Como prova do que falei no post anterior, veja este daqui:
"Oi minha amiga.. um comentário matinal sobre seu último post no blog... Você se pergunta como pode inspirar alguém com o que escreve, e eu te respondo: apenas escrevendo, apenas expondo suas dúvidas.. muitas vezes - e vou ampliar um pouco a visão - a situação das pessoas é tão dolorosa e elas estão tão na dúvida, que nem ao menos conseguem admitir pra si mesmas o que temem.. só de pensar, dói. E o modo leve e divertido com que você escreve, tira esse peso.
O que você escreve, da forma que escreve, é mais um trocar de ideias do que um depoimento... e isso é muito bom. Vc mostra que há outras pessoas com problemas, com dúvidas, com situações delicadas, dolorosas e que também buscam resolvê-las.. portanto, continue.. beijo"
Alguém gostaria de comentar? Pois vou eu então...
Não sei se você reparou, diário, mas a concepção deste blog saiu totalmente de seu propósito inicial. Minha ideia seria criar - pasme você - um blog de moda, como tantos outros que pipocam por aí e que já fizeram algumas das blogueiras mais destacadas serem capas de revista, como, se não me engano, Camila Coutinho e Thássia Neves (me perdoem se escrevi o nome de vocês errado, estou com preguiça de consultar em Pai Google de Aruanda). Só que o meu diferencial seria exatamente partir do ponto de vista de uma crossdresser, e gorda ainda por cima (termo politicamente incorreto para plus size, por que edulcorar certas verdades?)... ou seja, mais underground, impossível. Mas o que acabou se revelando aqui foi relatos e mais relatos de uma vida até certo ponto frustrado de alguém que não consegue viver como sempre imaginou ser. E o tal do DNA do blog acabou se alterando radicalmente...
Agora, sejam sinceras, vocês imaginam uma repaginada nesta página, no sentido de vocês abrirem o próximo post e se depararem com as tendências outono/inverno desta temporada? Ou sobre a despedida de Gisele Bündchen das passarelas? Juro, era isso, exatamente isso que eu queria fazer... e talvez um dia faça... afinal, não entupo minha casa com Cosmopolitans (a.k.a. Nova), Glamours (ainda estou devendo um post sobre esta minha nova paixão em termos de revista), Elles e Vogues à toa... o meu consolo é saber que o You Tube, por exemplo, nasceu como um despretensioso site de encontros amorosos e veja o que ele se tornou...
Feitas tais considerações, prossigo.
Como acredito ter falado isso anteriormente, antigamente eu não considerava meu crossdressismo (perdoai o neologismo..) como parte integrante de minha personalidade, de meu eu. Eu achava que isso deveria ser colocado para debaixo do tapete mental de nossas vergonhas inconfessáveis... mas eu vi que isso de pouco adiantaria, porque o tapete continuaria lá, gordinho, encobrindo o que de pior ou mais vergonhoso trazemos dentro de nós, aquilo que não gostaríamos de confessar, ou reconhecer, nem mesmo a Deus... quanto mais a parentes e amigos...
Mas aí é que está o pulo do gato. Vamos nós nos esconder de Deus, tal qual Cains amedrontados após o assassinato de Abel? Vai adiantar isso?
Certa feita, vi uma entrevista interessantíssima com Clodovil (alguém lembra?) em que ele, com a simplicidade de sempre dizia que no dia que ele morresse e fosse ao céu, ou a algo parecido, chegaria para Deus e perguntaria para Ele a razão de tê-lo feito assim. Mas de uma forma sem raiva, sem cobrança, na curiosidade mesmo. Isso, minhas muitas senhoras e meus parcos senhores, é o que eu digo que é viver sem culpa, sem remorso por ser simplesmente ele mesmo. Algo que eu (ainda) não consigo alcançar, mas que, passo a passo, vou conseguir...
Em Dom Casmurro o genial Machado de Assis (que seja ele sempre louvado no céu da Literatura Universal) coloca na pena de Bentinho a razão para escrever aquele relato, o de atar as duas pontas da vida, a mocidade e a maturidade, em uma coisa só. É mais ou menos o que pretendo fazer aqui: jogar luzes a um aspecto da minha personalidade tão abafada e maltratada durante tanto tempo e atar, na medida do possível, este aspecto da minha personalidade à minha personalidade integral, a ponto de poder dizer, sem vergonha nenhuma, que eu, (...) (confesso que por muito pouco não coloquei meu nome real aqui, ráááá, pegadinha da Malandra!!!) sou assim, assim, assada e também crossdresser. Sem orgulho. Sem pena. Sem culpa. Apenas sendo.
E por fim: não queiram me tomar como modelo de nada. Não sou, nunca fui e não pretendo ser exemplo pra ninguém. Não aguento eu carregar minha cruz, preciso de vários Cirineus ao longo da vida, vou lá ensinar a carregar a cruz dos outros? Sou um exemplo de covardia, não é à toa que este blog nasceu no Dia de São Pedro do ano passado: São Pedro era o mais covarde dos apóstolos, o mais, se me perdoem o termo, joselito deles (duvidam? Contem as passagens em que ou ele fala besteiras junto de Cristo ou é por Ele mesmo repreendido... ele só acertou na bucha uma vez e mesmo assim Cristo disse para ele ficar quieto... choses de la vie...). Mas também era o que mais O amava (com todo respeito ao que a tradição fala sobre João Evangelista) e o que mais se esforçava para segui-lo.
Em suma, uma síntese do que seria o ser humano em busca da Verdade.
Da sua Verdade.
Carregando sua Cruz.
E é o que sua Vanessinha aqui pretende ser e mostrar aqui.
Porque o resto é tão passageiro quanto um blog de moda!
Prestem atenção no trecho a partir de 0:47...
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