (e, cá pra nós, quem tem?)
Aí fico mergulhando nestes livros de auto-ajuda, cujos títulos parecem ser tão interessantes quanto inócuos ao fim da leitura: "A Coragem de Ser Imperfeito", "Fora do Padrão", "Recomeços", "A Coragem Que Vem de Dentro", etc...
Também na Nova, vivo lendo matérias interessantíssimas, na verdade variações sobre o mesmo tema, ou seja, espero sinceramente um dia encontrar O artigo que vai mudar a minha vida. Se é que um dia eu vou achar...
E assim segue Vanessinha... buscando fora o que sua alma medrosa sabe que no fundo, no fundo, só vai encontrar dentro de si... a teoria, na prática, é outra coisa. Teoria é o ensaio, a prática é o show.
Até quando vou ficar ensaiando?
Será que o Biquíni pode me dar uma dica?

Como não achei a legenda desta música (mais uma que é a minha cara!), posto aqui embaixo. É mais ou menos por aí...

Eu sei que a vida inteira
Vou procurar desculpas pra mim mesmo
Pra tudo que eu faço, e o que fizer,
Das culpas me desfaço
Razões, as mais sinceras,
Vou formular, como se fosse teoria
E terei uma certeza que eu criei
E a mim mesmo explicaria
Mas tudo que eu faço hoje
Não é diferente do que antes eu fazia
Eu convencia o mundo inteiro
Só a mim mesmo, não convencia
Se tudo fosse teoria....
Eu quero explicar a todos o que sinto
Mas pareço acreditar que o tempo todo estou mentindo

Se Deus me explicasse, ao menos me conformaria
Mas como acreditar se Deus também é teoria.
Tudo que eu faço hoje
Não é diferente do que antes eu fazia
Eu convencia o mundo inteiro
Só a mim mesmo, não convencia
Se tudo fosse teoria...


quarta-feira, 16 de julho de 2014

Alta Ajuda

Diário,

Quando você tem uma situação de desajuste social como a minha, você começa a se agarrar em mil e uma formas de consolos (no bom sentido) ou formas de entender como (re)agir a esta brincadeira do destino que ele lhe impõe. E tenta se convencer de que "não, a situação é meio esquisita, mas dando-se um jeito aqui, um outro acolá, chegamos a um denominador comum". Ou então tentamos, pelas vias mais tortuosas, descobrir qual a razão disso tudo...
Sinceramente, nunca me liguei para saber a causa disso tudo, mas confesso que nos últimos tempos estou procurando auxílio não para descobrir a razão, mas sim para tentar me virar no futuro quanto à minha escolha. Neste sentido, descobri um livro interessante, cuja capa coloco aqui do lado, se chama... "A Arte de Ser Imperfeito", de Brené Brown...
Ainda estou no início do livro, não sei se ele servirá ainda como trampolim para a grande virada, pelo menos ele falou muito, até onde li, sobre vulnerabilidade e agora estou no capítulo sobre a vergonha (bem a minha cara tal situação...)
E li um trecho altamente interessante agora há pouco, quando voltava para casa, que gostaria de compartilhar com vocês. Pelo menos serviu direitinho para a minha situação. E talvez para quem esteja me lendo agora:

"Todos sentimos vergonha. Todos temos o bem e o mal, a escuridão e a luz dentro de nós. Mas, se não nos reconciliarmos com nossa vergonha, com nossos conflitos, começaremos a acreditar que há algo errado conosco, que nós somos maus, defeituosos e, pior ainda, começaremos a agir com base nessas crenças. Se quisermos ser pessoas plenas, estar inteiramente conectados com a vida, precisamos ficar vulneráveis. E para isso temos que aprender a lidar com a vergonha"

E aí, gostaram? Enseja alguma reflexão? Eu gostei quando ela falou de nos "reconciliarmos com nossa vergonha"... e foi isso o que mais fiz, mais pratiquei, mais me exercitei nos últimos tempos: ver meu crossdressismo não como um fardo, mas como uma oportunidade, uma chance, poderia ser até mais sarcástica, uma grande sorte, em suma, é a Grande Questão da minha vida.
O mundo lá fora, já dizia Rocky Balboa no trecho abaixo, quer nos fazer sentir inúteis, incapazes, insossos. Mas, no momento em que nos damos conta de quem realmente somos, aí nossa vida começa a fazer toda a diferença. Não era a minha intenção me alongar sobre o tema, que ainda deve render uns dois ou três posts... mas, #ficaadica...  Enquanto isso, aprendam com Rocky Balboa:


terça-feira, 15 de julho de 2014

Moda É Legal, Mas... Para Você?

Obeso Diário,

Digamos que minha vida de consumidora de moda tem menos de um ano. Menos de um ano que tomei coragem para dizer, num brechó perto de casa, aquelas quatro palavrinhas mágicas e libertadoras de umas postagens atrás. Só que agora peguei o gosto pela coisa. E não quero mais largar. O duro é arrumar espaço no meu guarda roupa pra tanta peça... calcinha acho que já tenho mais do que cueca, por exemplo (e virgens, coisas que nem usei ainda e tenho pena de tirar do plástico...).
Com isso acabei desenvolvendo um certo gosto, uma certa inclinação: estou começando a amar vestidos longos, e estampas, que até outro dia odiava, passei a ver com outros olhos... e saias também, saias compridas, no comprimento máximo... talvez estas peças sejam, hoje, as minhas preferidas...
Tudo bem no fantástico mundo de Vanessinha, pois não? Não, aí é que você, Diário, se engana...
De tanto provar no tal brechó em que acabei revelando minha identidade secreta, descobri, através de um vestido liiiiiiiindo de festa arrebatado por míseros vinte e cinco reais que o meu tamanho é 50.
Sente o drama de uma gorda?
Sente o drama de um gordo querendo ser gorda?
Se sentiu, então você sabe como devo ter ficado...
Porque, no meu caso, não basta você entrar numa loja, encarar com olímpica indiferença o olhar desconfiado das vendedoras quando você coloca na cintura aquele vestido liiiiiiiiiiindo que você viu na vitrine e que jurava por São Clodovil que servia em você... mas, qual!
"Olá, vocês tem vestidos GG?" "Temos sim, até o 42..."...
Considere, amável diário, estas duas peças...



Foi numa loja que eu vi e fiquei amiga da dona. Um vestido de couro preto lindo e um casaco de couro (ou algo semelhante). Daí te pergunto: mais do que se tem ou não pra mim, tem pra gorda? É claro que não! A culpa não é dela, e já coloquei pilha suficiente na fofa da dona da loja que se tivesse um GG digno do meu manequim 50 eu voltaria lá e seria bem tentada a comprar... mais, enfin...
(O mais engraçado foi eu perguntando para ela se eu poderia provar o tubinho de couro... ela disse que sim, e que se eu quisesse ela me ajudaria a fechar o zíper por trás. Mas aí pergunto: entrou?)
Agora vocês estão entendendo as minhas desventuras? Crossdresser, plus size, what more?

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Que Profissão? A Culpa É Das Estrelas!

Atento Diário,

Se você prestou atenção no meu último post, quando eu falei que "já quero estar vivendo como menina, na profissão que eu escolhi para viver como tal", você bem poderia questionar entre suas folhas que profissão seria esta. Pois bem, contarei agora...
Depois de anos a base de Nova, Marie Claire, Elle, Vogue e outras menos cotadas que param na minha mão, uma vontade meio que surgiu em mim: trabalhar com moda. Isso mesmo, moda. O rapazinho que ficava trancado no quarto lendo trocentas revistas de futebol em sua (pré)adolescência quer, agora, trabalhar com moda!
Mas essa guinada não se deu à toa. Tempos atrás, cogitei seriamente em ser... maquiadora!
Pois bem, agora vocês sabem, quero, e vou trabalhar, com moda. Já tenho até um nicho de mercado, mas isso é assunto para um outro post...
Pensando bem, trabalhar com moda acaba sendo meio que uma escolha natural, por ser libriana. Audrey Hepburn, aí embaixo, que o diga...

























Cá prá nós, quem me conhece sabe: já fui ou quis ser metade desta lista... 

sábado, 12 de julho de 2014

Ah, Sim, E O Motivo Do Post Retrasado...

Bem, no penúltimo post disse que iria explicar por que resolvi comprar esse tal vestido com a bandeira do Brasil. Na realidade, pelo andar da carruagem desta seleção, não via muito motivo para comprar nada do Brasil, mas, porém, todavia, contudo, me comprometi a comprar este vestido desde que... eu prometesse para mim mesma que na próxima Copa, em 2018, na Rússia (estando ou não o Brasil nela...) eu não só estaria torcendo com este vestido mas como também já estaria assumida, andando para cima e para baixo como menina. Ousado, né? Tenho quatro anos a partir de hoje para colocar isso em prática. Quando colocamos prazos com meta. fica mais difícil voltar atrás... mas o que fazer, é a vida que nos impulsiona a tanto... quando começará a Copa na Rússia mesmo? Deixe-me pesquisar... acho que ainda não tem data marcada, mas, nesta data já quero estar vivendo como menina, na profissão que eu escolhi para viver como tal. E vou assistir aos jogos do Brasil com este vestido que estou agora, ainda que seja apenas um jogo. Eu prometo!

Exceção À Regra...

Complementando mais uma vez os posts anteriores, claro que sempre existem exceções à regra. Mas nada que seja constrangedor para as crossdressers. Conto o fato, é curto.
Certa feita estive em Friburgo com uma amiga (ela vai saber quem é) e, passeando nas lojas de roupas íntimas, me encantei com uma camisola listrada, que ficava apalpando, após saber que tinha o meu número. Olhava, olhava, minha amiga com uma agonia tremenda, do tipo: "E aí, vai levar ou não?" e as vendedoras nem tchum. Acabei não levando a tal camisola, e, ao sairmos de lá, essa minha amiga, no almoço, me soltou esta frase, que compartilho com vocês agora:
- Sabe, amiga, ao ver você lá olhando a camisola, toda apaixonada, e a reação das meninas, reparei numa coisa: elas não estão preparadas para esse tipo de coisa, e acabam perdendo dinheiro com isso. Um simples "Quer provar lá dentro?" já resolveria a questão e talvez você até compraria mais delas...
Tive que concordar. Quem mandou os crossdressers serem a maçonaria LGBTTXYZ?

A Cara de Pau (ou "É Para Mim Mesmo" Parte II)

(Continuando a reflexão...)

No post anterior, comentei os medos e a insegurança que circulam a vida de uma crossdresser honesta, trabalhadora, que poderia estar roubando ou matando mas que simplesmente quer saber se a loja tem o seu tamanho daquele vestido na vitrine liiiiiiiindo de morrer e que você está doidaaaaa pra usar...
E a resposta para isso é somente uma: infle seu peito, amiga cd, respire fundo e diga "É para mim mesmo!"
Sim, eu sei que é difícil, mas solte. As reações serão as que descrevi no post anterior, nada mais nada menos. E, não se esqueça: elas querem é vender e, ao menos que você tenha um comportamento bastante pouco usual com ela, ela vai esquecer de sua fuça em pouco tempo, salvo se você voltar frequentemente à loja (e, se a procurar e ela for malandra o suficiente, vai fazer de você uma cliente vip, mas aí já não depende mais de você...)
Foi o que fiz hoje...
Apaixonada a mais ou menos uma semana por um vestido que uma colega de trabalho (que não sabe de Vanessa, bem entendido) me mostrou, fui hoje em sua loja e, surpresa, achei uma versão mais longa dele (na verdade, é uma mal disfarçada bandeira do Brasil, bandeira em formato de vestido, apropriada para épocas de Copa do Mundo, como esta agora, de tão má memória pelo seu final, digamos, inusitado). Mas eu a comprei por outro motivo (além, claro, de estar vestida com ele como estou agora em que teclo estas palavras), que contarei adiante.
E a vendedora me perguntou se era para minha mãe ou minha esposa. Refuguei (sim, não sou um exemplo - ainda - de coragem e cara de pau, mas serei um dia, talvez até mesmo amanhã...) e disse que voltaria depois à loja.
Neste meio termo, achei outra loja com dois vestidos lindos, animal print, baratinhos, além de uma bolsa que queria há tempos...nesta loja, ao ser questionada se a pessoa para quem comprava os vestidos era mais comportada ou ousada, disso aquela frase lá de cima. Reação: "Ah, sim, então leva os dois, se você gostou!" (papo de vendedor, né?)
Voltando à primeira loja, confesso após me enrabichar por outro vestido, que era para mim, mas que estava em dúvidas se daria em mim ou não. Reação da vendedora: "Você não quer provar então?" E a vergonha? "Posso?" "Claro, vem cá"...
Outro papo de vendedor...
A propósito, o segundo vestido ficou realmente apertado. Uma pena, pois era uma graça...
Moral da história: nossos medos são infundados. Reações de susto, hesitação ou surpresa são previsíveis, mas as piores reações que imaginamos não. Essas nós mesmas que criamos...

"É Para Mim Mesmo..."

Querido Diário,

Deixemos um pouco as reminescências e memórias desta crossdresser aqui e vamos usá-lo como realmente um diário deve ser usado: como um registro do que se passou no decorrer de um dia. E este dia foi hoje.
A frase que dá título a este post é uma das mais libertadoras para um crossdresser, e para podermos falar em público precisou, no meu caso, de alguns anos. E hoje, pelo menos, repeti-a duas vezes... mas antes, uma pequena reflexão...
Quando você se descobre crossdresser, ou seja lá o nome que você queira dar à aquela-estranha-mania-de-querer-usar-roupa-de-mulher, e você se depara diante de uma loja tendo na sua frente um vestido, uma lingerie ou coisa que o valha, e uma atendente solícita pergunta se gostou do modelo etc e tal, você logo se encanta e faz mil e uma perguntas (ok, sem exagero, um pouco menos) sobre o produto, tipo: tamanho, cor até que chega a pergunta crucial, com suas variações, aquele momento em que nossa cdzinha preferia que congelasse tudo, como num final de capítulo de novela de sábado para dar a resposta só na segunda-feira seguinte: 
1 - "Ela gosta de que estilo?";
2 - "Qual o tamanho dela?";
3 - "É para sua mãe ou esposa?"
(Hoje mesmo ouvi estas três frases...)
Pausa para os comerciais, ou melhor, para a reflexão...
Geralmente temos vergonha ao assumir isso. Não sei os outros, mas, pelo que vejo nos relatos, eu não estaria sozinha. Acho que o maior medo é o da pessoa a sua frente rir, caçoar de você. Até hoje, isso eu nunca vi, nas poucas vezes que repeti as quatro palavras que batizam esta postagem. O máximo que acontece, e é compreensível até, é a vendedora (acho que nunca fiz isso com um vendedor) é parar por alguns décimos de segundo na sua frente, engolir em seco e dizer: "tudo bem, quer ver algo mais?"
Outras nem ligam tanto, e até te tratam como se fosse menina desde o parto de sua mãe (essas são as melhores...): tenho uma conhecida que quando chega novidades na sua loja não hesita em me ligar (e eu em passar lá e quase sempre voltar carregada com algum vestido ou saia)...
Mas, pensemos bem, o riso seria talvez a última reação. Surpresa talvez, até pelo inusitado da situação, mas o que elas querem é vender. Por isso, estou aprendendo a perder este medo. É difícil, mas não impossível...
Mas, mesmo assim temos vergonha. Vergonha de ter o seu rosto marcado pela vendedora e no dia seguinte, se cruzarmos com ela na rua ela se lembrar de nós e cochichar com uma amiga sobre o seu segredo. E de, inconscientemente (isso seeeeeeempre acontece comigo) você se sentir desvalorizado perante aquela pessoa (que, no fundo no fundo, nunca terá importância nem papel algum em sua vida)... maaaaaassss... como vivemos de aparências, de personas que construímos para nós mesmos e pior, insistimos em acreditar, o que acontece? Sofremos.
Sim, sofremos.
Por uma ilusão.
Ou pior ainda, por medo.
Aquele estranho, indizível, inconfessável, imperscrutável medo...
De ser quem somos...
De assumir quem somos...
E pior (ou melhor): de viver quem somos...

(Nossa, como esse post está grande! Continuo na sequência!)





quinta-feira, 10 de julho de 2014

Das BFF´s

Querido Diário,

Saudoso das minhas recordações? Pois é, não deveria ficar muito tempo sem falar (ou teclar, dá no mesmo) contigo, mas...
Vamos lá então, falemos de BFF´s. Já falei anteriormente que minha senhora fez uma revolução em meu crossdressismo ao me tornar mais forte e menos encucada com o que eu sou e o que pretendo ser, certo? Pois bem, isso se deu no reduzido (como tem que ser) círculo de amizades (femininas) que Vanessa formou ao longo do tempo e acabou se consolidando nas tais best friends forever que a sigla indica.
Depois da minha senhora, não me lembro para quem contei depois. Mas, para cada uma que sabia de Vanessa, vinha sempre a mesma recomendação: "olhe, não conte pra ninguém, isso é perigoso"... mas minha língua de trapo sempre batia nos dentes, contando para gente que (feliz ou infelizmente) acabou sumindo na minha vida e de quem sequer tenho a notícia se está ou não respirando neste plano...
Ok, ok, eu sei que é perigoso, mas sabe o que acontece, caro diário? É a angustiante sensação (sem nenhum exagero) de você não ter ninguém, absolutamente ninguém para dividir os assuntos mais banais (ou mais sensacionais, dependendo do ponto de vista) da feminilidade. Ora, mas você tem sua mulher, poderiam dizer. Sim, eu tenho. Mas e as amizades, onde ficam?
Assim, ao longo destes oito anos de vida Vanessa já se revelou para antigas colegas de trabalho (algumas ainda tenho contato, e elas sabem quem são, principalmente a que considero minha inspiração, outras nunca mais tive notícias), amizades tão antigas quanto queridas (e que, conforme me confessou outro dia, não reconhece em meus escritos a pessoa que ela conheceu como homem...), e até uma queridíssima amiga de infância (que também sabe quem é, in vino veritas...).
E não são apenas as antigas amizades de quem eu me refiro. Uma das mais gratas surpresas que tive foi saber que uma das meninas que menos tempo conheço se tornou em tão pouco tempo uma das minhas melhores confidentes, a quem trato por sócia... isso sem contar na minha melhor amiga (confidente, irmãzona, a única pessoa que conheci na vida que tive a nítida sensação de dejá vu quando a vi pela primeira vez)
Ou seja, todas vocês são especiais e todas vocês me preenchem e completam de algum modo. Quisera eu ter mais amigas, mais confidentes (em especial na minha família, talvez um dia, quem sabe...)
E, como coloquei nos posts anteriores muita Céline Dion, vamos voltar à normalidade e colocar ela, minha musa, e vocês sabem quem, outra amigona minha, de pelo menos vinte anos, a quem escuto quase todo santo dia, Laura Pausini!

Ok, ok, é ela no início de carreira, a voz está bem diferente, em alguns momentos ela mais berra do que canta mas convenhamos... a música é linda, e quase me escapa aqui uma lágrima no último verso, que resume bem minha vida com algumas de vocês: "è il compagno del viaggio più grande che fai/ un'amico è qualcosa che non muore mai"... Bravissimo! (chuif!)

domingo, 6 de julho de 2014

Dos Benefícios do Casamento

Em algum trecho do Novo Testamento, Paulo, em uma de suas cartas, creio que aos Coríntios, recomenda ao seu rebanho não se casar, mas se a situação estiver sexualmente periclitante, outro meio de apagar a concuspiscência não existe: neste caso, só casando...
No meu caso também. Casei-me quando Vanessa era uma menininha de apenas quatro aninhos, no final de 2010 e, neste período, devo reconhecer que, mais do que ninguém, mais do que qualquer tratado, livro, mandinga, conselho de auto-ajuda ou coisa que o valha, minha amável, compreensiva e, vá lá, excêntrica senhora teve um papel primordial para a minha auto-estima tão combalida e combatida por sentimento de culpa por ser internamente alguma coisa diferente de mim externamente.
E, aos poucos (e quando falo aos poucos é aos pooooooucos mesmo, lenta, gradual e segura, comecei a colocar as asinhas de fora: a galinácea queria voar, bater asas, mas ainda não era tempo... mesmo assim, vivemos alguns momentos digamos, pitorescos...)
Como o daquela vez que entramos numa loja de departamentos e escolhemos dois vestidos para mim, com a conveniente e cara-de-pau desculpa de que serviria para o Carnaval (tenho eles dois ainda hoje...). Um deles, realmente, chegou a ser usado num baile de carnaval, e, quando saí do baile com ela vestida, atraindo olhares que gritavam mais "Que p... é essa" do que galanteadores assobios, pude perceber o quão monstrenga eu era àquela época. E hoje, confesso, ainda não fico muito longe disso, mas, pelo menos, acredito que sei escolher melhor minhas roupas...
Sim, também tive momentos difíceis, como uma sem-quê-nem-pra-quê crise de choro que tive ao final de uma viagem com ela em que, gozando da maravilhosa intimidade de dormir alguns dias com ela de camisola, me lamentava pelo fim da aventura...
Aqui cabe um parêntese: por pior que seja a minha situação, foram raras as vezes que tive crises quanto a isso, de querer se voltar contra Deus ou o Diabo ou quem quer que seja por esta minha situação: a responsabilidade era minha e o desejo de permanecer assim também é meu. Fecho o parêntese.
Assim, naquele final de 2010 estava me casando com aquela que, antes mesmo de mim, acreditou em primeiro lugar na Vanessa e na sua viabilidade. Se hoje tamborilo nas teclas deste computador escrevendo estas cousas, é porque devo a ela toda a coragem de me expor para toda a blogosfera, e relatar um pouco da minha atribulada, mas, confesso também, deliciosa história...
Razão pela qual evoco mais uma vez uma canção, mais uma vez de Céline Dion (Laureta que me perdoe: você sabe que você escreveu a trilha sonora da minha vida, mas existem algumas canções que sabem exprimir melhor o que sentimos do que nossas pobres palavras, e esta, com certeza, é uma delas... Listen and enjoy!)



Ainda Sobre O Post Anterior, Uma Dica De Nietzsche...

Querido Diário,

Ontem o sono não me deixou complementar minhas reflexões acerca do que eu quero e agora mais do que nunca procuro em minha vida: só mesmo um post em plena madrugada para juntar personalidades tão díspares quanto Céline Dion e Machado de Assis. Pois agora colocarei um pouco mais de tempero em minhas reflexões, falemos de Nietzsche (saúde!), aquele másculo, viril, sifilítico e insano filósofo alemão...
Não tenho paciência para pegar o livro que está a alguns centímetros acima do computador, mas peço a todos e todas aqueles e aquelas que me leem agora que pesquisem na internet, caso não tenha o livro, um dos mais belos textos do maluco de Röcken, escrito em Assim Falou Zaratustra, uma de suas obras primas. Trata-se da Parábola do Camelo, do Leão e da Criança. Escutai este meu remendado resumo e procurai o original, ainda que na língua de Camões: vale a pena e é altamente inspirador, não só para quem tem questões graves a resolver como eu...
Diz Zaratustra que na vida de um homem todos podemos passar pela fase do Camelo, do Leão e da Criança. A fase do Camelo é aquele em que somos adestrados a carregar pesos inúteis em nossas costas, vivendo mansipacificamente e sendo conduzido tal qual um cordeiro. De repente chegamos à fase do Leão, em que revoltamo-nos contra tudo e contra todos, resgatando nesta fase leonina a nossa verdadeira personalidade, para que, a partir daí, passemos a viver a fase de Criança: livre, feliz e sem culpa...
Adivinhem em que fase estamos entrando? Bingo! 
Mas pensem vocês também nesta alegoria. Em que fase da vida vocês estão vivendo?
Bjs, Nessa!

sábado, 5 de julho de 2014

Vanessa & Bentinho: Dona Casmurra?

Meu escritor preferido, há tempos, é o bom e velho Joaquim Maria Machado de Assis, cuja obra orgulhosamente posso dizer que li tudo, ou quase tudo (pelo menos a coleção lançada pela Editora Globo, 31 volumes que comprei por módicos R$ 200,00 alguns anos atrás). E meu livro preferido sempre foi Dom Casmurro. E, agora, relatando tudo isso aqui neste blog-disfarçado-de-diário-me-engana-que-eu-gosto, lembro-me de um desejo do velho Bentinho logo no início do livro, quando ele desistiu provisoriamente de escrever sua História dos Subúrbios para escrever suas memórias que, afinal, é a própria obra Dom Casmurro.
Dizia ele que ao escrever suas memórias, desejava atar as duas pontas da sua vida numa só. E descobri que, guardadas as devidas proporções, também quero isso com este blog.
Explico: minha senhora não é nenhuma Capitu e não conheço nenhum potencial Escobar que possa me dar algum Santiago. Mas, entendam-me: um dia quero atar as duas pontas da minha vida neste blog, ou seja, dizer escancaradamente quem sou (meu nome civil, tudo bonitinho, preto no branco), dizer das coisas que gosto e amo além das vanessa´s things e dizer que estes dois lados são plenamente compatíveis entre si, ou seja, me mostrar como sou, sem cortes, sem censura.
Por ora acredito que ainda seja prematuro, e minhas poucas amigas que acompanham o meu cotidiano sabem bem disso. Mas esse dia chegará e assumirei minha personalidade feminina da forma mais natural e menos afetada possível (odeio isso!). É mais ou menos como Céline Dion cantaria aqui:


A Construção (Bem-Acabada) De Uma Personagem

Como os mais atentos leitores podem aferir, dedico-me agora a postar as influências femininas na construção da minha personalidade feminina: Laura Pausini, Nova, revistas femininas em geral, comédias românticas (posso listar vááááárias aqui...) e a qual conclusão chegamos?
Concluo da seguinte forma: hoje, se por algum aborto da natureza (embora os mais ortodoxos possam entender que a Vanessa em si já seria uma destas aberrações), eu resolvesse desistir pra todo o sempre de Vanessa eu teria que me reinventar por completo. Sim, pois deixaria de escutar LP como sempre escuto, de ler a Nova como sempre leio, de ver filmes-românticos-água-com-açúcar o tempo todo (e isso sem falar do único seriado que acompanhei regularmente, o também mulherzinha "Gilmore Girls", a.k.a. no Brasil como "Tal Mãe Tal Filha", passava às vezes no Boomerang e no SBT, segundo consta). E isso sem contar no abandono sumário da minha incipiente coleção de camisolas e outras peças femininas de menor cotação, como vestidos, saias, etc. E a reconstrução de uma personalidade a essa altura do campeonato convenhamos, é gigantesca...
Considere, amável diário, o seguinte: eu criei uma personagem (Vanessa) e depois um mundo ao redor dela para que não se sentisse estranha ou deslocada em sua feminilidade. Destruir isso significaria para mim simplesmente uma bem sucedida castração do que eu sinto e vivo até hoje, uma mal-disfarçada lavagem cerebral para agradar uma sociedade ou meia dúzia de pessoas cuja opinião efetivamente não levaria em conta e vice-versa. E, principalmente, soaria falso para mim e para com Aquele que me criou, ainda que desta maneira e que desejou que minha cruz fosse exatamente esta: cruz não no sentido de sacrifício ou fardo, mas de missão de me entender por qual causa, razão, motivo ou circunstância (feat. Professor Girafales) eu vim a este mundo como CD. Como mui acertadamente cantou Caetano, cada um sabe a dor e a delícia de ser como é...
Esta é, em suma, a razão pela qual nunca quis destruir o castelo da Princesa Vanessa: em nome da minha individualidade. Abro e abri mão de muitas coisas nesta vida, mas disto não. Eu perderia a minha alma e teria o caos em troca.
E é nessas horas que esta música do Pato Fu sempre me lembra que eu tomei a decisão certa:


Da Revista NOVA

Ou Cosmopolitan, tanto faz... na realidade, gosto de outras revistas femininas, mas esta sempre foi minha revista preferida. Já postei aqui anteriormente minha eterna dívida com a Marie Claire, por me esclarecer o que vinha a ser crossdresser, mas acontece que a Nova sempre foi minha companheira...
Sou assinante há um bom tempo, desde quando namorava ainda. Quantos fins de semana íamos eu e minha senhora comer um prosaico podrão (também conhecido pelo nome mais palatável de X-Tudo com a Nova debaixo do braço, carinhosamente chamada de "material de estudo", em virtude de suas educativas dicas sobre sexo, o carro forte da revista (aliás, soube que tempos atrás queriam fazer da Nova uma espécie de Playboy feminina, ou seja, apresentar nus masculinos, mas a ideia não foi pra frente).
Sou leitora desde os tempos da Cinthia Greyner (acho que era assim que se escreve) como Editora, passando pela Monica Gailewitch e seus incontroláveis usos de estrangeirismos em seus editorais, e agora sob a batuta de Monica Kato (pra vocês verem que eu realmente decoro cada detalhe da revista...).
A.V. (antes de Vanessa) eu gostava de ler muito uma revista especializada sobre futebol. Depois de adulta e devidamente crossdresserizada escolhi a Nova como minha companheira de jornada, por incrível que pareça mais pelas dicas sobre trabalho e auto-estima do que pelo sexo em si, apesar de ser um "material de estudo" bastante proveitoso. Eu, pelo menos, recomendo...

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Laura Pausini

Se um dia eu for famosa o suficiente para ser objeto de uma biografia, estudo ou coisa que o valha, qualquer biografia, estudo ou coisa que o valha será incompleto sem uma análise profunda do que esta italiana fez na minha vida, a.V e d.V (antes e depois de Vanessa), Laura Pausini.
Sim, querido Diário, eu adoro esta mulher, que completou este ano 20 anos de carreira, e posso orgulhosamente dizer que acompanhei cada um destes anos. E ouso dizer mais, a voz dela - e isso pode parecer profundamente piegas - é a voz da minha alma.
Como todo adolescente confuso com sua própria sexualidade, me questionei muito sobre se deveria gostar ou não dela, ou confessar para todo o mundo o que eu gostava. Mas, como diria mesmo uma de suas canções, I raise my hands and I surrender...
Eu poderia citar mil e uma razões pelas quais sou apaixonada por ela, várias letras de músicas, inúmeros momentos em que ela me ajudou na minha vida, mas prefiro lembrar, para início de conversa, o dia 4 de outubro de 2009, dia do único show (até o momento) em que assisti dela e que, não sei qual a razão, Vanessa baixou em mim de modo tão forte que fui assistir ao show maquiada (!) e de bolsa (!!). Por pouco (coisa que até hoje me arrependo) não me vesti por inteiro de menina para assistir. Mas, mesmo com esse arremedo de vanessismo, naquele dia, naquele exato dia, descobri, como fala nesta outra canção, que eu deveria desistir de lutar contra o óbvio: È inutile che ormai ti ostine a dire no, negando un fatto ovvvio... sim, ela era o som da minha alma, como disse acima, e minha alma é feminina. Sem mais, meritíssimo!

E Viveram Felizes Para Sempre?

Querido Diário,

Até o presente momento resumi o que foi minha vida até o nascimento e oficialização de Vanessa, de como uma vontade nebulosa de ser menina ganhou nome (crossdresser) e identidade (Vanessa), o que não significa, de modo algum, que o que se seguiu depois foi um mar de rosas, longe disso. Continuei, sim, compartilhando meu modo de viver e minhas fantasias com minha namorada, que tempos depois virou noiva e posteriormente esposa. Ganhei coragem para outros voos, contar o que sentia para outras pessoas que reputava ser de confiança, gente que, agora, refletindo, talvez não seria nem bom que soubesse desta história, mas, tanto faz, o caldo já foi entornado mesmo.
Ganhei BFF´s ao longo deste percurso, que, obviamente, se resumem a menos que os dedos de uma das mãos, mesmo assim, devem ser para a vida eterna e até o momento efêmera de Vanessa. Caso elas concordem (e estiverem lendo este diário, obviamente) falarei delas, ainda que seja adotando pseudônimos.
Não gosto deste expediente, e este Diário, seguindo o seu trâmite normal, vai acabar revelando quem sou, nome e sobrenome. Como disse uma das minhas BFF´s, escrever aqui é bom para aliviar. Mas não é só para isso, e ela bem sabe a razão...
Até agora contei meu passado. Agora, querido Diário, você saberá do que gosto e depois saberá do meu futuro. Quem viver e me acompanhar verá...

quinta-feira, 3 de julho de 2014

O Batismo!

Até então nos meus devaneios femininos nunca tinha pensado a sério num nome, mas, se fosse para usar algum, gostava de Aline. Não me perguntem a razão: acho delicado e simples. Mas, no feriado de Corpus Christi de 206, acredito que uma semana após ter me dado a louca de contar tudo à minha namorada, eis que nos encontramos novamente, e desta vez combinamos que levaríamos nossas próprias camisolas (o que, no meu caso, me fez comprar uma, da cor vermelha, atendendo a seu pedido).
Quando nos encontramos, pedi para fazermos um pequeno ritual: que uma vestisse a outra. Dito e feito, estava excitadíssima e feliz, muito feliz...
Aí, a uma certa altura da noite, perguntamos sobre como seria meu nome. Disse que gostava de Aline. Ela rejeitou, e começou a sugerir alguns nomes, e falou o de Vanessa. Gostei no ato. Dali em diante, nascia Vanessa. O Jones surgiu por causa da Bridget Jones, personagem com a qual me identificava...
Hoje em dia penso seriamente em abandonar esse Jones, inclusive ao escrever este blog. Mas, na hora, tive pena de deixar o Jones, q há quase 10 anos me acompanha. É que, na realidade, não gosto muito destes nomes espalhafatosos, típicos de drags e travestis, e o Jones não deixaria de ser assim.
Entretanto, um dia tiro o Jones e coloco o meu sobrenome verdadeiro...

11 de Junho de 2006

Convencionalmente atribuo a data de 11 de junho ao meu aniversário, ao que passo agora a explicar: em 2006 fui ao casamento de minha melhor amiga (não, não é título de filme!), acompanhada de minha namorada à época, uma pequena que cortejei durante uns 3 meses para mudar meu informal estado civil e que, àquela altura, contávamos já com incipientes seis meses de namoro...
Conforme o combinado, como o casamento era longe de nossas casas, topamos passar a noite fora, após o casório. E Vanessa nasceu ali.
Minha namorada portava uma camisola despretensiosamente sexy, pretinha, e em uma certa altura a tirou. Fiquei magnetizada por aquele pedaço de pano preto sedoso e - não me perguntem como - fiquei sondando ela dizendo:
- Se você tirar sou bem capaz de usar...
Ela riu, achando q era brincadeira, só que não... espantada com minha pergunta, perguntou se era verdade aquilo mesmo. Disse que sim, e ela, ainda espantada, assentiu:
- Tudo bem, coloca pra eu ver...
Coloquei, e, confesso, foi um dos melhores e mais libertadores dias da minha vida, ainda que estivesse - reconheço - correndo um grande risco de ser largada ali mesmo. Só que não, parte II...
Ela agiu com naturalidade, mas me perguntando sobre o que vinha a ser isso. Falei tudo o que sabia sobre o assunto até o momento (inclusive, e principalmente, a reportagem da Marie Claire), sendo, que, ao final, ainda escutei dela a seguinte pérola:
- Obrigada por confiar em mim...
Mal sabia ela que quem deveria ser eternamente grata era eu...

E As Namoradas?

"E as namoradas, como vão?", sempre me perguntavam os inocentes... realmente, essa era uma pergunta muito percuciente: como é que eu, sempre a fim de me enfiar numa camisola, poderia sonhar em ter uma mulher que sequer desconfiasse deste meu, digamos, excêntrico hábito?
Sem problemas, arrumei algumas. E nenhuma delas, salvo uma, me fez ter a vontade de dividir o que eu sentia ab imo pectoris, no fundo do peito. Essa uma o tempo e algumas brigas se encarregaram de separar. E, o que era para ser uma muda desesperança se modificou a partir de um casamento...