quarta-feira, 6 de agosto de 2014

A Hora dos Três Espantos

Espantado Diário,

Aristóteles já afirmava que o começo do conhecimento é o espanto, ou thambos em grego. Neste caso, devo admitir que devo ter deixado bastante conhecimento em Friburgo, mas destaco inicialmente estes três casos que foram muito curiosos e, felizmente, não me abalaram nem um pouco...
1) Da amiga que fiz aguardando trocar o vestido: Lembram-se dela? Sim, é a menina que acabei fazendo amizade no Facebook etc e tal. Ok, ela não ficou tãããão espantada quanto os casos a seguir, mas notei que mesmo quando não estava falando com ela, ela continuava a me olhar como se quisesse saber a causa, razão, motivo ou circunstância (feat. Prof. Girafales) que eu me vestia daquele jeito. Com um pouco de conversa, consegui-a convencer não exatamente, talvez, sobre a minha normalidade, mas pelo menos me saí bem ao provar que posso conviver bem com outros da minha espécie, ainda que esteja trajando roupas de outro gênero...
2) Da filha da Sócia: essa foi a que mais receio me gerou. Explico: Desde a janta em Friburgo apareço para a família da Sócia em trajes, digamos, pouco ortodoxos, e ninguém tinha reparado nada: o marido dela me tratando normalmente (depois soube por ela que avisou-o antes para estar preparado para meus hábitos pouco vulgares, ao que ele assentiu e, realmente, me tratou normalmente...)
Da mesma forma eu: em nenhum momento comecei a desmunhecar ou agir afetadamente, o que faço por duas razões: a primeira, é que não sei fazer isso, sai artificial e a segunda, simplesmente, porque não gosto. Para mim, o simples fato de estar vestida já me agrada, já me satisfaz. Bom, pelo menos para mim...
Mas voltando... quando entrei no carro de vestido para ir à Fevest com eles, a filha dela, uma menina muito esperta e viva me deu uma encarada por uns cinco loooongos segundos, parada, observando... olhei para ela também, e ela sequer desviou o olhar (ah, a sinceridade infantil...). Falei com a mãe depois, rindo, ao que ela disse, seguido de uma gargalhada: "você há de convir que é novidade pra ela..."
Detalhe: depois daquele minuto de silêncio, ela agiu naturalmente, como se nada ocorresse. Talvez tenha sido apenas o thambos mesmo...
3) Do garoto na Fevest: para terminar a hora do espanto, na Fevest, após andar por um bom tempo e meus dedos (sempre eles) pedirem pela milésima vez piedade de suas almas quase achatadas, vi um stand que vendia produtos plus size, e chamei a atenção da Sócia para falar com uma das donas. O stand parecia ser de algum negócio de família, pois tinha pessoas de várias idades, de idosos a crianças. Quando vi que a conversa iria render, aproveitei e sentei-me um pouco numa das cadeiras do lugar.
Aí, ao sentar, vi que um garoto, que tinha lá seus  não tirava os olhos de mim. Mas quando digo não tirava é: não tirava mes-mo. O garoto me encarava, eu encarava ele e ele nem tchum. Sabe quando parece brincadeira de estátua ou de sério? Quase perguntei para ele onde fica o Control+Alt+Del dele para destravá-lo... (na verdade quis tirá-lo da letargia que se encontrava mostrando-lhe a língua, mas me contive...)
O que aproveitar de lição de tudo isso? Não sei ao certo, talvez o fato de que poderei ser por um bom tempo o centro das atenções, ainda que não queira... e que, ao contrário do que se possa pensar, este estranhamento não possa ser associado diretamente com preconceito, mas que, simplesmente, seja apenas como a Sócia bem resumiu: vocês hão de convir que eu sou uma novidade para todos eles...

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