sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Vontades...

Voluntarioso Diário,

Tudo bem? Após uma semana meio melancólica, eis-me aqui, de frente para você, tamborilando no teclado coisas do meu coração, ao melhor estilo tribalistas...
Foi uma semana chata, sabia? Uma semana em que pude comprovar pela primeira vez os limites do que seria ou não razoável para mim. E o que vi (e senti) foi um tanto quanto chato, por dois motivos: primeiro, por ser em parte verdade; segundo, por não ter como mudar isso, pelo menos a curto prazo.
Enigmática, eu? Já já você vai entender, Diário. E vai saber também porque fiquei tão pra baixo estes dias...
A razão é simples: após razoáveis bem-sucedidas missões de "andar-vestida-na-rua-sem-ninguém-para-perturbar" em Friburgo e outros lugares (claro, descontando-se um pouco o tédio da semana passada), passei a achar que: 1 - isso é possível em todo lugar; e 2 - isso é o que eu quero para mim, sempre e em maior quantidade.
Desejo legítimo e justo, certo? Errado. E você saberá a razão...
Esta semana uma amiga minha (a Administradora, batizo-a agora por dois motivos: primeiro, ela é a administradora do grupo do uatizapi criado em minha modesta homenagem; segundo: ela é administradora formada mesmo...) me convidou para uma festinha do aniversário da filha dela, de um ano. Brinquei com ela, dizendo que iria "de Jones". Depois, comecei a ponderar, sem ter nada de mais útil na minha cabeça, que, como diriam os nossos vizinhos latinos, "si, se puede", ou seja, "sim, isso se pode"... e, no dia seguinte ao convite, fiz a proposta, imaginando que ela iria comprar a ideia amarradona etc e tal.
Bem, comprar a ideia até ela comprou, mas fez ressalvas quanto a algumas críticas que poderia vir a sofrer. Fui pedir uma segunda opinião, que reforçou a posição anterior, acrescentando alguns elementos: era um evento que seria frequentado por pessoas conservadoras, que iriam me lançar olhares preconceituosos...
Na hora desisti, pedi desculpas a ambas e arquivei a ideia. Só não imaginava que isso me deixaria tão mal pro resto da semana.
Se elas ou alguém que as conheça estiver lendo isso agora, avise-as: não estou chateada, de maneira alguma, com elas. Estou chateada comigo mesma, em achar que uma situação destas seria tratada de uma maneira tão tranquila, quando, na verdade, não é...
Sinceramente, devo estar passando por aquela fase em que toda crossdresser, ou candidata a trans, como eu, quer se rebelar contra o mundo e usar aquilo que lhe der na telha. No meu caso, ou um vestidão comprido, ou uma combinação blusa + legging + bota (o que, confesso. poderia não ser a melhor escolha para um aniversário de criança...). E quando sabe que não pode usar, sofre.
Sofre e se acha um pária social. É quando dá vontade de desistir, jogar tudo para o alto e dizer: "bom, acabou a brincadeira, né? Vamos parar com criancices e voltar à vida real?" E, quando você sabe, no fundo no fundo, que sua criancice é coisa séria, você sofre. Porque simplesmente não consegue mais viver sem isso. Você vira, me perdoem a expressão um tanto quanto chocante, um amputado social. É como se lhe arrancassem uma parte importante de você, que não é física, mas emocional, que seria a sua expressividade e mesmo a sua individualidade, ou seja, a maneira pela qual você se identifica no mundo e para o mundo. E quando isso ocorre, você vê praticamente todas as pessoas vivendo como querem e você se pergunta: "Por que isso também não pode ocorrer comigo?"
Diário, acredite: eu me fiz estas perguntas durante a semana e não consegui uma resposta. Porque minha voz embargou. Porque sabia que, se continuasse, me arriscaria seriamente a cair na vala comum da autopiedade, o que, aliás, estou perigosamente incorrendo ao escrever este post. Mas, na verdade, embora pareça que eu queira me fazer de coitadinha perante uma sociedade preconceituosa, etc e tal (ideologia a qual não concordo plenamente, mas isso é matéria para um próximo post), deixo registrado isso para provar a quem tenha a boa vontade de entender uma mente de uma crossdresser que tudo o que sentimos, parafraseando os movimentos de junho do ano passado,. "não são apenas por vinte centavos de sexo". São também - e principalmente - pela liberdade de querer ser quem você realmente é, por mais bizarro que possa ser. De querer ser, como assinalei no post passado, a mulher barbada do circo, a grande atração involuntária da festa. E de se sentir incrivel e estupidamente feliz por isso...

PS:   Por favor. entendam este post apenas como um desabafo e não uma tentativa desesperada de forçar uma situação de ir para a festa, que será ainda em dezembro, de Vanessa. Afinal de contas, nem sei se vou ainda. Só tomei esta situação como exemplo, dentre tantos outros, de momentos em que simplesmente não podemos ser nós mesmas. E são nestes momentos em que paro de querer sofrer por tanto mimimi e apelo logo para Rocky Balboa, neste que é dos melhores levanta-ânimos que conheço, e me ponho de pé de novo, ainda que tonta, ainda que nas cordas. Mas ainda viva e com disposição para lutar... até o fim...


Próximo round. por favor!

domingo, 21 de setembro de 2014

Friburgo II: A Missão (ou Mais do Mesmo)

Diário,

Voltei hoje de Friburgo. E, diferentemente do mágico primeiro fim de semana de agosto, muito embora tenha reservado o dia do sábado inteirinho sem nenhum compromisso (desta vez, sorry Adaptada e Sócia, eu não vi nada de lingeries, roupas íntimas, seja para cds, seja para plus size, seja para cds plus size, como eu), e muito embora tenha mais uma vez me assemelhado à Becky Bloom quanto aos meus desenfreados hábitos consumistas (embora, juro, foram verdadeiras pechinchas perto do que tenho encontrado aqui debaixo da Serra...), mesmo assim...
Mesmo assim não deu liga. Fiquei com um vazio. E me esmerei em repetir a fórmula daquele fim de semana: separei roupinhas, fiz a exposição da minha figura (#clonefeelings) na cidade, mais uma vez me senti a Gisele Bündchen às avessas (todo mundo olhando para mim com espanto...) e, mesmo assim...
Achei um tubinho muito parecido com o que encontrei em agosto, passeei a noite no mesmo horário, fiquei na mesma pousada que fiquei antes (e fiz amizade com a simpatíssima dona de lá) encontrei a mesma vendedora que me atendeu àquela ocasião, em outra loja a mesma menina que ficou me encarando, as mesmas pessoas, mesmo assim...
Mesmo assim ficou um vazio. A alegria meio que deu lugar a uma forma estranha de tédio, um tédio que insiste em dizer para mim mais ou menos o seguinte: "Ok, Nessinha, tá tudo muito bom, tá tudo muito bem, mas você sabe muito bem que andar para lá e para cá vestida de menina não vai te trazer nada de útil ou de concreto. Você não tem nenhuma amizade por aqui, dentre os poucos conhecidos muitos você vai fazer questão de se esconder, enfim... se sua vinda pra cá ser só baseada nesta oca tentativa de autoafirmação e daqueles velhos papos de 'ah, aqui eu posso ser feliz' etc e tal, sinto muito, amiguinha... the game is over. Ou você faça algo diferente da próxima vez para valer sua estadia ou suas vindas para cá serão tão insuportáveis que, no futuro, a simples menção de Friburgo te causará um enfado tão grande que você se perguntará porque cargas d´água naquele final de semana de agosto você ficou tão emocionada, a troco de nada."
Meu tédio foi realmente cruel. E, confesso, não foi por falta de vestidos, ou de andar com eles. Foi por falta mesmo de saber o que fazer com eles no futuro. Terei de resolver isso logo, sob pena de, no futuro,  Friburgo se tornar, afinal, para mim, o maior palco que eu possa escolher para esta certa espécie de fetichismo oco, estéril e, talvez por isso mesmo, gerador de mais e mais dor para alguém que não quer mais suportá-lo.
Como li no feicibuqui outro dia, se as palavras não conseguem expressar nossos sentimentos, a música consegue. Assim, vamos de Biquiní Cavadão, e não será com a já batida e óbvia, pelo menos para este post, "Tédio", e sim, "Meu Reino":


Ah, sim, como não achei uma versão legendada, leiam a letra, sendo que a última estrofe não tem nesta versão...

"Atrás da porta
Guardo os meus sapatos
Na gaveta do armário
Coloco minhas roupas
Na estante da sala
Vejo muitos livros
E a geladeira conserva o sabor das
refeições

Minha casa é meu reino
mas 

eu
 preciso de outros sapatos

De outras roupas, outros temperos
Para formar minhas ideias e meus sentimentos
Eu sou a soma de tudo que vejo

E minha casa é um espelho
Onde a noite eu me deito e sonho 

com
 as coisas mais
loucas

Sem saber porque
É porque trago tudo de fora
Violência e dúvida, dinheiro e fé

Trago a imagem de todas as ruas por onde passo
E de alguém que nem sei quem é
E que provavelmente eu não vou mais ver
Mas mesmo assim ela sorriu pra mim

Ela sorriu e ficou na minha casa que é meu reino
É porque trago tudo de fora
E minha casa é um espelho
Trago a imagem de todas as ruas

Eu sou a soma de tudo que vejo
mas mesmo assim, ela sorriu pra mim
Sorriu e ficou na minha casa que é meu reino

Que a razão não diga nada
Os sonhos sempre foram minha fuga
Lembranças perdidas sem sentido
Mas juntas pra mim parecem musica"



PS1: Minha bota está menos madrasta com meus dedos, muito embora ainda doa...

PS2: A quem interessar possa, na nublada Friburgo deste fim de semana fez 14 graus, ao contrário da gélida cidade no início de agosto, com seus míseros 8 graus.

PS3: Desta vez, no passeio de noite, não teve Sandy nem Mayara nem ninguém. Só eu, eu mesmo, e Vanessa (#jimcarreyfeelings)



domingo, 14 de setembro de 2014

Mais Um Comentário Para Este Blog...

E eis que hoje de manhã recebo o amável comentário de uma amiga cd ao meu post "Apenas Isso"... achei bem interessante e gostaria de compartilhar com vocês. Vocês devem se lembrar, trata-se até do post mais lido deste blog até o momento, em que eu inadvertidamente tirei uma foto de uma vizinha quando estava indo trabalhar e desabafando, dizendo que no fundo tudo o que eu queria desta vida era viver apenas daquela forma... enfim, procurem nos arquivos e vocês acham... voltando, essa minha nova amiga assim postou:

"Querida Vanessa Jones, todas as cd´s, e eu me incluo tbm, queremos isso, poder sair produzidas pelas ruas sem se preocupar agressões verbais ou físicas dos 'machões'. Sermos bem recebidas nos lugares aonde vamos"

Você vê, querido Diário, que, como cantaria Laura Pausini, isso tudo o que eu vivo não é apenas uma mera fantasia minha ou devaneio. Todas nós temos estes sonhos, algo tão comum, tão banal, tão comezinho... e olha que nos posts sequer tratei das tais "agressões verbais ou físicas dos 'machões'"... é como comentei certo dia com uma outra amiga minha, ao comentar sobre uma colega de trabalho que estava vestida como eu gostaria de estar, e que agora reproduzo para você: minha questão pode parecer brincadeira, levo isso numa boa, na esportiva, mas lá dentro, no fundo no fundo, eu sofro horrores por isso... e. assim como eu, essa minha amiga e várias outras pessoas devem sofrer. E, no meu caso pelo menos, o sofrimento começa cedo pela manhã, ao sair na rua e ver meninas e senhoras vestidas como eu queria estar, usando saias, vestidos, bolsas, se maquiando para ir ao trabalho, enfim... vivendo, como tristemente versejaria Manoel Bandeira em Pneumotórax, "a vida inteira que podia ter sido e que não foi"... é... só nos resta agora dançar um tango argentino!
Falando em poesia, certo mesmo está o poetinha Vinícius de Moraes ao também versejar em "O Dia da Criação" (uma das minhas poesias favoritas do meu poeta favorito), ao cantar que "há a sensação angustiante (porque hoje é sábado) de uma mulher dentro de um homem"...
É... no fundo é triste, bem triste... esforçarmo-nos por ser quem somos, como diria Nietzsche (saúde!)... mas, se são estes os limões que a vida nos dá, resta-nos a nós o consolo de uma doce limonada... desde que saibamos a nobre arte de espremer os limões da nossa vida...


"...cantando eu mando a tristeza embora..."



Eu Tive Um Sonho...

... e vou te contar... não, onírico Diário, eu não me atirava do oitavo andar, como a Paula Toller... na verdade, o sonho ocorreu de anteontem para ontem, de sexta para sábado, e eu esqueci, empolgada que estava com minhas duas aquisições, de contar para você meu sonho... que na realidade pouco me lembro (sabe como é, sonhos costumam ser, além de invenções ou mensagens ou recados do inconsciente, algo muito, mas muito louco... mesmo assim...)
Na verdade lembro-me de apenas um trecho dele, e neste trecho eu estava calçando uma sandália feminina, de tiras, toda dourada. Agora, alguém aí chegado a bancar o José do Egito pode adivinhar o significado deste sonho? Eu amarrando uma sandália dourada? Seria algo do tipo você estaria se preparando para uma fase dourada na sua vida? Está começando pelo alicerce (pelos pés)? Sinceramente, não sei e sequer desconfio... Quem tiver alguma sugestão ou palpite, por favor, avise, via feicibuqui ou comentário neste blog para esta onírica e dourada blogueira...

sábado, 13 de setembro de 2014

Vesti Azul...

Azulado Diário,

Não, não virei gremista (urgh), cruzeirense ou coisa do gênero. O título deste post é justamente em homenagem a minha mais nova aquisição, um vestido azul comprido (pra variar...) estilo três marias (três franzidos) tamanho GG que entrou melhor em mim do que o multicolorido de ontem. Tem um ar meio riponga, ou como falam os muderninhus de hoje, boho... como estou querendo me enamorar deste estilo, a introdução foi boa... sem contar que estou conhecendo e testemunhando a veracidade de outra lenda urbana: a de que a palavra "liquidação" é tão orgástica aos ouvidos femininos quanto "chocolate"... explico: o vestido custava R$ 45,00, mas hoje, na promoção, estava por modestos R$ 28,00... em suma, aproveitei a oportunidade...como, aliás, deve fazer toda mulher, ou quase todas, eu acho...
Bom, o post era curtinho, para homenagear o vestido. A musiquinha não tem nada muito a ver, mas vale pela homenagem ao artista e a coincidência da cor... ladies and gentleman, Wilson Simonal e um desfile de belos trajes nesta cor (ai ai...)




Concluindo a Questão de Gênero...

Diário,

Apenas para encerrar a questão da Orientação de Gênero X Orientação Sexual, quero postar aqui com satisfação que consegui me fazer entender pela minha amiga... trocamos algumas impressões hoje via uatizapi e devo apenas compreender que este brave new world que se aproxima dela ainda lhe seria de difícil entendimento, justamente pelo fato de que ela nunca tinha visto isso antes. Então, eu, na qualidade de saci pererê ou da loira do banheiro, ou de qualquer outra lenda, rural ou urbana, dou as boas vindas a minha amiga a essa tal diversidade sexual...
Outro ponto que queria salientar aqui é o seguinte: estava eu refestelada na tarde de sábado iniciando a leitura de mais um livro, intitulado "O Mercado GLS", de autoria de Franco Reinaudo e Laura Bacellar (ambos homossexuais) e de repente deparei-me com um trecho que resumiu bem o que levei parágrafos e mais parágrafos para explicar a minha amiga, na página 23 (desta vez perdi a preguiça de transcrever o livro...):

"(...) mas o importante para nós aqui é saber o seguinte: a orientação sexual não acompanha as variações de identidade de gênero.
A pessoa pode ser crossdresser  e heterossexual, pode ser um travesti bissexual, pode ser um transexual homossexual ou outra combinação qualquer à sua escolha. Parece complicado, mas há, por exemplo, o caso de um homem que fez todo o difícil percurso de ser operado e se transformar em mulher, para depois se descobrir atraída por uma mulher. Ou seja, ela se tornou lésbica!
Conclusão: transgêneros podem ser hétero, bi ou homossexuais"

Agora, no mesmo livro, tem um fato que de repente essa minha amiga pode discordar: os autores garantem que no universo homossexual existem somente uns 3% da população que tem trejeitos do outro sexo, ou seja, no popular, desmunhecam. Eu não reduziria tanto este número, mas que acredito que existem sim, uma grande variedade de homossexuais, de todos os matizes, que, também no popular, não dão pinta...
Mas o que interessa é que acabei prestando um serviço de utilidade pública, não só a minha amiga, mas como também a quem interessar possa e deva estar se perguntando que diabos um crossdresser quer da vida em termos sexuais, ao que respondo: depende. Depende do que ele quiser...

PS: Estou chegando na metade do livro e recomendo fortemente sua leitura. Custa módicos cinco reais numa barraquinha da feira de livros que está no Largo da Carioca, onde o adquiri... a primeira parte, em que ele traça um histórico e uma descrição desta fauna e flora, é excelente...

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Finalmente, A Coragem!

Corajoso Diário...

Repito agora a pergunta do post anterior: o que me faltaria para sair do stand com meu vestido enfiado no meu corpo.
Eu te respondo: coragem.
Justamente o que o povo mais comenta que eu tenho.
Coragem.
Uma vez, instada por um professor de filosofia que fez uma proposta para colocarmos num papel quem somos ou seríamos, encontrei três qualidades que me marcavam acima de qualquer coisa:
Eu era uma boa pessoa.
Eu era uma covarde.
E eu gostava de ser menina.
Bondade, covardia e querer ser menina. A última das "qualidades" nem sequer deveria ser chamada assim, mas era uma das marcas determinantes da minha personalidade.
As duas primeiras características outro dia foram resumidas perfeitamente por um colega meu (que sequer desconfia de Vanessa) ao me qualificar como "um covarde de boa alma".
Uma covarde de boa alma. Essa sou eu.
Então, o que me faz buscar sair na rua de vestido, de legging, andando para lá e para cá? Somente o sentimento de completude, confundido amiúde com a liberdade?
Por "coragem" eu trocaria por "desespero". Mas, mesmo assim, o termo ainda soa incorreto. Como posso estar sem esperança se agora tudo parece estar conspirando a favor de Vanessa?
Talvez deva ser coragem mesmo. A coragem que não existia em mim e que começo a cavucar no subsolo de minha alma de maneira enlouquecida.
A coragem de seguir minha vida.
A coragem que me faz ficar no ponto de um ônibus vendo todos olhando esquisito para mim e mesmo assim resignar-me olimpicamente por trás dos meus óculos escuros.
A coragem em criar anticorpos (ainda em breve falarei sobre este tema) que me faz ver que, por trás do medo que as pessoas me vejam assim existe um lado sensato que diz: "keep calm, eles não têm poder nenhum contra você, a não ser aquele que você mesmo dá a eles"
E, se você não dá este poder, eles somem, porque você os ignora.
Eles podem falar, mas não podem te atingir.
Eles podem rir, mas suas zombarias não chegarão aos teus tímpanos.
(Talvez este seja o significado profundo do Salmo 91: dez mil cairão de um lado, outros tantos de outro, mas tu não serás atingido, porque, deixe-me adivinhar, o Senhor estará contigo - e Deus é um Deus dos valentes, e não dos covardes, já dizia Paul Rabbit, ou Paulo Coelho para os lusófonos)
Mesmo que eles te conheçam, de vista e de chapéu, pegando emprestado uma citação logo no início de Dom Casmurro, eles não têm este poder sobre você.
Só o que eu lhes confiro. Por pura covardia.
Ok, filosofo inutilmente agora às 2:08 da manhã sabendo que a covardia voltará amanhã, bela e formosa, fazendo afagos na minha cabeça e dizendo: "ei, você não pode fazer tudo o que quer"
E a idiota aqui vai acreditar. Ainda.
Mas não por muito tempo.
E sabem por quê?
Porque estou descobrindo seus truques, suas artimanhas. Que cada dia perdem mais força, concomitantemente com a coragem que vou descobrindo dentro de mim.
E vejo que todos os seus truques nada mais são que... meros espantalhos da minha alma...
Sim, agora vejo que estava errada quando fiz minha avaliação. A liberdade não pode ser liberdade, e sim completude, mas a coragem, esta sim. é coragem mesmo, ainda que recém descoberta, ainda que em doses mínimas (mas com a promessa de aumentar cada vez mais...)
Encerro este post com mais uma música, mais uma vez de Lauretta. Na verdade, uma de suas primeiras músicas, que escutei pela primeira vez ainda em espanhol, e que me fez ter a sensação de que "opa, o que esta ragazza canta deve ser levado em consideração. É uma pena não achar a tradução em português...


Ah, achei a tradução!

A Coragem Que Não Existe 

Existem dias nos quais a vida é cheia de porquês
A esperança cansa até resolver seus problemas
Você perde a fé no amor, nas pessoas e pensa que
É impossível sofrer mais que você

E têm dias nos quais você se joga no mundo para
Não sentir o medo de uma coragem que não existe
E se sente tão só a ponto de não poder mais
Sem força para lutar, espera

Uma saída, um amanhã que
Cure a ferida fechada dentro de você
Se a procurar, encontrará a coragem que não existe

E quando você erra não importa, se reprovará
Será sempre uma porta, um obstáculo para nós
Aquele que conta de verdade é não renunciar nunca
Porque talvez está a só um passo

Uma saída, um amanhã que
Dê uma outra vida para todos, inclusive para você
Se você acreditar, encontrará a coragem que não existe

Para todos aqueles que não a têm mais
Para quem a perdeu e a está procurando
E para quem está mal como você estava
Mas que ainda espera até que depois será

(coro)

Uma saída, um amanhã que

Dê uma outra vida para todos, inclusive para você
Uma estrada que não se perda na dor

(coro)

Não se deixe ir perdida dentro de você

Aquela saída, o amanhã que
Você reencontrará dentro aquela coragem que agora existe


Introdução à Coragem

Sei que estou devendo há pelo menos dois posts o tema da coragem, para ser lido conjuntamente com a liberdade que falei anteriormente, Interrompi a sequência para atender minha amiga em suas dúvidas altamente percucientes sobre cds, trans, travestis e orientações de gênero e sexuais. Agora vamos falar da tal da coragem, mas introduzindo o assunto com algo que me ocorreu hoje mesmo e que vai servir de desenvolvimento para o próximo post...
Esta semana, em especial ontem, fiquei agoniada por conta de um vestido que vi retornando para casa, numa feirinha no Centro. Ele é a versão, em vestido, de uma saia colorida que comprei em Friburgo, cujas cores achei tão alegres (listras horizontais em preto, amarelo e coral) que fiquei com ele na cabeça ontem o dia inteirinho...).
Na verdade, pretendia gastar em Friburgo, especificamente em leggings e talvez em algum vestido riponga (da série "nunca diga nunca", justo eu, que abominava vestidos hippies...), mas vi nesta feira dois vestidos que me encantavam, mas, como estava sem dinheiro, ia e voltava, namorava e voltava...
Hoje tomei coragem e fui atrás dos dois, custe o que custar (nem que fizesse empréstimo no banco eu levaria os dois de qualquer maneira...). Fui na primeira barraca ver um vestido (que combinaria lindamente com minha legging, ai ai) preto com estampas, fiquei sem jeito para pegar o mesmo, até que fui convidada para provar, se quisesse (acho que no fundo a vendedora não acreditou neste papo de que seria para minha senhora...). Provei e minha barriga logo tratou de me mostrar a cruel realidade dos fatos: a barriga ficou muito saliente...
Sobrou o vestido dos meus sonhos: fui no stand ao lado (depois de ziguezaguear pela feira) ao que fui atendida pela senhorinha que me convenceu a todo custo que a malha estica e que ficaria bem no corpo da minha senhora. Mas o argumento fatal foi ela querer parcelar em duas vezes no cartão o que ela até ontem parcelaria somente em uma ("mas, como o homem não está aí, eu faço pra você..."). Quando estava quase comprando, finalmente soltei que era pra mim e perguntei se poderia provar. Entrei no provador minúsculo e minha barriga novamente quis dar uma de desmancha-prazeres, mas a elasticidade da malha me garantia: pode comprar, patroa, que eu seguro as pontas aqui...).
Comprei, enfim, o vestido.
E descobri que a tal loja vende... roupas ripongas...
Fica a dica para a próxima compra. Tornei-me amiga da senhorinha (que vestia um longo também, dizendo que adorava eles - desta vez a máxima "casa de ferreiro espeto de pau" não se confirmou), e comentava com ela que gostava de longos e leggings também, e que me sinto bem de usar etc e tal mas que não usava muito por aqui e sim em outros lugares, ao que ela fez um muxoxo e disse: "ah, besteira..." Inquirida por mim sobre o que seria a tal besteira, ela respondeu: "ah, você deve se vestir do jeito que você quiser..."
Na hora, confesso, achei que fosse um delírio libertário dela. Mas parei para pensar quando já estava no ônibus, voltando pra casa, feliz com meu vestido (devidamente em meu corpo desde depois do banho que tomei, ao invés de colocar minha já tradicional camisolinha...). Aliás, estou escrevendo estes posts de hoje com ele e, devo admitir que ele ficou um pouco apertado, inclusive com uma indiscreta saliência revelando o Sr, Pinto (se ele fosse uma coisinha só maior estaria melhor, mas amei ele assim mesmo: compro um modelador ou escondo ele e saio pra rua assim, bela, formosa e pimpona. Espera aí, eu li direito, diria o leitor, sair pra rua?)
Volto ao ônibus encerrando este post e abrindo já o outro, antes que algum tema paralelo me tome a coragem de escrever sobre a coragem. No ônibus pensei: "espera aí, e se a senhorinha estiver certa quanto a este assunto? O que me impediria de estar voltando pra casa com minha mais nova aquisição enfiada no meu corpo?"
Resposta no próximo post...

Ainda Não Era Bem Isso (ou Gênero X Sexo)

Impreciso Diário,

Veja você como são as coisas...esmero-me em criar um post como o passado, explicando timtim por timtim todas as variáveis entre crossdressers, transexuais e travestis e eis que, ansiosa para saber de minha amiga o que ela achou do post, recebo dela a resposta de que não a satisfiz, ainda acompanhado do cruel advérbio "definitivamente"...
Queria ela saber especificamente (muito embora - verdade seja dita - a questão não tenha sido por ela suficientemente exposta no feicibuqui) o seguinte: se eu a dissesse que seria homo ou bi, seria mais fácil dela (me) entender. Mas ser crossdresser já seria um pouco além da conta, pelo fato desta categoria misturar todas as opções sexuais, e isso causaria uma certa confusão que, ainda segundo ela, poderia render um bom assunto para futuros posts...
Pois bem, o futuro é aqui e agora, tome o post! Se eu bem entendi, a dúvida mor de minha amiga residiria na questão apresentada quase que como uma camisa de força: "o fato de você ser crossdresser/travesti/transexual não te levaria obrigatoriamente a ser, no mínimo no mínimo, bissexual? Existe algum exemplar desta fauna que, mesmo vestindo-se de mulher, comportando-se como tal (ok ok, não sejamos sexistas, o contrário também existe, mas estou falando em casos como o meu...) ainda consiga ser heterossexual e ter uma atração legítima por mulheres?"
E aí, o que vocês acham???
A resposta, para confundir mais ainda minha amiga, é... sim, existe.
E a justificativa para a resposta chega a ser de uma simplicidade franciscana: orientação de gênero e orientação sexual nem sempre andam passo a passo. Explico.
A orientação de gênero te situa no mundo como alguém pertencente a um ou outro sexo. Eu gosto de me vestir de uma determinada forma, eu gosto de agir de uma forma adequada a um ou outro sexo.
O que não significaria, em absoluto, atração sexual por um ou outro sexo.
Uma explicação que talvez possa fazer minha amiga entender melhor é o fato de existirem homossexuais que, muito embora se comportem como pessoas normais dentro dos padrões de  seu sexo, sentem atração por pessoas de seu mesmo sexo (meninas absolutamente femininas que gostam de meninas e meninos perfeitamente masculinos que gostam de outros meninos, inclusive sem serem masculinizadas ou efeminados, respectivamente). A prevalecer a lógica exposta pela minha amiga, todo homossexual deveria gostar de usar roupas ou se comportar como alguém do outro sexo, o que - nem de longe - acontece, embora também seja possível...
Finalizando, menciono um exemplo para encher mais ainda de caraminholas a já confusa cabeça de minha amiga: uma das minhas melhores amigas (mas que curiosamente nunca citei aqui) nasceu homem, se operou (sim, retalhou Sr. Pinto como se fosse uma banana split) mas hoje vive maritalmente... com outra mulher. Ela se classifica como homossexual mas, convenhamos, é algo que nem minha liberal senhora consegue entender... "ora" - diz ela - "se é para viver com outra mulher, por que diabos ela cortou o pinto dela?"... pois é, se Dr. Freud estivesse vivo, sera prato cheio, não para um post, mas para uma análise, e das boas...
Bem, ela não consegue entender, mas eu sim: gênero é gênero, sexo é sexo. Embora ambos caminhem juntos de mãos dadas na maior parte do tempo e dos casos, de vez em quando - como todo relacionamento que se preza - um e outro ficam separados, podendo inclusive tomar caminhos de vida distintos. Isso bastaria para explicar, já dizia Mestre Falcão, algo mais do que as meras viadagem congênita e a baitolagem adquirida... só que não!!! (me desculpem os politicamente corretos, raça da qual nunca participei, mas vou encerrar este assunto com esse clipe absolutamente impagável... enjoy!)


PS.: Definitivamente, te esclareci alguma coisa? Pelo menos estou tentando...

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Antes da Coragem, Algumas Explicações Básicas...

Diário,

Ontem depois que escrevi o tal do post sobre a liberdade, uma amiga minha me mandou a seguinte mensagem no feicibuqui, que eu acho que deva ser também a dúvida de algumas pessoas aqui, mas não teria coragem ou jeito de perguntar (como se não tivesse toda a paciência do mundo para 
explicar...). Bem, lá vai:

"Oie! Acabei de ler seu post e tenho dúvidas... (...) Ser crossdresser significa pra vc querer ser mulher ou só se vestir como uma? Vc tem a pretensão de mudar de sexo (ok, ok, isso é longe da realidade, mas e se vc pudesse...???). Enfim, dúvidas que pairam..."

Bom, respondi a ela resumidamente o que vou demorar um pouco mais de tempo para explicar aqui. Até o momento ela não respondeu, o que me faz imaginar que ou ela se satisfez com a resposta que dei ou ela aguarda este post (sim, existe também a possibilidade de ela não ter dado a mínima, mas minha autoestima não aguentaria um baque destes...)

Vamos lá então? Primeira questão: o que significa ser crossdresser?

Abro um pequeno parêntese para avisar que não vou apelar a nenhum tratado ou fonte bibliográfica segura sobre o tema. Até os tenho, mas a preguiça de consultá-los faz eu querer responder de memória, ainda que contenha um ou outro erro...o que, aliás, faz parte do jogo... fechando o parênteses e retornando à pergunta...

CROSSDRESSER, literalmente algo como "vestir cruzado" significa todo aquele/a que tem vontade de se vestir com roupas do sexo oposto. Seria o gênero de onde partiriam duas espécies quase gêmeas, o TRAVESTI e o TRANSEXUAL. Mas uma pessoa pode ser apenas crossdresser, desde que, ao contrário das espécies acima descritas, ele use as roupas apenas em alguns momentos do dia, sem ser, literalmente, full time. Pode ser em casa, em eventos, ou mesmo na cama com o seu ou a sua companheira, e, fora destes momentos, se vista como um exemplar vulgar de seu próprio sexo.

O crossdresser também, para enlouquecer mais a cabeça de vocês, não necessariamente teria tendências homossexuais. Existem bissexuais nesta fauna, e, por incrível que pareça, até heterossexuais, que lançam mão de trajes de outro sexo como simples fetiche, por exemplo...

Agora tomem o exemplo de sua professora Vanessinha: eu não me visto full time, somente em períodos específicos do dia (entenda-se à noite, ou de dia quando estou em casa). Quando vou comprar ovos no mercado, o máximo que me permito é usar um top por baixo e/ou uma calçola da vovó por baixo. Sim, tem aqueles momentos tipo São Paulo e Friburgo, mas leiam um pouco mais abaixo...

Até aqui está dando para entender? Posso continuar? Vamos lá então...

Então vocês captaram que o crossdresser é um tarado fetichista que gosta de usar roupas de mulher, em especial calcinhas fio dental (a preferida desta raça...). David Beckham que o diga! A pessoa pode muito bem permanecer a vida toda assim, numa boa, de calcinha em calcinha, de camisola em camisola (como eu...) achando que a vida é bela e nada mais interessaria ou então passar para o próximo nível da coisa, ou seja, virar um TRAVESTI ou um TRANSEXUAL... E qual seria a diferença?

Ambos, diferentemente do Crossdresser, desejam estar vestidos de mulher full time, ou seja, o tempo todo, e, lógica e consequentemente, se identificar socialmente como alguém pertencente àquele sexo. A diferença entre as duas categorias é tênue e científica: o travesti não vê problema algum com o seu sexo biológico, ao passo que o transexual devota um ódio mortal ao que ele carrega entre suas pernas, e deseja, acima de tudo, fazer a tal da cirurgia redesignadora do sexo...

Voltemos agora às perguntas de minha amiga: ser crossdresser significa se vestir como mulher. Querer ser mulher é, usando uma comparação tosca, pular de fase...

E agora, quanto a mim... durante boa parte da minha vida sequer desconfiava o que era ser crossdresser, só vindo a descobrir com aquela leitura da Marie Claire que postei bem no início deste blog. Até lá achava que eu era maluca mesmo... nem homossexual me considerava, mas por que esta mania louca de querer usar vestidos, por exemplo?
Só que... com o tempo passando, estou querendo pular de fase... é justamente isso que deve assustar tanto a minha assustada senhora... então, querida amiga, respondendo de forma mais completa a sua pergunta, eu diria que dentro em pouco tempo eu poderia deixar de ser apenas crossdresser para ser, por enquanto, travesti (confesso: odeio este termo, acho cafona, mas se é o que a nossa língua portuguesa tem para oferecer, fazer o quê?)...

O que significa que, num primeiro momento, não quero me operar. Tenho alguns medos, confesso, que qualifiquei para minha amiga de custo benefício. Primeiramente, dizem que nem todos conseguem ter prazer sexual depois da operação. Se for para ser assim, prefiro ficar com Dr. Pinto ali, bonitinho... 
Em segundo lugar, li recentemente uma entrevista de uma trans famosa, a tal da Lea T (filha do não menos famoso Toninho Cerezo, do tempo que nós tínhamos uma Seleção Brasileira de Futebol), que, após fazer a cirurgia, disse desalentada que por mais que ela mexesse no seu magérrimo corpo (todos os seus quilos não devem dar o peso da minha coxa...), ela ainda continuaria sendo homem, o que, vamos combinar, é bem verdade...
Claro que a ideia de uma operação destas me deixa curiosa. Afinal de contas, poderia usar as calcinhas mais minúsculas sem estrangular o Dr. Pinto, biquinis cavados, transar com homens ou consolos não apenas pela porta dos fundos etc... a única coisa que eu perderia (e uma das únicas vantagens que vejo do corpo masculino em relação ao feminino) é a aerodinâmica da micção... sim senhores, para o Dr. Pinto, qualquer poste é lugar para ser feliz e aliviar as tensões, se é que vocês me entendem... já para a desalentada Dra. Shana... disso sentiria falta, confesso,...
Aliás. falando em curiosidade, para quem a tiver, recomendo fortemente ver alguns vídeos no iutubi de como fazer uma cirurgia destas... é horrendo, e, confesso, nunca mais comi banana split depois que vi a série de fotos... na verdade, aquela história de cortar Dr. Pinto é lenda: eles transformam o Dr. Pinto na Dra. Shana da seguinte e cruenta maneira: eles dividem Dr. Pinto (tal como uma banana split, ai....) e cada um dos corpos cavernosos vão se transformar nos grandes lábios da Dra. Shana, Não tive estômago para ver o que eles faziam com o ureter, mas eles, se não me engano, escavam para dar a Dra. Shana a elasticidade e a profundidade que merece. Quanto aos indefectíveis Batman e Robim, inseparáveis amigos do Dr, Pinto, nem desconfio o que viram. Estes devem ir para a lata de lixo da história... mas neste ponto não acreditem muito em mim: lembrem-se, perdi o apetite pela banana split quando vi Dr. Pinto partido ao meio e depois desencorajei-me de ver o resto. Que nojo!

Retornando e concluindo: quero viver como mulher mas sem me operar, pelo menos por enquanto. Mas como as coisas andam rápidas, São Paulo e Friburgo que o digam, não duvido nada de que no próximo ano eu esteja na lista de espera do SUS para uma operação desta natureza (sim, eles fazem essa carnificina por lá...). E aí, retomando o final do post passado, posso olhar para qualquer uma de vocês, e dizer: agora não só a casca, também quanto à lanternagem não devo mais nada... ainda que não seja original de fábrica...

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Da Liberdade

Liberto Diário,

Atendendo a pedidos - sim, essa blogueira foi arrancada do conforto de seu livro a pedido de uma querida amiga que perguntou porque eu não mais postava... aleguei preguiça, mas, como tinha assunto para ser tratado - eis-me aqui!
O que eu queria tratar hoje, e talvez nos próximos posts, é um assunto recorrente quando aviso ao pessoal que estou vestidinha por aí em algum lugar inóspito. Ora dizem: "Ah, a sensação deve ser de liberdade", ou falam algo do tipo "Parabéns pela coragem"... fico imaginando como essa tal liberdade e essa tal coragem me influenciam nesse processo de vanessização... e que, apesar do que possa parecer, não se trata exatamente nem de liberdade nem de coragem. Examinemos estes dois tópicos, pois!
Primeiro, a liberdade. Quando digo que andei por aí de vestido, ou de legging ou de qualquer coisa feminina, falam para mim: "deve ser libertador", ou "ah, e a sensação de liberdade?". Bom, respondo sim e não...
Em primeiro lugar, porque a sensação não é propriamente de liberdade. Na verdade, quando saio na rua assim eu fico é com um medo dos infernos, algo semelhante àquela velha história que contam de Napoleão, quando, ele ainda novo numa guerra, foi zombado por seus outros colegas veteranos: "olha como ele está com medo..." ao que ele respondeu: "Se vocês tivessem a metade do medo que estou agora, vocês nem viriam ao campo de batalha"...
É mais ou menos por aí... ainda não tive a sorte (ou o azar, acho que estaria mais para isso) de ser pego por algum conhecido ou vizinho assim (e olha que arrisquei bastante, para desalento e críticas mil de minha mui cautelosa senhora), mas um dia, fatalmente, isso irá acontecer. Se acontecer, confesso, não sei como reagir. Não sei mesmo. Talvez esse assunto renda mais algumas postagens, em que falaria sobre os tais dos anticorpos que crio contra as críticas, coisa que já devo ter tratado bem en passant aqui...
Então tá, diria o/a enfastiado/a leitor/a. Se não se trata de liberdade o sentimento de você andar na rua, trata-se do quê?
Eu diria que é de completude, o que engloba mais do que cantaria o Só Pra Contrariar, "essa tal liberdade"...
Afinal de contas, eu sou livre para andar com uma melancia pendurada no pescoço, ninguém me obrigaria ao contrário. Só as pessoas achariam esquisito, engraçado e minha coluna vertebral me perguntaria o que diabos ela fez a mim para merecer tamanho castigo. Ninguém me obriga a andar do jeito que ando (infelizmente), trata-se apenas (sim, apenas meeeesmo, por incrível que pareça) de uma convenção social que te obriga a andar como homem ou como mulher usando determinado tipo de roupa. Não existe uma polícia, uma patrulha que te obrigue a andar assim, a não ser o olhar curioso, crítico e/ou zombeteiro das pessoas. Fora isso, mais nada, Mais nada mesmo.
E, quando falei acima em completude, o que quis dizer? Que quando uso uma roupitcha bonitinha, me sinto completa. Completa, não livre. E completa no sentido: "ah, não preciso de mais nada pra ser feliz" (claro, se depositarem alguns milhões de dólares na minha conta e me disponibilizarem uma biblioteca, ficaria imensamente grata, maaaaassss...)
Completude, é isso. É mais ou menos o sentimento que tive quando andava pelas ruas de Friburgo ou naquele McDonalds em Vila Isabel  com a Adaptada, me comparando com as meninas que usavam as mesmas botas, eu pensava satisfeita: "não preciso mais sofrer, eu estou como elas, eu estou completa.."
Claro, não vamos exagerar. Para ser completa, completa, faltaria mil e uma coisas... primeiramente, uma boa depilação. Tratamento hormonal. Um par de seios. Uma vida adaptada aos padrões femininos. E, last but not least, why not? uma operação de redesignação sexual, para desalento mor de minha já desalentada senhora. Eu sei, falta muito. Mas quanto à casca, pelo menos, eu não deveria nada mais. Pelo contrário, pelos figurinos que via, até que estava bem arrumadinha, gorduras e testículos à parte...
Então, da próxima vez que ao ler minhas peripécias vocês se maravilhem dizendo que a sensação de liberdade é ótima, entendam que junto com a liberdade vem o medo, mas que nenhuma dessas sensações é maior, mais completa, mais gostosa, mais gratificante, e, principalmente, o que justificaria mais uma vida plena de sentido e gratidão (isso tudo mesmo, e talvez mais um pouco) do que a completude. Em suma, é aquele momento em que você poderia muito bem dizer que se morresse naquele exato momento, morreria muito, mas muito feliz. E eternamente grata a Deus pela oportunidade dada de ser, ainda que de maneira distorcida, quem você sempre quis ser, desde o óvulo da sua mãe ou o espermatozóide do seu pai...
Próximo tema: coragem...


sábado, 6 de setembro de 2014

The Bitch Is Back III (ou That´s What Friends Are For)

Diário,

Sabe aqueles barzinhos do final do clip do post passado? Foi num deles em que me aboletei com uma empolgada Adaptada que contou-me as coisas que a agoniava, eu idem, trocamos alguns risos, algumas lágrimas, refletimos um pouco sobre nossas vidas e, enfim, lá estava eu, em plena madrugada no baixo Méier, as Vanessa, vivendo um pouco o que meu passado não me permitiu viver, o prazer de simplesmente estar jogando conversa fora e batatas fritas pra dentro (do estômago) como sempre queria estar...
No final, ainda recebo de brinde uma carona até minha casa, mas não sem antes participar de um momento que me deixou um pouco mais tocada nesta noite totalmente fora do padrão e por isso mesmo, inesquecível...
Fomos fazer uma parada no McDonald´s de Vila Isabel (sim, fui parar por lá ainda) e, entrando lá por volta de umas duas da manhã, vi algumas meninas vestidas e as olhei. Sim, eu estava como elas. Foi a mesma sensação que eu tive mal tinha comprado a bota em Friburgo e ido em direção ao shopping: eu não precisava mais invejá-las...Comentei com a Adaptada, mas este tipo de coisa não sei verbalizar ainda, tentarei aqui, mais uma vez: era como se eu não as precisasse mais invejar, ou desejar estar vestida como elas. Eu era uma delas agora, muito embora meus pêlos e minhas gônadas berrassem justamente o contrário. Mas eu faria ouvidos moucos. Eu era uma delas. Eu estava feliz.
Assim como provavelmente deixei a Adaptada feliz, justamente por ouvi-la e por ela me ouvir. Ainda brinquei com ela: a noite nem acabou e já estava com saudades... Foi lá onde tive aquele insight de posts atrás, de que algo, ou alguém me impedia de procurar ou receber a ajuda de alguém enquanto eu não estivesse segura do que eu realmente queria.
E estar vestida naquele dia era a prova cabal do que eu realmente queria.
Eu tinha me reconciliado comigo mesma, após tristes vinte dias.
Estava em paz.
E, por mais brega que possa parecer (e estou escrevendo com a mesma roupa que estive lá na semana passada, com exceção das botas, e praticamente no mesmo horário que voltei de lá, três e varada da madrugada), eu e a Adaptada soubemos, naquela madrugada de 30 para 31 de agosto de 2014, that´s what friends are for...


The Bitch Is Back Parte II (ou Daqui Pro Méier)

Empolgado Diário,

Feliz com meu retorno, postei no grupo do uatizapi algo como "Ôôô... a Vanessinha voltou, a Vanessinha voltou, a Vanessinha voltooooouuuouuuu...", recebendo afagos de algumas amigas e um pedido da Adaptada, que queria marcar algo naquele fim de semana para conversarmos... não prometi nada, porque ela queria se encontrar comigo no outro canto da cidade (localizando: eu estava em Botafogo, ela queria me encontrar no Meier... eu teria que pegar um ônibus para isso, e, sinceramente, não estava com a menor vontade de me despinguelar para o Méier, ainda mais por volta daquela hora, nove, quase dez da noite, e ainda mais chateada porque não encontrei nada para mim em termos de roupa...
Mas, justamente por isso, por não querer sair de mãos abanando deste atípico shopping day é que resolvi dar meia volta volver, liguei para ela e perguntei se estaria tarde para nos encontrarmos, sabendo que a Cinderela aqui 1) teria que voltar cedo para o ponto de ônibus, no máximo até meia noite e 2) eu teria compromisso cedo no dia seguinte (era verdade!)...
Dadas as garantias do retorno seguro e em tempo por uma eufórica Adaptada, gastei meia hora andando de ponto de ônibus para ponto de ônibus no Aterro do Flamengo, procurando onde era o ponto do tal do 455, que me levaria até o Méier. Mas descobri que iria ziguezagueando em vão se não fosse uma caridosa alma a me dizer que o tal do ponto estava do outro lado do Aterro, e que teria que atravessar uma passarela subterrânea (ai meus calcanhares, as vítimas da vez...)
Fui para lá e demorou meia hora para o "ônibus que passa toda hora", nos dizeres da Adaptada chegar (e eu quase desistindo...)
E lá fui eu, bela, formosa, a própria Gata de Botas (com os mais vivos protestos desta vez dos meus calcâneos), daqui pro Méier, na voz inconfundível de Ed Motta... só que sem táxi...


E lá chegando...

Oito Dias Esta Noite (ou The Bitch is Back)

Sim, querido Diário, plagio descaradamente o "Trinta Anos Esta Noite" do finado Paulo Francis bem como o "Cinquenta Anos Esta Noite", do ainda vivo José Serra (que, vamos combinar, foi tão plagiador do primeiro quanto euzinha...) Já passei dos trinta mas ainda não cheguei aos cinquenta, mas o evento que pretendo relatar não é tão velho assim, oras! Acompanhe-me!
Aos poucos vou dando nome aos bois, ou melhor, às vacas (sempre no bom sentido, claro!) das minhas amigas... já apresentei para vocês a Sócia, quando relatei minhas peripécias friburguenses fevestenses (que devem se repetir - ebaaaa!!! - daqui a uns dois fins de semana, aguardem novidades e instruções), agora apresento-lhes a Adaptada.
Adianto desde já: não fornecerei a origem do apelido e no dia que fornecer, saibam desde já que qualquer explicação que der aqui será obviamente falsa. Contentem-se em saber apenas que a Adaptada existe e se trata de uma amiga tão antiga quanto querida...
Conheci-a no meu antigo emprego, e, por um desses milagres, artes e manhas da natureza, o tempo e o afastamento natural não afrouxou os nossos laços de amizade. Ela, aliás, foi a responsável, não sei se cheguei a comentar isso aqui, por ressuscitar o ímpeto vanessístico ao me procurar no ano passado - e sumir misteriosamente depois - com uma proposta de trabalhar com roupas plus size e para cds, lacuna que acabou sendo preenchida tempos depois pela Sócia. Sim, senhores, a Adaptada foi a minha primeira Sócia.
Feitas as apresentações, vamos ao contexto: na semana passada, mais precisamente no sábado passado, 30 de agosto de 2014, minha senhora foi dormir na minha augusta sogra. Avisei-a que iria ao tal do chopis centis (feat. Mamonas Assassinas, alguém aí ainda se lembra?). Implicitamente, ela sabia o que eu iria fazer por lá (admirar a moda feminina e, sendo o caso, adquirir algumas peças para mim). Já tinha ido na semana retrasada e admirado duas ou três lojas com roupas que milagrosamente, supunha, caberiam em meu manequim 48 ou 50 (dependendo do molde ou da boa vontade da vendedora).
Fui, mais especificamente, procurando uma loja cujo vestido me encantei quando folheei a Elle de agosto, mas que foi minha decepção ao descobrir que a loja não tinha recebido a peça ainda (aumentem um pouco mais minha decepção ao ver a fisionomia blasée da atendente da loja me informando disso, justo eu, toda empolgada com o cartaz enorme com o vestido que queria na frente da loja...)
Fiquei um bom tempo andando pra lá e para cá frustrada por não encontrar nada pra mim.
Ah, sim, o figurino? Bom, devo adiantar que estava de legging, um dos meus primeiros vestidos, um preto básico (apenas para variar...) comprimento médio, surraaaaado, e que quando coloco sozinho parece que estou me vestindo para um halloween ou coisa semelhante, mas que, por um destes mistérios que ninguém consegue entender, amo de paixão, que caiu como uma luva com a legging que eu estava e sim, elas...
Elas mesmo...
Não resisti quando me vi no espelho com elas...
Para desespero e desalento de meus dedos mindinhos dos pés...
Sim, elas mesmo, Diário...
As minhas botas!!!
Desta vez fui mais prevenida: coloquei meia fina, o que ajudou muito elas a se recuperarem do trauma friburguense (devo informar que a unha do dedo mindinho do meu pé esquerdo anda escura até hoje, em protesto pelas torturas e maus tratos e não foi porque a pintei - ainda...). E, para minha alegria, até que lá não doeu tanto, o que me atacou mais foi o calcanhar desta vez, mas não daquela maneira absurda como foi em Friburgo, ainda bem...
E quando me vi andando no shopping daquela maneira, all by myself, reparei em algo...
Eu tinha voltado ao normal (?!?)
Vanessa tinha voltado, em grande estilo!
As pessoas voltavam a olhar para mim, algumas também em grande estilo, outras nem tanto...
Mas, como cantaria Elton John, the bitch is back
Escutem a música abaixo e depois se deem ao trabalho - caso queiram - de procurar a tradução (eu não achei no iutubi) e imaginem eu andando no shopping, trajada desta maneira, ao som desta melodia...
Yeah, baby, the bitch is back...



E aí, caro Diário, as amigas também voltaram... e começando pela Adaptada...




Adendo ao Post Anterior

Díario,

Ontem, como já estava ficando tarde, acabei deixando passar uma pérola que resumiu, ou melhor, me consolou, a respeito do abandono que sofri, sem ninguém para me ajudar a atravessar o tal momento difícil que passei...
Na verdade, trata-se de um post que li no feicibuqui de uma amiga especialista em colocar mensagens fofinhas ou de otimismo na rede. mas que desta vez resolveu escrever, ela mesma (presumo eu) sua mensagem fofinha/de otimismo. Se ela ler, saberá quem foi. É o seguinte texto:

"Por mais sábio que seja o conselho que você recebeu, lembre-se que ele saiu da boca de outra pessoa, tão falível e passível de engano quanto você, portanto seu melhor orientador ainda é, em ultimo caso, o seu coração e sua consciência."

Isso para alguém tão ávida em querer conselhos como eu foi como um soco no estômago. Daí resolvi ficar quieta e me dedicar à intricada tarefa de tentar entender meus sentimentos e aceitar o que daí viesse, sem encher o saco de ninguém. E, no momento que tivesse uma posição firme a respeito, as coisas voltariam ao normal. E foi o que aconteceu. E descobri isso exatamente há uma semana atrás, quando finalmente me encontrei com uma amiga depois de tanto tempo... mas não nos adiantemos, próximo post, please!

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Ascolta Il Tuo Cuore (Voltei!, Parte IV)

Diário,

Se pareci amarga, chata e manhosa no post anterior, eu, no melhor estilo morde e assopra, passo a assoprar: sem querer querendo, semana passada, acabei descobrindo a razão por esta minha solidão meio fora de hora...
Bom, para quem não sabe, sou libriana, e o 11 de junho, para quem me acompanha desde o início deste blog não é minha data de nascimento verdadeira, e sim o dia que me revelei para minha senhora. E todo libriano é um poço de indecisão. E eu tenho um defeito muito feio, confesso: adoro submeter quase todas as decisões importantes na minha vida ao crivo alheio mas, porém, todavia, contudo, não gosto de contar nada nem de desabafar sobre nenhum aspecto da minha vida (paranóico isso, não?).
E, neste exercício dialético de loucura, o melhor mesmo que teria que acontecer comigo era justamente ficar no meu canto, pensando all by myself sobre o que seria melhor para minha vida. Claro que se alguém chegasse e conversasse comigo, do tipo: "ah, vamos conversar, vamos almoçar/jantar/lanchar e você me conta sobre o que está acontecendo" seria mais reconfortante para mim, mas às vezes o único bom conselho que você pode ter a mão talvez seja uma música de Laura Pausini. E olhe lá!



E essa música é tão bonita e diz tanto que tive que colocar a tradução aqui...

ESCUTA O SEU CORAÇÃO

Ei, agora, como tu estás?
Traída por uma história acabada
E de frente a ti, a nona subida
Se sente um pouco só
Ninguém que possa ouvi-la
Que divida com você os seus problemas

Nunca! Você não se liberta nunca!
Permanece como é
Segue o seu destino
Porque toda a dor que há dentro
Não poderá nunca apagar o seu caminho

E então descobrirá
Que a história de cada minuto nosso
Pertence somente a nós
Mas se ainda fica perdida sem uma razão
Em um mar de porquês

Dentro de você, escuta o seu coração
E no silêncio encontrará as palavras
Fecha os olhos e depois deixe-se andar
Tenta chegar dentro do planeta do coração

É difícil entender qual é a coisa justa a fazer
Se bate na cabeça uma emoção
O orgulho que te pega
As noites nas quais o remorso te acorda
Pelo medo de errar

Mas se encontrar-se sem estrelas a seguir
Tu não renuncias nunca
Acredita em ti! Escuta o teu coração!
Faz aquilo que diz, também se faz sofrer
Fecha os olhos e depois deixe-se andar
Tenta voar sobre esta dor
Não te enganarei
Se escutas o coração
Abre os braços até quase tocar
Cada mão, cada esperança, cada sonho que quer
Porque depois te levará até o coração
De cada um de nós

Cada vez que não sabes o que fazer
Tente voar dentro do planeta do coração
Você, você, tente voar
Onde é o planeta do coração ?
Pois estás dentro do planeta do coração

Cadê Todo Mundo, Pergunta a Milionária do Banco Imobiliário (ou Voltei!, Parte III)

Diário

Um post no Facebook ilustra bem um aspecto que ocorreu neste meu sumiço: "ter vários amigos no facebook é como ser milionário no Banco Imobiliário: não adianta nada!"
A imagem é oportuna: eu, que me gabava outro dia de ter sido criado um grupo no whatsapp (é assim que se escreve?) em minha homenagem, quando sumi (inclusive de lá) só deram pela minha falta depois de quase duas semanas, eu acho... e minhas últimas postagens eram do tipo "tô mal", como se dissesse: "ei, preciso de alguém para conversar, alguém para desabafar". E alguém se habilitou?
"Ah, vamos almoçar um dia destes e colocar o papo em dia", "ah, qualquer coisa estou aqui, pode falar"... e quando se marcava o dia para sair nunca se podia ou quando se procurava a pessoa ela nunca estava. Solidariedade, a gente vê por aqui...
Sim, povo, estou amarga. Sim, se as carapuças servem, usem-nas, é de graça. Agora também é a minha vez de falar. E que ninguém me venha amanhã ou depois tentando se justificar ou tentando conversar agora comigo: na hora que eu mais precisei eu estava sozinha. Sem ninguém. Ou vocês acham que as explicações do post anterior eram suficientes? Não, senhoras e senhores. Tem muito mais coisa aí, muito mais ideia a ser trocada, o que escrevi antes era apenas a ponta do iceberg que quase derrubou o Vanessanic (putz, essa foi de doer!). O baque foi forte. E eu estava sozinha.
Portanto, a quem interessar possa, quem estiver lendo este post e pensar em hipotecar sua solidariedade tardia a mim esqueça: agora não preciso mais. Já refleti, digeri, ruminei tudo o que tinha que refletir, digerir, ruminar. E voltei. Onde está aquela célebre passagem da minha madrinha Bridget Jones? (a de quem surrupiei o sobrenome) Tá aqui: esqueçam o vinho e o cigarro (não fumo nem bebo), e se concentrem apenas nos primeiros dois minutos e meio deste vídeo, foi o melhor que pude arrumar!


#prontofalei

Até Que Estava Demorando... (ou Voltei!, Parte II)

Diário,

É claro que não voltarei a te escrever sem um mínimo de satisfação a ser prestada deste meu sumiço...
Na verdade, meu bloqueio criativo (como se tivesse algo a ser escrito de mais útil aqui...) deveu-se à minha indignada senhora, que resolveu reagir contra essa-tal-mania-de-sair-vestida-flanando-por-aí-como-se-não-houvesse-amanhã... então foi-me imposto um desafio (não, não era de posar em fotos sem maquiagem, frescura feicibúquica tão inócua quanto o tal do banho de água fria de algumas semanas atrás), ou tudo ou nada, ou vai ou racha. Ou seja, ou assume de vez ou sossega a periquita (ah, se eu tivesse...). Ah, com um detalhe: se assumisse, mude o seu estado civil! Como ainda não desenvolvi anticorpos morais suficientes para lidar com tamanhas mudanças e comentários na minha vida, o jeito era dar um calmante a minha agoniada psitacídea, ainda que com isso eu acabasse sofrendo muito, oscilando entre várias opções, do "nunca-mais-quero-saber-de-Vanessa" (esse durou exato um dia) até o "dane-se isso tudo, vou chutar o pau da barraca" (esse um pouco mais...).
E, enquanto isso, este Diário permanecia fechado. Não tinha coragem de escrever mais nele. Escrever o quê? "Olha, gente, foi mal, tudo isso não passou de um sonho de uma noite de inverno (bem, no hemisfério norte agora seria verão, né?), desculpem o incômodo e finjam que esta maluca nunca mais escreveu aqui, e que Vanessa nada mais era do que um alter ego de uma pessoa frustrada e triste aprisionada num armário"? Não dava, né? Não dava meeeeeeesmo...
Conversei muito comigo mesmo, refleti muito sobre tudo, pensei em escrever antes mas continuei matutando. E volto à pergunta anterior: qual o motivo de escrever aqui? Para todo dia o leitor ou a leitora abrir esta página e ler algo do tipo: "ah, hoje vi uma menina muito bonita, que eu queria tanto ser...", ou "ah, no dia que eu virar menina, tudo será diferente", ou "ah, se eu pudesse fazer isso"... não, não quero fazer desse espaço meu muro de lamentações. Quero fazer dele um espaço de transformações. Então, precisei deste tempo para me recompor deste verdadeiro golpe em meus testículos (sorry, meninas, para sua sorte vocês nunca terão o desprazer que é sentir uma dor destas...), recolher os cacos de minha dignidade (dramáááático, urraria Galvão Bueno) e me reapresentar para vocês. Se mudei ou não, só o tempo e os próximos posts dirão. Mas, como diria Arnold e Suas Negas (feat. Schwarzenegger) em "Qualquer Porradaria do Futuro", I´m back!

Voltei!

Saudoso Diário!

Voltei!
Sim, isso não é uma miragem ou coisa do gênero!
Voltei!
Sim, isso não é um arremedo de uma música do Roberto Carlos.
Voltei!
Depois de uns dias beeeeemmm difíceis, chatos e quase sem nenhum apoio, oficial ou oficioso...
Voltei!
Talvez eu escreva os motivos deste meu sumiço, talvez não, por serem beeeeeem pessoais, embora quisesse compartilhar com todos e com todas as dores e as tristezas destes meus vinte dias de exílio internético, maaaaas, se ao vivo ninguém quis saber, significa que por aqui também pouco interesse teria... mas, Diário, apenas e tão somente saiba...
Voltei!