sábado, 16 de agosto de 2014

O Que É Isso, Minha Gente?!?

Indignado Diário!

Hoje, depois de mais de um mês, acredito, sem dar uma volta nas lojas do meu bairro para ver, literalmente, as modas, levei um susto daqueles: simplesmente a minha loja favorita tinha fechado (o cartaz dava o telefone e alegava "motivos particulares", ou seja, nome genérico para "quer saber? Ligue e saberás..."), além de uma loja que namorava uns dois vestidos estampados, além de dois brechós, devidamente lacrados. O que é isso? Ou a crise atingiu o meu bairro, fechando os tais lugares, ou seus prósperos donos decidiram não mais abrir aos sábados por estarem com as burras cheias da grana, ou viraram judeus ou adventistas. Como não há sinagogas nem templos do sétimo dia aqui por perto, creio que seja sintoma da recessão da Copa que vinha se desenhando a algum tempo...
Mas, numa loja em que pouco vou, vi um macacão preto liiiiindo, informado para mim sob o universal rótulo de "tamanho único", ou seja, veste da magrinha à gordinha (prazer, c´est moi!), além de na sapataria onde comprei duas sandálias, a atendente, me reconhecendo (e dando uma risadinha do tipo: "ah, sua malandrinha...") tentou empurrar a esta pobre e envididada crossdresser (lembram-se de Friburgo? #deliriosdeconsumodevanessajones?) algumas lindas sandálias, enquanto eu queria apenas uma ou duas sapatilhas discretas, preferencialmente pretas? Ou seja, nem tudo está perdido... apesar dos pesares...
Mas como sou brasileira e não desisto nunca, vejam a lindeza de look que achei voltando toda amargurada pela falência do setor de comércio que se avizinha no meu bairro (alô autoridades, cadê vocês?): assim como aquela foto anterior, que uma das minhas amigas pensava que fosse eu, este TAMBÉM é um look que eu gostaria muito de ter/vestir/usar (qualquer das alternativas estava de muito bom tamanho...) Analisemos o look: Uma jaqueta jeans básica (como um dia eu terei...), uma blusa básica (idem), uma bolsa básica, um saião preto liiiiindooo (esse eu já tenho, hehehe), a sapatilha preta (sim, ela está lá pequenininha...)... o único ponto em que realmente devo me lastimar é quanto ao cabelão... estes a natureza me poupou de tê-los, mas, também, apenas por enquanto...
São visões urbanas como estas que me dão esperança em dias mais femininos e cheios de graça, apesar das lojas fechadas, apesar do meu sexo errado, apesar da minha barriga, apesar da minha falta de cabelo, apesar de tudo e de todos, um dia chegarei lá, pois, parafraseando o bom e velho Machado de Assis, esta é a esperança "que fica, eleva, honra e consola..."

PS.: Não, cara amiga que está torcendo, esta AINDA não sou eu...


sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Mais Um Fim de Semana...

Entediado Diário...

Mais um fim de semana chegando e nenhuma perspectiva de me vanessizar...quer dizer, até temos, mas é mais ou menos a mesma probabilidade de chuva num dia de sol, ou seja, pouca, baixa...
Na verdade na verdade, queria dar um pulo num shopping para ver ao vivo a lindeza que parece ser este conjuntinho aqui:

Gente, foi paixão à primeira vista desde quando vi num anúncio na Elle deste mês... já sei qual o shopping onde tem a loja, e se for vou só no domingo... ficam aqui duas graves indagações:
1) Se o preço não é proibitivo (o que é provável...);
2) Se não tem do meu portentoso tamanho (o que é bem provável)...
Enfim, é jogar com a sorte para ver se tem. Na pior das hipóteses, o máximo que poderia acontecer seria eu andando por aí com umas roupitchas que não deveriam estar em meu corpo, atraindo, somente para variar, mil olhares do tipo "que p... é essa?", disfarçados ou ostensivos...
Mas, acalme-se: o medo destes olhares aos poucos está passando: São Paulo, Friburgo e o Parque da Cidade semana passada já estão me dando anticorpos suficientes para pensar que, a cada olhar de espanto dado em relação a euzinha, eu desenvolva um complexo de: "ah, eles estão me olhando provavelmente por ser uma pessoa famosa..."
Vai ver, querido Diário, que são todos leitores deste blog (presunção e água benta...), mas não têm coragem de me pedir uma foto ou um autógrafo (...cada um toma a que quer!). Fazer o quê...

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

As Amigas de Vanessinha

Enturmado Diário,

Quando eu pensava que minha vida de crossdresser ficaria às moscas à espera de novos eventos como São Paulo e Friburgo, eis que uma das minhas mais entusiastas amigas resolveu criar... um grupo no Whattsapp (é assim que se escreve) com o nome que batiza este post! Agora posso ficar mais próxima de minhas amigas, que poderão interagir entre si e, caso queiram, colocar mais lenha na fogueira, digo, na minha fogueira, encorajando-me (assim espero) a fazer mais loucuras... e o mais interessante é que um grupo como esse acaba reunindo gente que provavelmente nunca se viu, quase todas do Rio, e cujo único ponto em comum é a minha amizade e a cumplicidade em entender o meu mundo meio maluco, que muita gente custou em acreditar que fosse verdade, mas que hoje adoooora minhas peripécias...

Me & Miss Kellie

Diário,

Apenas complementando o post de ontem, que passou uma ideia soturna em seu final de que ser crossdresser poderia passar a impressão de ser algo triste, angustiante ou coisa do gênero...
Realmente, nossa situação não é exatamente das melhores, mas, no meu caso, está longe de chegar às vias de fato. Com efeito, o máximo que consigo fazer em termos de revolta (pelo menos por enquanto) é apenas e tão somente questionar um pouco a Deus (como descrevi nos posts "Deus e Eu" e "Deus e Eu II"). Fora isso, acho que não tenho mais nada a ver com Miss Kellie (o novo nome da nossa personagem do post passado).
Tento levar a vida numa boa... de uns tempos para cá, meu lema vem sendo "fazer do limão uma limonada"... em outras palavras, cansei de tentar me entender, agora vou tentar viver isso tudo, da maneira menos traumatizante possível. Estou no inferno? Bora abraçar o capeta!
De vez em quando me pego divagando o que devo ter feito em outra vida (se é que tal existiu) para que isso pudesse acontecer. De repente devo ter zombado de muito cd por aí em tempos idos e aí, pluft! Eis Vanessinha com seus dramas, alegrias e tristezas.... além, é claro, deste blog aqui!

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Dias de Tédio e de Dolce Far Niente

Preguiçoso Diário,

Estes dias Vanessa (e os assuntos a ela relacionados) estão hibernando, o que é uma pena, confesso... apesar de estar de menina por algumas horas no domingo, senti falta dos dois últimos fins de semana, que realmente foram muito, muito especiais... e o pior é que as perspectivas são poucas... nenhuma chance de me vestir fora dentro de casa... o que fazer numa situação destas?
Simplesmente falar de alguns assuntos que reputo interessante, e que podem servir às pessoas que ainda não entendem muito bem desse tal de crossdresser entender melhor esse mundinho complicaaaaadoooo...
Saiu no domingo, acho, a notícia, acompanhem:

http://globoesporte.globo.com/boxe/noticia/2014/08/ex-boxeador-e-empresario-de-atletas-ingles-anuncia-mudanca-de-sexo.html

Para quem tem preguiça em acessar o site, resumo o pavão: trata-se de um ex-boxeador (!) britânico que resolveu, aos 62 anos (!!) trocar de sexo...
Bom, quanto ao fato de ser britânico, pouco há de se espantar: na terra de Elton John, George Michael e Boy George (este, por increça que parível, ídolo de minha pouco convencional senhora) e, se forçarmos um pouco mais a barra, do irlandês (portanto, quase inglês) Oscar Wilde, isso seria até comum... David Beckham que o diga, ou vocês pensaram que esqueci que o dublê de galã e jogador de futebol nas horas de lazer usa recreativamente as calcinhas de sua senhora também, como confessadamente alegou, years ago?
Mas eu chamo a atenção dos amigos, curiosos e espantados para as duas exclamações que coloquei no penúltimo parágrafo. Explico-as, e que fique bem claro tais situações:
(!) Quanto ao fato de ser ex-boxeador: então vocês acham que por trás de todo crossdresser (sem trocadilho!) existe sempre uma profissão, ou um modo de vida feminino? Sabe de nada, inocente! Crossdresser não escolhe profissão: mesmo militares (em que se exige uma postura viril etc e tal) podem muito bem curtir saias, vestidos, lingerie etc...
(!!) Quanto ao fato de ter 62 anos: Então vocês acham que o desejo de ser mulher tem a ver com sexo, ou alguma homossexualidade latente? Veja bem este(a) senhor(a): ele/ela passou 60 anos de sua vida sustentando uma posição, perdendo até mesmo sua potência sexual, para finalmente, no entardecer de sua vida, resolver simplesmente ser o que foi a vida toda...
Sabe nesta história toda o que mais me chateia? É ver esta notícia sendo tratada na grande mídia como motivo de chacota, ou sensacionalismo. Nada disso. É drama. É triste. Não tem nada, realmente nada de engraçado, espetaculoso ou digno de pilhéria... o próximo link que vou mostrar comprova isso:

http://globoesporte.globo.com/boxe/noticia/2014/08/perturbado-com-vida-dupla-ex-lutador-que-mudou-de-sexo-tentou-suicidio.html#esporte-boxe

Nela se fala que nosso amigo cd, ou transgênero, tentou o suicídio, após tentar sublimar isso durante vários anos, ter sua família destruída e queimar (ah, pecado...) todos os seus vestidos...
Aí eu digo a todos vocês: nunca, jamais, em tempo algum imaginem que isso se trata de safadeza ou outros adjetivos mais baixos. Não é por sexo, é por felicidade.
E que isso fique bem claro!

domingo, 10 de agosto de 2014

E Hoje?

Díário,

Dos três últimos finais de semana este foi o menos emocionante, o menos palpitante. Mesmo assim, vanessizei-me adequadamente para receber uma amiga muito querida em público, numa vista fantástica! Mais uma vez tive medos (mais uma vez infundados) a respeito daquela célebre questão "o-que-será-que-os-outros-vão-pensar", e de seu virus gêmeo, "o-que-será-que-os-outros-vão-dizer"... estes medos estou quase perdendo, falta encarar agora o medo do que os conhecidos e os vizinhos irão dizer... ah, o traje? Pretinho básico longo by Denise Queiroz e sandália. E, para agasalhar, um casaco (masculino, nobody´s perfect!)
E, por insistência de minha conservadora senhora, não saí nem entrei em casa vestida (o que foi um desperdício em ambas as situações, afinal ninguém me viu entrando e saindo... mas um dia eu chego lá...)
A conversa, acredito, foi boa para ambas... queria apenas tê-la ouvido mais, aconselhado menos, enfim... acredito que valeu para ambas... não durou muito nossa alegria, umas três horas, se muito. Mas valeu por termos tricotado bastante e tirado um ano de atraso de conversas igualmente atrasadas...
No final, olhando um para o drama da outra (sim, dramático diário, não se esqueça disso: eu tento levar minha vida e meus relatos no maior bom humor, mas apesar de tudo e de todos e principalmente de todas, não é nada fácil uma vida como a minha...), meio que fizemos uma promessa a nós mesmas, ainda que não dito ou sequer pensado, de que... desesperar jamais! Solta o som, DJ!


PS.: Sabe, amiga, também acho que chegou a hora de fazer valer o dito popular...

sábado, 9 de agosto de 2014

E Agora?

Preguiçoso Diário,

Depois de dois fins de semana fantásticos, eis que volto à rotineira tarefa de estar em casa num sábado à noite ao lado de minha agasalhada senhora. Nenhum evento, pelo menos até o momento, que justifique um arroubo de Vanessa, pelo menos até o momento. Quer dizer, até tem, mas aguardemos as cenas dos próximos capítulos... como diria Paulo Coelho em seu Alquimista, não há duas sem três (não, ele falou de um modo mais lírico e poético, algo do tipo "quando ocorre uma coisa é muito difícil dela se repetir, mas, se ela se repetir, fatalmente ocorrerá uma terceira vez"...)
Bom, aguardo então pela fatal (no sentido de certeira, bem especificado) terceira vez. Como será?
Aguardemos as cenas dos próximos capítulos...


Questão de Ponto de Vista...

Relativo Diário,

Aqui na rua onde moro circulam algumas pessoas, digamos, no mínimos, notáveis. Para o que nos interessa no momento, temos um travesti atraente, que já me cortou aquilo que comumente a plebe chama de cabelo por duas vezes (e que descobri - olha a graça libriana aí gente! - que faz aniversário no mesmo dia que esta blogueira...).
E também tem uma figura que hoje me fez refletir um pouco. Cerca de uns setecentos gramas mais leve após mais um corte daquilo que antigamente se chamava meu cabelo, voltava eu para o conforto de meu lar e para o aconchego de minha senhora quando vejo uma personagem bastante curiosa. Explico.
Trata-se de um homem magro, franzino, baixinho até, com, acho, seus trinta para quarenta anos e portador de uma voz um tanto quanto esganiçada. Ele sempre anda com um cachorrinho a tiracolo, andando para lá e para cá. Não sei o nome dele, nem o que faz da vida. Mas o mais curioso disso tudo é que ele anda para lá e para cá com o tal cachorrinho mas vestido de mulher! (alguém aí falou #vanessafeelings?). Seja com uma legging (#vanessafeelings parte II), seja com um top (não, baby, tenho mais de 80. Quilos, não anos), com uma touca na cabeça, brincos e trejeitos femininos, esta criatura, que aparentemente não faz mal a ninguém perambula pela minha rua e pelas ruas vizinhas, e a vizinhança, talvez anestesiada, ou acostumada, pela visão, não lhe dá a mínima bola. Até já vi em certos casos interagir, tanto com ele quanto com o canino em questão, objeto de seus mais profundos afetos.
Aí, Diário, penso eu: quão longe eu estaria dessa situação? Não, definitivamente não é uma situação que invejaria (menos pelo cachorro, mais pela aparência caricatural que a situação se apresenta). Desconfio que a pessoa em questão é um tanto quanto doidinha (Não, não se pode atribuir isso ao seu vestuário, senão, estaria digitando diretamente do Pinel o Diário de uma Crossdresser Surtada). Mas penso que, no dia em que chutar o pau da barraca, vai ser para virar de vez mesmo, com tudo o que Vanessinha teria direito, e não apenas no estágio intermediário que meu vizinho aparenta estar agora, seja por falta de dinheiro, de perspectiva ou mesmo de um parafuso em sua cabeça.
Mas que, diante das oportunidades que a vida me reserva neste atual momento, respondo a pergunta lá de cima: minha situação não difere muito da dele... mas pelo menos, posso acrescentar o tal do "por enquanto"...

P.S. 1: A propósito, já ia esquecendo: ele hoje estava com uma roupa unissex. Talvez efeito do frio. O que demonstra também que ele pode ser doido, mas não periguete...

P.S. 2: Outra pergunta que me faço: quão feliz ele é hoje, vestido e comportado como imagina estar? Certamente melhor do que muitos que conheço, a começar pela autora destas linhas passando por vários que leem este post right now. No fundo, certo está é São Paulo quando afirma em uma de suas Cartas de Coríntios que "a sabedoria dos homens é loucura diante de Deus"... Até quando serei (seremos) sábia(s)?

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Novas Amizades...

Amistoso Diário,

Uma das minhas amigas mais entusiasmadas com os perdidos de Vanessa (e que fez questão de almoçar comigo duas sextas-feiras seguidas para que eu a atualizasse sobre as novidades, não se contentando com esta visão, digamos, oficial deste blog), me propôs, para o almoço da semana, que convidasse uma outra amiga dela tão empolgada quanto, para que pudesse contar minhas peripécias e revelar sobre Vanessa.
Com todas as garantias de que ela fosse entender este meu mundo maluco (ou será normal, chi lo sa?), nos encontramos para almoçar. Ela foi logo me apresentando à amiga como Jones, como ela passou a me chamar desde o primeiro voo em São Paulo. A garota nada entendeu, e quando contamos a verdade ela logo se interessou e quis saber mais detalhes...
Voltei para o trabalho animada. Cada vez que conto isso para alguém, não deixa de ser um alívio. Mais uma que sabe da Vanessa. Mais uma que sabe quem eu realmente sou, dos meus sonhos, dos meus desejos que vêm cada vez mais aflorando.
É como se cada pessoa que conhece minha identidade masculina passasse, ao ter acesso ao mundo de Vanessa, a atravessar um portal destinado a poucos...
E o pior (ou melhor, dependendo do ponto de vista...) é que ultimamente ando vendo mais o facebook da Vanessa do que o meu próprio, o que significaria, num primeiro momento, que minha visão do mundo já está sendo limitada pelas impressões "vanessísticas", ou como se a pessoa não fosse atualizada o bastante para entrar no meu verdadeiro mundo...
Então, seja benvinda amiga, e não se espante com a bagunça! Saiba que, embora isso possa não ser de grande valia, você faz parte de um pequeno grupo que realmente pode bater no peito e dizer: "sim, esta conhece tudo (ou pelo menos quase tudo) sobre ela..."
Se pudéssemos usar de outra linguagem, meu lado masculino é exotérico e o lado feminino (leia-se Vanessa) é esotérico, ou seja, só para as iniciadas... como essa minha nova amiga!

Mais da NOVA

Novo Diário,

Terminei hoje de devorar minha NOVA de agosto. E no final, mais precisamente na seção Rapidinhas de Nova (literalmente, a última página da revista), foram apresentados os tais "10 Novos Mantras para Mulheres Modernas". Uma destas frases me chamou a atenção (e qualquer semelhança é mera coincidência): é o quarto mantra, tudo a ver comigo...

4 - O que você faria se não sentisse medo? FAÇA!
(Sheryl Sandberg, COO do Facebook) (o que é COO?)

Os leitores deste blog provavelmente se lembram que se eu estou tão assanhada assim ultimamente, isso se deve ao tal do FAÇA. E as tais quatro letras capslockianas aqui escritas foram o mesmo conselho (com o mesmo capslock) que recebi umas duas semanas atrás e que mudaram o modo de eu ver o mundo e as coisas ao seu redor.
Achei coincidência. Mas, pensando bem, vocês já sabem o meu conceito de coincidência, já devo ter postado dias atrás no facebook ou aqui mesmo... é o tal do pseudônimo que Deus usa para assinar Suas obras...

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Para Refletir... Direto da NOVA...Com Uma Pitada de Goethe

Vazio Diário

O "vazio" aí de cima vem do quão sem assunto eu estou para falar com vocês. Na realidade, São Paulo e Friburgo foram dois marcos na minha vida tímida de crossdresser... e o pior é que deixou aquele gostinho de quero mais, de que todo domingo emende logo num sábado, e que as feiras, de segunda a sexta, passem num piscar de olhos...
Mas aí percebo que a vida não pode ser feita apenas de eventos excepcionais, fins de semana fantásticos etc e tal. Pelo contrário, a maior parte dela é feita de acontecimentos banais, comuns, comezinhos, em que eu também gostaria de estar de menina... mas, se é isso por enquanto (eu disse: POR ENQUANTO) que me permite a vida e minha ousadia, bom, vamos aproveitar a parte que nos cabe neste latifúndio, por enquanto...
Neste sentido, o editorial da NOVA, escrito por sua nova (sem trocadilho!) editora Monica Kato veio bem a calhar, e me trouxe certa reflexão sobre a tal da ousadia. Transcrevo-a para vocês, vai que alguém está precisando ler isso, mas não tem tempo, saco ou simplesmente não gosta da revista mas quer ler de qualquer jeito. Voilà! Para quem está interessado, está na página 8:

"'Como você ousa dizer isso?' 'Como você ousa me interromper?' 'Como você ousa desafiar as regras?' Se pararmos para pensar nessas frases, vamos reparar que, muitas vezes, o sentido da palavra ousar parece negativo. Quando ousadia, na verdade, tem um imenso caráter positivo. Ousar está ligado a ter coragem, romper, encarar, mudar. E tudo isso pode trazer uma porção de coisas boas(...)"

Ao ver este texto, lembro-me logo de uma de Goethe, cuja versão que li, creio, no Almanaque do Pensamento de 1990 (eita tempo!!!) era mais ou menos assim:

"No momento em que nos comprometemos, a providência divina também se põe em movimento. Todo um fluir de acontecimentos surge ao nosso favor. Como resultado da atitude, seguem todas as formas imprevistas de coincidências, encontros e ajuda, que nenhum ser humano jamais poderia ter sonhado encontrar. Qualquer coisa que você possa fazer ou sonhar, você pode começar. A coragem contém em si mesma, o poder, o gênio e a magia"

Olha, depois principalmente do que aconteceu em São Paulo e Friburgo, ouso (sem trocadilho!) dizer que, se já acreditava e gostava desta frase, agora, colocando-a em prática como coloquei, é realmente fantástica.
Então, como explicar que um anjo tenha me atendido em São Paulo e me dado coragem para que eu pudesse fazer a loucura que outro anjo me atiçou dias antes? Como explicar a transformação que tive em Friburgo, de trocar uma calça jeans e um tênis em questão de minutos por uma legging e uma bota, coisas que sempre sonhei em ter? As coisas de repente se encaixam de tal forma que às vezes me pego pensando no trabalho se realmente eu não perdi muito tempo na minha vida pensando bobagem sobre "o que os outros vão pensar", ou sobre minha imagem etc e tal...
E aí começo a concluir que, sim, não é tão difícil se expor na rua, andar assim perto de sua casa, aos olhares espantados (vide post anterior) de meio mundo. E que, mesmo o maior dos obstáculos, que é se revelar para sua família, também não seria nenhum bicho de sete cabeças.
E que ser feliz exige de nós talvez apenas um pouco de... ousadia!



quarta-feira, 6 de agosto de 2014

A Hora dos Três Espantos

Espantado Diário,

Aristóteles já afirmava que o começo do conhecimento é o espanto, ou thambos em grego. Neste caso, devo admitir que devo ter deixado bastante conhecimento em Friburgo, mas destaco inicialmente estes três casos que foram muito curiosos e, felizmente, não me abalaram nem um pouco...
1) Da amiga que fiz aguardando trocar o vestido: Lembram-se dela? Sim, é a menina que acabei fazendo amizade no Facebook etc e tal. Ok, ela não ficou tãããão espantada quanto os casos a seguir, mas notei que mesmo quando não estava falando com ela, ela continuava a me olhar como se quisesse saber a causa, razão, motivo ou circunstância (feat. Prof. Girafales) que eu me vestia daquele jeito. Com um pouco de conversa, consegui-a convencer não exatamente, talvez, sobre a minha normalidade, mas pelo menos me saí bem ao provar que posso conviver bem com outros da minha espécie, ainda que esteja trajando roupas de outro gênero...
2) Da filha da Sócia: essa foi a que mais receio me gerou. Explico: Desde a janta em Friburgo apareço para a família da Sócia em trajes, digamos, pouco ortodoxos, e ninguém tinha reparado nada: o marido dela me tratando normalmente (depois soube por ela que avisou-o antes para estar preparado para meus hábitos pouco vulgares, ao que ele assentiu e, realmente, me tratou normalmente...)
Da mesma forma eu: em nenhum momento comecei a desmunhecar ou agir afetadamente, o que faço por duas razões: a primeira, é que não sei fazer isso, sai artificial e a segunda, simplesmente, porque não gosto. Para mim, o simples fato de estar vestida já me agrada, já me satisfaz. Bom, pelo menos para mim...
Mas voltando... quando entrei no carro de vestido para ir à Fevest com eles, a filha dela, uma menina muito esperta e viva me deu uma encarada por uns cinco loooongos segundos, parada, observando... olhei para ela também, e ela sequer desviou o olhar (ah, a sinceridade infantil...). Falei com a mãe depois, rindo, ao que ela disse, seguido de uma gargalhada: "você há de convir que é novidade pra ela..."
Detalhe: depois daquele minuto de silêncio, ela agiu naturalmente, como se nada ocorresse. Talvez tenha sido apenas o thambos mesmo...
3) Do garoto na Fevest: para terminar a hora do espanto, na Fevest, após andar por um bom tempo e meus dedos (sempre eles) pedirem pela milésima vez piedade de suas almas quase achatadas, vi um stand que vendia produtos plus size, e chamei a atenção da Sócia para falar com uma das donas. O stand parecia ser de algum negócio de família, pois tinha pessoas de várias idades, de idosos a crianças. Quando vi que a conversa iria render, aproveitei e sentei-me um pouco numa das cadeiras do lugar.
Aí, ao sentar, vi que um garoto, que tinha lá seus  não tirava os olhos de mim. Mas quando digo não tirava é: não tirava mes-mo. O garoto me encarava, eu encarava ele e ele nem tchum. Sabe quando parece brincadeira de estátua ou de sério? Quase perguntei para ele onde fica o Control+Alt+Del dele para destravá-lo... (na verdade quis tirá-lo da letargia que se encontrava mostrando-lhe a língua, mas me contive...)
O que aproveitar de lição de tudo isso? Não sei ao certo, talvez o fato de que poderei ser por um bom tempo o centro das atenções, ainda que não queira... e que, ao contrário do que se possa pensar, este estranhamento não possa ser associado diretamente com preconceito, mas que, simplesmente, seja apenas como a Sócia bem resumiu: vocês hão de convir que eu sou uma novidade para todos eles...

E A Fevest, Afinal de Contas?

Ansioso Diário,

Você percebeu quanta coisa rolou até chegarmos, finalmente, na Fevest? E lá, como foi?
Bom, fui de vestido, calça e bota. Meus dedos já estavam pedindo arrego, muito arrego. Fizemos alguns contatos, claro que incipientes, mas já deu pra ver quem dá uma moral para as gordinhas como eu... ganhamos algumas publicações também, e nossa visita (não se esqueça que estava com a Sócia) não durou mais que duas horas. Agora estou começando a ler alguma coisa do que ganhei por lá...
E, sinceramente, lá foi o lugar onde me senti mais à vontade, ou pelo menos o lugar em que reparei que repararam em mim... me entregavam materiais, me atendiam todos solícitos etc...
Comecei a voltar para casa por volta de umas cinco da tarde. Engraçado foi que mal comecei a voltar de lá e uma prima tinha me chamado no Messenger, e fez uma pergunta inocente: "Tudo bem contigo?" Aí eu refleti: estou vestida de menina, feliz... então está tudo ótimo! Engraçado que ela era uma das parentes para quem sempre quis contar sobre Vanessa e, confesso, meu dedo coçou para escrever algo do tipo: "Estou feliz, você nem imagina o quanto!" (está certo que o fato de estar sentada no carro ao invés de andar ajudou nesta minha empolgação...). Mas aí ela iria perguntar e aí já viu...
Despedi-me do pessoal e peguei um táxi. O motorista acho que nem me viu direito, pois estava carregada de malas e entrei por trás (ainda mais estava de preto...). E cheguei em casa mais cedo do que na semana passada, mas mesmo assim ninguém (ainda) me viu.
Cheguei em casa, minha senhora me viu mais arrumada do que na semana passada, mais feminina (ou caricaturalmente feminina) e meio que se rendeu às evidências...

terça-feira, 5 de agosto de 2014

A Troca e A Moça

Diário,

Cheguei em frente à loja faltava, creio, uns vinte minutos, em que via um funcionário com toda a má vontade deste mundo abrir, fechar, reabrir o portão da loja e enxotando duas ou três clientes mais apressadinhas. Sentei num banco para aguardar, coisa que meus dedos agradecem até hoje, e de repente chega uma morena com uma pele (eu diria cútis, mas soaria besta) tão branca e tão limpa ao mesmo tempo que não tive como não olhar. Ela era (espero que continue estando) linda e muito bem vestida. E se queixava para mim de que tinha esquecido a chave da loja em que ela trabalhava, do lado da loja em que deveria ir. Fiquei jogando uma ou outra conversa fora mas aí era inevitável: eu estava ali sentada de legging, bota e blusa feminina. Não tinha como a menina, ainda que falando comigo, ficar me olhando com uma cara de "mas o que é isso, meu Deus do Céu?". Ela fez essa cara inconscientemente, mas sem maldade ou preconceito ou coisa que o valha. Foi um instinto natural. Aos poucos fui me soltando, dizendo que eu gostava de me vestir assim etc e tal. Ela foi solidária, e começou a me compartilhar alguns gostos dela, como a de ter um gosto meio riponga. Eu, que antigamente odiava esse tipo de visual, comecei a ter simpatia, principalmente por conta daquelas saias longas... aos poucos ela deve ter reparado que não era exatamente um louco e começou a afagar meu ego dizendo que todos deveriam se vestir como bem quisessem (ah, se tudo fosse assim, estaria no paraíso!).
A conversa fluiu bem, adicionei-a no facebook e logo depois veio a colega dela abrir a loja...
E, claro, falamos de roupa, eu com minha clássica pergunta e ela com sua clássica resposta... prometi ir até a loja dela depois fazer um teste que já imaginava ser em vão, mas não pude negar o convite daquela simpatia em forma de pessoa.
Aí a loja abriu, o funcionário mal encarado sumiu e eu fui trocar meu vestido. Peguei um 50, provei mas senti que ele ficava largo nos ombros. Mesmo assim fiquei com ele e voltei para minha mais nova amiga.
Lá chegando, ela me mostrou alguns vestidos mas me encantei por um (o único que provei aliás), um preto decotado com brilho na parte de baixo que não me perdoo até hoje de não ter tirado uma foto com ele (mas que se ela, acaso esteja lendo estas linhas e tiver piedade de sua nova amiga vai me tirar uma foto dele e me mandar pelo face...).
Agradeci o carinho e a paciência que ela teve comigo e fui embora, quando reparei que tinha deixado o óculos na loja. Voltei e aproveitei para trocar pelo 48 mesmo...
Moral da história: só me atrasei indo lá pra loja, poderia ter adiantado minha vida. Mas perderia a chance de fazer mais uma bela amizade. Só por isso valeu saber que hoje caibo num 48 perfeito!

PS.: Quando ela me falou do seu gosto pelas roupas ripongas, não pude deixar de me lembrar de minha querida idolatrada salve salve Lauretta neste clipe aqui embaixo. Assim, em homenagem a essa minha nova amiga, dedico esta canção! Benvenuta sia alla mia matta vita! Seja benvinda a minha louca vida!


PS.: Espero que eu tenha correspondido à sua ansiedade...


Domingo de Manhã...

Dominical Diário...

Mal consegui dormir naquela noite... além do frio de menos de dois dígitos, estava excitada pelo meu footing noturno e comecei a agradecer muito a Deus... no feminino, veja você! Só agradecia por aquele momento maravilhoso! E decidi comigo mesma: domingo vai ser ainda melhor: vou tomar café vestida, vou sair de manhã, comprar uma saia linda que vi na feirinha e trocar meu vestido. Como assim trocar o vestido?
Explico: fui ver a etiqueta dele, era um inconfessável 48, e meu manequim, até onde eu sei, fica confortável com um (promete não contar pra ninguém?) 50...
Só que... se eu quisesse fazer isso, meus planos fevestianos iriam demorar um pouco mais, pois pensava em ir com a Sócia por volta de meio dia, mas a loja lá abria somente às duas da tarde... fazer o quê...
Mas isso tudo no mundo maravilhoso de Alice funciona perfeitamente, no de Vanessinha nem sempre. Tive mais uma pequena crise de pânico ao entrar na sala para o café: eu vestia um preto longo básico lindo e uma rasteirinha, além do casaco de lã, para dar uma disfarçada. Fui procurar uma mesa no canto, mas fiquei bem no meio, mas estava sozinha. Os funcionários, se viram meus trajes, nada comentaram (ah, a discrição...) e fui tomar meu café.
De repente chegou um casal, e o pânico tinha retornado. Mas qual não foi a minha surpresa ao saber que se tratava de um casal de deficientes visuais? Não chegavam a serem cegos, eu acho, mas tinham problemas visuais. Aí relaxei, lembrando-me do "Epitáfio" dos Titãs, com seus versos: "o acaso vai me proteger enquanto eu andar distraído..."
Refeita do susto, voltei ao quarto e peguei minhas coisas rumo ao que me restava de compras: fui vestidinha (mais uma vez um pequeno pânico ao sair do hotel) para a feira achar minha saia. Lá chegando, comprei ainda uma boina de oncinha (para esconder meus cabelos grandes e dar um toque meio estiloso à produção, pelo termo "estiloso" você pode trocar por "fresco", admito...) e a moça que me viu toda empolgada ontem com a saia já foi me vendendo e eu, em mais um de meus acessos, coloquei-a por cima da parte de baixo do vestido e saí, bela e fogosa rumo à frustrada troca do meu vestido, não sem antes passar na única loja aberta num domingo de manhã em Friburgo, fazer a clássica pergunta por vestidos GG, receber a clássica resposta de que não temos mas tem um G aqui que é bem largo, querer provar e fazer minha última prova num tubinho de couro que sabia que não entraria em mim nem por decreto, mas que não me impediu de fazer uma selfie...
E quando disse frustrada foi porque a loja só abriria duas da tarde mesmo. Quando voltava, a Sócia ligou perguntando quando e onde iríamos nos encontrar para, finalmente, irmos à Fevest. Contei do meu drama, mas ela iria também demorar, pois iria fazer um passeio no Teleférico, o que dava tempo de colocar minha bagagem no carro deles, almoçar, trocar a roupa e encontrar com eles depois. E foi o que eu fiz...

Jantar Em Família

Familiar Diário,

Lembrou-se do final do último post? Pois bem, com a anuência um tanto quanto inconsequente da Sócia, fui-me quase manquitolando (meus dedos do pé já começavam a pedir arrego...) ao restaurante, depois de minha última aquisição, que pensava em usar logo mais...
Com o tempo você percebe, andando bastante na rua, que as pessoas vão continuar te observando, mas você já começa a agir sem neura e com maior naturalidade. Em certos momentos, você consegue até brincar com o inusitado da situação ou levar numa boa e, de repente, fazer até uma boa e inesperada amizade... cala-te boca, já estou me adiantando... voltemos à janta...
Quando entrei no restaurante procurando a sócia e família, novamente senti aquele estranhamento natural de se sentir estranha e de repente todos no recinto olharem espantados para um homem com bota e legging, sem contar na blusa... mas durou uns cinco segundos, suficientes para encontrar o pessoal e me sentar logo (pelo menos a parte de baixo, que denunciaria mais, ficaria devidamente escondida...)
Jantei uma lasanha aos quatro queijos (prato de gorda fã do Garfield!) e voltei sozinha para o hotel. Não estava longe, é verdade, só para meus mindíssimos... com um vestido novo e uma vontade louca de sair logo mais à noite!
O que se segue depois foi o relato contido nos posts "Neste Exato Momento", sobre a Mayara (ou será Maiara, ainda hoje não sei...) e sobre as músicas da Sandy. Portanto, ao leitor neurótico que deseja manter uma certa coerência cronológica, peço que (re)leia os posts acima indicados. Refeita do que vivi naquele momento, posso afirmar com certeza: foi, apesar do medo e do pavor de estar andando sozinha numa cidade desconhecida em plena madrugada, foi um dos momentos certamente mais emocionantes da minha vida. Não sei se chega a comparar com São Paulo semana passada, aquele foi um momento de porralouquice (#quemnunca?) a se repetir de décadas em décadas. Ali não. Estava tudo planejado, estava tudo como eu queria que fosse: eu, curtindo uma ainda que caricatural feminilidade, mas cuja tendência, minha senhora já começa a se lamentar, parece ser irreversível... para ela, a questão não é mais SE eu me tornar Vanessa, e sim QUANDO me tornar Vanessa.
E esse QUANDO, segundo ela, está cada vez mais próximo...
Vamos para domingo de manhã então?

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Como Ficar Irresistível em Duas ou Três Lojas Parte III - Do Vestido

Reflexivo Diário,

Quando saí da loja de calçados, começando a pagar meus pecados com a bota, sinceramente, me emocionei. Estava me dirigindo a um shopping e pensando: "nossa, meu sonho era estar exatamente assim, bem atraente, legging, bota...", e eis que me pego andando em Friburgo sob os olhares curiosos dos autóctones, uma perfeita menina. Fosse uma gordinha qualquer e ninguém reparava. Mas era eu, sem peruca, sem maquiagem, um menino enfiado numa roupa de menina. As friburguensas cruzavam por mim tão elegantes e com botas mais altas ou mais baixas do que as minhas e pela primeira vez eu não as invejava.
Eu era, finalmente, uma delas.
Entrei no shopping, e além do meu tradicional périplo pelas casas de revistas e livros (yeah, baby, I´m a book addict!), comecei a entrar nas lojas de roupas com o mesmo pedido na ponta da língua: "Você tem vestido GG?"
(Também esta pesquisa informal servia para testar a popularidade das roupas plus size nas altas rodas).
Poucas lojas tinham. Quando muito, alguns G´s bem largos, experimenta só!
Ah, estou vingada! Experimenta é? Não vai perguntar se é pra mãe, mulher ou namorada não? Não ouvi ninguém perguntando!!!
E ninguém tinha mesmo. Só um destaque especial para uma lourinha de uma loja logo na entrada que, além de me tratar como uma menina, me ensinou a colocar um vestido, com toda a paciência e delicadeza do mundo. Pena que, além do vestido ser G, seu preço infelizmente era 3G. Pelo menos para mim, a mais recente vítima dos cartões de crédito!
Vou para a última loja, uma de departamentos. Lá encontrei um tubinho preto lindo, para gordas (sim, tinha do meu tamanho!) com detalhes barrocos. Comprei com o que restava da minha dignidade monetária e fui para o hotel, feliz e pimpona! A noite friburguense que me aguarde, Vanessa Jones vai dar o ar de sua graça!
Para o hotel uma ova! A Sócia me chamou para jantar com ela e a família. Aceitei, mas com ressalva: "olha, eu posso até jantar com vocês, mas eu estou de menina aqui... tem algum problema?"
"E o que que tem?", respondeu ela, "ninguém vai falar nada!"
E fui, com o pouco de vergonha que tinha ainda levado na mala, jogando fora até chegar ao restaurante...

Como Ficar Irresistível em Duas ou Três Lojas - Parte II - Da Bota

Diário (ah, cansei de arrumar adjetivo pra você...)

Antes da legging, informo aos amigos que retornei à praça para procurar o tal agasalho que achei na loja anterior. Achei na verdade uma saia comprida liiiiiinda e coloriiiiiida que fiquei de olho, mas que somente no dia seguinte poderia comprar, uma vez que a busca do casaco e das leggings me consumiu o tempo...
Mas, mesmo assim, como sou brasileira e não desisto nunca, atravessei a praça para ver onde estava a tal da saia. Não achei. Fiquei daquele lado mesmo, pois mais à frente teria outra loja para visitar que gostaria muito, em que comprei dois vestidos certa vez...
Mas aí parei numa pequena loja de calçados e perguntei se tinha botas...
(Abro um parêntese para os futuros e amedrontados candidatos a crossdresser que desejaram comprar itens de outro sexo para vocês: se quiserem ser tratados com a maior naturalidade, vão a estes lugares devidamente travestidos: o simancol dos vendedores será imediatamente ativado e vocês serão tratados como pessoas do outro sexo. Acreditem, funcionou em várias lojas comigo, e essa foi a primeira! Fecho o parêntese)
Fui atendido - coisa rara - por um homem que, ao saber do meu interesse em botas e vendo aquela figura de blusa, cinto e legging com um destoante tênis, não hesitou em me mostrar alguns modelos "acima de 40". O que melhor entrou no meu pé foi um que não era liso como eu queria. Me desculpei com o moço e procurei em mais duas lojas, correndo e desesperada, pois já estava na hora de fecharem as lojas. Não achei chongas, e voltei para a loja, já de portas arriadas. Bati feito uma desesperada, e o rapaz, me reconhecendo, falou para entrar.
Provei a bota, gostei e, assim como na loja anterior, iria sair assim mesmo. Dito e feito.
No entanto, como nada é perfeito, ao dar os primeiros passos na rua, senti que ela, apesar de 40, era um pouco apertada. Mas não tinha mais o que fazer: meu cartão de crédito já havia perdido toda a sua dignidade e agora, ou eu me acostumaria com a bota ou ela se acostumaria comigo.
E com meus dedos no meio...
Agora entendo porque cortam os pés das meninas chinesas...

Como Ficar Irresistível em Duas ou Três Lojas Parte I - Da Legging

Fashionista Diário,

As coisas de uns tempos para cá estão correndo muito favoráveis a uma vanessização de minha personalidade. Não bastasse o que passei em São Paulo semana passada, e que em termos de quantidade de HVM (horas vestida de mulher) Friburgo superou - e muito - certos desejos começaram a se concretizar na minha fuça como um passe de mágica! Acompanhem e vejam se não é verdade...
Como já vim mal intencionada, como o post anterior dedurou, tirei minha roupa de homem e coloquei uma blusa bem menininha e o cinto que comprei na rodoviária, dourado (peruíce...) e saí, bela e fogosa, de calça jeans masculina e tênis do mesmo sexo.
Comecei a andar pelas lojas de lá. No início, procurei numa farmácia um batom e um corretivo para os olhos (afinal, urso panda só na China!). Compras feitas, fui bater pernas nas lojas, procurando um casaco (feminino obviamente, de couro ou de lã) e só. Só que não...
Parei numa loja e fui atendida por uma garota bonita, de olhos azuis e bastante curiosa. Pena que, mesmo dando meus dados para ela, a moçoila acabou de me esquecer de adicionar no facebook... mas vamos ao que interessa, as compras!
Depois de fazer a pobre coitada (que aniversariava àquela oportunidade) me mostrar com a maior boa vontade deste mundo todo o seu arsenal de casacos para gordas de seu estoque (com os quais não me satisfiz nem um pouco...) de repente não sei em que momento ela me falou de uma calça legging extra-extra-grande (sim, pesaroso diário, para acomodar meus glúteos não basta uma GG, tem de ser igual velocidade de internet: 3G...)
Mudei logo o foco das compras e me concentrei na legging. Na verdade, comprei algum tempo atrás uma calça destas também em Friburgo, mas entrar nela era praticamente um exercício diário de yoga nível intermediário...
Aí a moçoila me apresentou uma legging com uma espécie de brilho, que fez meus olhos brilharem mais ainda! E falei: posso provar? Se provar e ficar boa, já quero sair com ela da loja...
(Pausa para vocês se recuperarem do susto. Sim, podem rir também)
A menina concordou e me passou a calça para provar com uma inusitada condição: ela queria ver como ficava em meu corpo (?!). Assentei. Ela olhou e disse (não sei se papo de vendedora ou não...) que estava muito bom.
Eu também achei e, junto com outra legging com menos glamour, igualmente preta, e um casaco (sim, não nos esqueçamos que fui atrás de um agasalho!) parti da loja quase uma menina: blusa, cinto dourado, legging e um par de tênis masculino...
Mas o melhor (ou o pior, se você consultar meus dedos mindinhos dos pés) ainda estava por vir...

E Como Foi Afinal Lá Em Friburgo?

Curioso Diário,

Acredito que meus posts anteriores tenham dado uma prévia do que foi meu sábado e meu domingo naquela agradável cidade: uma beleza!
Antes de mais nada, devo dizer que o que eu fui verdadeiramente fazer em Friburgo foi apenas no domingo, mais precisamente das três às cinco da tarde, isto é, visitar com minha BFF Sócia a Fevest, Feira de Moda Íntima. Mas a farra começou antes, bem antes...
Na realidade, começou na sexta, quando coloquei na bagagem apenas vestidos e blusas. De masculino, efetivamente, só a roupa do corpo, composta de calça jeans, camisa de manga comprida e um casaco que não usei no fim de semana, destinado apenas a ocupar espaço na bagagem...
Eu iria para lá de ônibus, no entanto, consegui carona na ida e na volta com minha Sócia (chamemo-la assim doravante, entendedores entenderão!) e família. Enquanto passearíamos nas lojas friburguenses de moda íntima no sábado, seu esposo e sua filhinha iriam se divertir no hotel, ao passo que eu permaneceria numa pousada.
Tudo certo? Em termos sim. Como ainda (ainda, aguardem o desfecho!) não havia me revelado para a família dela, fiquei retraída de início.
Chegamos por volta de dez e meia da matina, e fui logo para a Fonte da Saudade... lá, apesar do calor pouco comum, não me arrisquei (ainda...) a colocar uma coisa mais fresca... um vestido talvez...
Mas pelo menos comprei algumas calcinhas boas para uma crossdresser como eu, além de dois pijamas femininos do meu tamanho (aleluia!!!). Comprei também um camisão fofinho e dois cintos. A aventura estava só começando...
Fomos almoçar (eu, a Sócia e a família), demos uma volta na feirinha da praça de lá e depois fui para o hotel. Descansar? Que nada, eram umas quatro horas da tarde, e eu ainda iria visitar o comércio de lá, se é que vocês me entendem... aí é que não prestou...

domingo, 3 de agosto de 2014

Sandy Parte II - Quem Eu Sou

Essa é barbada! Essa é mais uma das músicas que é a cara da sua amiga Vanessinha! Logo depois daquela música, escutei esta... e ao invés de colocar a letra legendada, como sempre faço nos clipes, prefiro colocar o clipe oficial, que está muito, muito bom, sem contar que aparecem várias Sandys que bem poderiam ser várias Vanessas, ai ai.

Enjoy e depois comentem: não é a minha cara?


Sandy Parte I - Perdida e Salva

Musical Diário,

Por duas importantes vezes na minha vida, tão logo ocorreu um evento que muito queria, lembrei-me imediatamente de uma música da Sandy (do primeiro cd solo dela, muito bom aliás, cujo nome não me lembro e a preguiça me impede de consultar no Google): a primeira vez foi "Tempo", a qual fortemente recomendo a consulta, quando finalmente saí da lista de desempregados alguns anos atrás. A segunda vez foi ontem, quando saí à noite do hotel, andando devagarinho, mais pelo medo de ser ironizada por algum autóctone do que pelo estrago que minha bota nova (Ai, comprei, não contei não???) fez nos meus dois dedos mindinhos dos pés... comecei a sussurrar a música e coloquei meu aparelhinho para tocar. Vejam se a letra, embora não queira exatamente significar o que estava vivendo, tinha tudo a ver com aquele meu exato momento:


Ah, e como ela mesmo disse no final, o nome do cd é Manuscrito...

Da Mayara (Ou Será Maiara?)

Noturno Diário,

Depois daquela edição especial postada no celular ontem, ocorreu-me um fato singular...
Passeava lentamente por toda a praça de Friburgo, observando o pessoal andando para lá e para cá, indo ou voltando de alguma festa. Atrai alguns olhares, mas como estava sempre ou olhando para o celular ou para o nada, ninguém, salvo um transeunte que me pediu um cigarro, conversou comigo. Mas eu, a gostosa (quem dera...) atraí vários olhares...
Mas, naquele momento de circunspecção, em que estava escutando Sandy (no próximo post falo quais as músicas que escutei...), eis que vejo uma cena muito curiosa: um ser de sexo não identificado, com uma touca na cabeça que não dava para identificar sequer se a raiz era ou não pintada de alguma cor (não se esqueçam: estava oito graus e eu estava com casaco em mãos, mas não o coloquei, no melhor estilo "periguete não sente frio"), com piercing em algum lugar semelhante ao queixo, discutia com duas outras meninas (essas sim, aparentemente dava para identificar) com um violão (!) nas costas. Como as duas meninas abandonaram olimpicamente o objeto cantador de sexo não identificado, este resolveu gritar alguns impaupérios às moças que Sandy não me deixou ouvir.
Como se quisesse desabafar, o ser humano (eu asseguro, não dava meeeesmo para saber o que era) voltou-se para mim falando cobras e lagartos das moças e depois deu-me os parabéns pela coragem em me assumir, dizendo algo do tipo pobre do mundo que precisa que alguém tenha coragem de se assumir assim. O timbre de voz da pessoa me sussurrava dizendo que era uma menina. Agradeci, e a pessoa ainda beijou minha mão, parabenizando-me mais uma vez pela coragem. Perguntei o nome, e veio como resposta Mayara (o y vai por minha conta, não caberia a mim naquele momento questionar se era com i ou y...). Após algumas trocas de gentileza reparei duas coisas: a menina (sim, agora eu sabia se tratar de um exemplar cromossômico xx) mui provavelmente era lésbica e estava sob efeito de algum psicotrópico alucinógeno, seja álcool, drogas, ou, ultimamente, torcer para o Flamengo.
A cena mais engraçada, no entanto, foi ela se despedindo de mim, me desejando boa sorte na minha vida e bom trabalho (!!) Como assim? Será que ela achava que eu estava me prostituindo ou algo do gênero? Tá certo que eu estava com uma bolsinha, mas nem de longe poderia ser um travesti à cata de alguns clientes no frio do inverno friburguense...
Logo depois a menina abandonou nosso colóquio ao ver provavelmente as duas meninas do antepenúltimo parágrafo e acabou sumindo na noite. Mas não sumiram suas palavras de incentivo nem seu beijo em minha mão. Por isso perdoo o seu boa sorte no meu trabalho. Valeu Mayara! (ou será Maiara?)

PS.: Mais ou menos uns quinze minutos depois disso, a mais nova travesti de Friburgo (segundo ela...) retornou aos seus aposentos sem um cliente para chamar de seu...

sábado, 2 de agosto de 2014

Neste exato momento...

...encontro-me na Praça Central de Nova Friburgo. São 1:47 da manhã e estou num tubinho preto com detalhes barrocos - pelo menos era o q falava a etiqueta - e completando o look uma calça legging preta brilhante e um par de botas comprido. Estou com um casaco de lã na mão - afinal, são oito graus, me informa o termômetro em frente a mim. A temperatura da água no lago que eu, com medo de ser ridicularizada ou coisa pior, enfrento num tubinho sem mangas. E amanhã será o dia todo assin também. E escuto Sandy para me distrair do frio e do medo... e continuar tomando mais e mais coragem rumo ao meu verdadeiro eu ...

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Deus e Eu, de Novo!

Precipitado Diário,

Antes que você comece a tirar conclusões prejulgadas a respeito do post anterior já adianto: nem o que aconteceu lá nem o que vou narrar aqui me autorizam, ou te concedem o direito de reescrever o status quaestiones religioso deste tema. Foi, sim, algo misterioso que acabou acalmando meu coração. Mas, como disse antes, ainda assim não acreditava que Deus, apesar de me fazer assim, não me torcia Sua santa face. E tive mais um desses insights tempos depois...
Eu estava num retiro espiritual da minha atual religião. Lá, entre uma e outra reflexão, comecei a questionar Deus. Bom, questionar não seria bem o termo, é mais perguntar a Ele sobre o que eu deveria fazer com meu crossdressismo...
Eu estava sentada num quarto, com um livro de orações no meu colo, e li um texto que tratava sobre missão. Dizia mais ou menos o seguinte: cada um tem uma missão no mundo e não deveríamos nos importar com as opiniões dos outros e prestar contas somente para Deus.
Bonito, não? Logo vi que isso era pra mim...
Saí para o ar livre e tive um insight mais forte ainda, algo que me dizia que eu não deveria mudar nada porque desta forma, exatamente assim, gorda, peluda etc era como Ele me queria. E queria para que eu pudesse ajudar as pessoas que, assim como eu, sofrem deste tal de crossdressismo...
Mais outro momento estupefato, Era como se fosse outra bandeira verde de Deus.
E passei a seguir a vontade Dele.
E este blog, amável Diário, nasceu exatamente naquele momento, quando prometi a mim mesma usar os dois ou três talentos que tinha para justamente ajudar as pessoas a nos entender melhor. A ver que, semelhantemente ao slogan dos protestos de junho do ano passado, não só se trata de mudança de sexo ou de roupas, mas sim, de satisfação e bem estar consigo mesma perante o mundo que o cerca. O que, em outras palavras, se chama de felicidade.
Quer coisa maior que essa?

Deus e Eu...

Religioso Diário,

Se lembra quando eu falei dos vários "serás" no post passado? Não é que eu acabei de me esquecer de um dos mais importantes, que é justamente esse: será que adiantaria cercear minha vontade por entender que isso perante os olhos dAquele que me fez é errado?
Passei quase quatro décadas da minha vida pensando assim, até que...
Bom, não nos adiantemos: nasci católica, li a Bíblia umas 13 ou 14 vezes (de Gênesis 1,1 a Apocalipse 22,21, e se for contar a versão da Ave Maria, católica, que tenho aqui em casa, inclua também os deuterocanônicos), flertei com as Testemunhas de Jeová (com direito a ler as Traduções do Novo Mundo das Escrituras Sagradas umas três vezes, incluindo uma versão em italiano), ou seja, criada numa educação religiosa autodidata que sempre tropeçava lá em Levítico, para dizer apenas um dos trechos em que era dito que era abominável perante o Senhor teu Deus se deitar com outro homem como se fosse mulher. Bom, eu nunca fiz isso, mas a vedação a qualquer coisa "como se fosse mulher" me incomodava um pouco...
Depois de uma adolescência bíblica fui parar em outra denominação religiosa que amo de paixão e onde assumo um cargo, digamos, religioso. Mal comparando, eu seria uma pastora ou semelhante lá dentro.
E, como não poderia deixar de ser, mais uma vez pesquisava sobre este minha, digamos, mania...
Sabe, Diário, apesar disso, nunca fui muito de reclamar a Deus por este complexo de Gabriela (eu nasci assim, eu cresci assim, vou morrer assim Gabrieeeeelaaaaaa...), mas de vez em quando bate uma dúvida. Certa feita vi o finado Clodovil numa entrevista dizer que quando ele morresse ele iria chegar nas portas do Céu e simplesmente perguntar: "porque nasci assim?"
Bom, o evento que vou narrar e que é completamente verídico, aconteceu semelhantemente a isso, escutem (ou melhor, leiam...)
Todos os dias acordo com as galinhas para trabalhar. E com minha mal-humorada matinal senhora também. Mas ela, contrariando a máxima de que mulher é mais vagarosa ao se arrumar do que o homem, sai sempre mais cedo que eu, que fico enrolando...
Mas um belo dia (que deveria ser uma segunda, eu sempre fico depressiva às segundas-feiras), eu resolvi, do nada, ter o topete, a audácia, a petulância de falar alto dentro de casa pra Deus dizendo algo do tipo: "Cara, não sou de me queixar muito não, mas, por que cargas d´água você me fez assim? Eu não largo desta vida porque não seria justo com o que sinto, mas você não poderia carregar um pouco mais na testosterona? Aí você me fez assim, e ainda vou pro inferno por conta disso? Isso não seria um pouco injusto? O que custava ter acertado um pouco mais a mão e eliminado os excessos? Ou então me ter feito macho de uma vez? Agora fico eu no meio-termo, não sou uma coisa nem outra! E o pior é que, por respeito a você, eu sequer posso ter um pouco de felicidade...você sabe o que é encontrar um monte de mulher lá fora que você queria ser mas não pode? Isso lá é justo? Não tô te adulando para ser salvo não, mas eu só queria um pouco de felicidade, que eu não tenho. Agora me responda: isso lá é justo? Isso é ser honesto comigo e contigo também?"
Foi mais ou menos essa a minha reclamação (alguns mais exaltados poderiam qualificar de oração, mas, como o tom foi um tanto quanto desrespeitoso, prefiro usar reclamação mesmo. Mas sou sortuda, Deus tem um senso de humor invejável comigo... fosse outro há muito tempo eu seria só pó...).
Me lembro que no final dessa cantilena meus olhos estavam quase lacrimejando, e disse por fim: "Ah, quer saber, esqueça e desculpa... já dizia o ditado que o bom cabrito não berra, e se essa é a minha cruz, ou minha missão, que se dane... chorar não vai adiantar nada!"... e tratei de terminar de me arrumar.
Cinco minutos depois comecei a cantarolar algumas vezes os versos de uma canção que daquele dia em diante, se tornou quase um hino religioso para mim: "...às vezes o que eu vejo quase ninguém vê, eu sei que você sabe quase sem querer que eu quero o mesmo que você..."
Reconheceram o trecho? Sim, é essa música aqui, ó:

Diário, te garanto: nunca fui muito fã do Legião, achava alguma coisa até maneirinha e minha música preferida deles sempre foi "Monte Castelo"... quando reparei que estava cantando essa música como se fosse uma resposta a minha reclamação cinco minutos antes, estava fechando a porta de casa chorando. Chorando e abobada. Pela primeira vez parei, ainda que fosse por um instante, de ter culpa. E vislumbrei uma tênue luz de esperança de que apesar de tudo Ele me fez assim por alguma insondável, até o momento, razão.
Mas mesmo assim, sabe, achei que era bom demais pra ser verdade e preferi esquecer... até que outra coisa aconteceu tempos depois, também envolvendo Ele. Aí resolvi parar de frescura e me assumir, de corpo e alma. Afinal, quem pariu Vanessa, que a embale! Mas este segundo episódio será tratado no próximo post...

PS.1: Reparem no início da música até o minuto 2:25: era como se eu estivesse cantando. Daí por diante era como se fosse Ele me respondendo...

PS.2:  Por ter sido algo totalmente espontâneo e ao mesmo tempo tão singelo, até hoje, quando conto ou lembro desta história, tenho vontade de chorar...