sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Deus e Eu...

Religioso Diário,

Se lembra quando eu falei dos vários "serás" no post passado? Não é que eu acabei de me esquecer de um dos mais importantes, que é justamente esse: será que adiantaria cercear minha vontade por entender que isso perante os olhos dAquele que me fez é errado?
Passei quase quatro décadas da minha vida pensando assim, até que...
Bom, não nos adiantemos: nasci católica, li a Bíblia umas 13 ou 14 vezes (de Gênesis 1,1 a Apocalipse 22,21, e se for contar a versão da Ave Maria, católica, que tenho aqui em casa, inclua também os deuterocanônicos), flertei com as Testemunhas de Jeová (com direito a ler as Traduções do Novo Mundo das Escrituras Sagradas umas três vezes, incluindo uma versão em italiano), ou seja, criada numa educação religiosa autodidata que sempre tropeçava lá em Levítico, para dizer apenas um dos trechos em que era dito que era abominável perante o Senhor teu Deus se deitar com outro homem como se fosse mulher. Bom, eu nunca fiz isso, mas a vedação a qualquer coisa "como se fosse mulher" me incomodava um pouco...
Depois de uma adolescência bíblica fui parar em outra denominação religiosa que amo de paixão e onde assumo um cargo, digamos, religioso. Mal comparando, eu seria uma pastora ou semelhante lá dentro.
E, como não poderia deixar de ser, mais uma vez pesquisava sobre este minha, digamos, mania...
Sabe, Diário, apesar disso, nunca fui muito de reclamar a Deus por este complexo de Gabriela (eu nasci assim, eu cresci assim, vou morrer assim Gabrieeeeelaaaaaa...), mas de vez em quando bate uma dúvida. Certa feita vi o finado Clodovil numa entrevista dizer que quando ele morresse ele iria chegar nas portas do Céu e simplesmente perguntar: "porque nasci assim?"
Bom, o evento que vou narrar e que é completamente verídico, aconteceu semelhantemente a isso, escutem (ou melhor, leiam...)
Todos os dias acordo com as galinhas para trabalhar. E com minha mal-humorada matinal senhora também. Mas ela, contrariando a máxima de que mulher é mais vagarosa ao se arrumar do que o homem, sai sempre mais cedo que eu, que fico enrolando...
Mas um belo dia (que deveria ser uma segunda, eu sempre fico depressiva às segundas-feiras), eu resolvi, do nada, ter o topete, a audácia, a petulância de falar alto dentro de casa pra Deus dizendo algo do tipo: "Cara, não sou de me queixar muito não, mas, por que cargas d´água você me fez assim? Eu não largo desta vida porque não seria justo com o que sinto, mas você não poderia carregar um pouco mais na testosterona? Aí você me fez assim, e ainda vou pro inferno por conta disso? Isso não seria um pouco injusto? O que custava ter acertado um pouco mais a mão e eliminado os excessos? Ou então me ter feito macho de uma vez? Agora fico eu no meio-termo, não sou uma coisa nem outra! E o pior é que, por respeito a você, eu sequer posso ter um pouco de felicidade...você sabe o que é encontrar um monte de mulher lá fora que você queria ser mas não pode? Isso lá é justo? Não tô te adulando para ser salvo não, mas eu só queria um pouco de felicidade, que eu não tenho. Agora me responda: isso lá é justo? Isso é ser honesto comigo e contigo também?"
Foi mais ou menos essa a minha reclamação (alguns mais exaltados poderiam qualificar de oração, mas, como o tom foi um tanto quanto desrespeitoso, prefiro usar reclamação mesmo. Mas sou sortuda, Deus tem um senso de humor invejável comigo... fosse outro há muito tempo eu seria só pó...).
Me lembro que no final dessa cantilena meus olhos estavam quase lacrimejando, e disse por fim: "Ah, quer saber, esqueça e desculpa... já dizia o ditado que o bom cabrito não berra, e se essa é a minha cruz, ou minha missão, que se dane... chorar não vai adiantar nada!"... e tratei de terminar de me arrumar.
Cinco minutos depois comecei a cantarolar algumas vezes os versos de uma canção que daquele dia em diante, se tornou quase um hino religioso para mim: "...às vezes o que eu vejo quase ninguém vê, eu sei que você sabe quase sem querer que eu quero o mesmo que você..."
Reconheceram o trecho? Sim, é essa música aqui, ó:

Diário, te garanto: nunca fui muito fã do Legião, achava alguma coisa até maneirinha e minha música preferida deles sempre foi "Monte Castelo"... quando reparei que estava cantando essa música como se fosse uma resposta a minha reclamação cinco minutos antes, estava fechando a porta de casa chorando. Chorando e abobada. Pela primeira vez parei, ainda que fosse por um instante, de ter culpa. E vislumbrei uma tênue luz de esperança de que apesar de tudo Ele me fez assim por alguma insondável, até o momento, razão.
Mas mesmo assim, sabe, achei que era bom demais pra ser verdade e preferi esquecer... até que outra coisa aconteceu tempos depois, também envolvendo Ele. Aí resolvi parar de frescura e me assumir, de corpo e alma. Afinal, quem pariu Vanessa, que a embale! Mas este segundo episódio será tratado no próximo post...

PS.1: Reparem no início da música até o minuto 2:25: era como se eu estivesse cantando. Daí por diante era como se fosse Ele me respondendo...

PS.2:  Por ter sido algo totalmente espontâneo e ao mesmo tempo tão singelo, até hoje, quando conto ou lembro desta história, tenho vontade de chorar...

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