quinta-feira, 28 de maio de 2015

Família II - Desabafo

Familiar Diário,

Como provavelmente não possa ter ficado subentendido no post anterior, um dos motivos (não o dominante, gostaria de ressaltar) para que me afastasse da família é um tão estúpido quanto (até o momento) inviável: eu queria estar entre eles como Vanessa.
Isso. Vou deixar uns cinco minutos aqui para você rir. Rir a bandeiras despregadas. hahahaha, kkkk, o que mais for. Pronto, acabou?
"Então você passa a vida toda como homem, some da sua família e quando volta, volta como menina, sem mais nem menos e nenhuma explicação? E a gostosa ainda pretende ser a rainha do baile, zanzando entre tios, primos de primeiro e segundo grau como se nada acontecesse, como se quase todo mundo não fosse te sacanear, falar pelas costas ou ligar para seus pais e dizer o absurdo que foi aquele homem peludo de vestido? Ora, Vanessa, faça-me o favor, pois não?"
Bom, este último parágrafo resumiu todas as minhas impossiblidades. E mostra como é difícil, simplesmente, ser natural ou se mostrar como parte de um grupo sem ser considerada uma aberração, ainda que este grupo te acolhesse como um dos seus enquanto você ainda usava calças.
Aberração. Como falei no início do último post, essa é a pedreira que eu teria que quebrar. A da minha imagem vista (principalmente por mim) como uma aberração.
Calma, eu sei que esta conversa é mais para psicólogos, psiquiatras e afins, mas estou apenas desabafando. Como eu posso agir de forma natural, sem que eu pareça algo totalmente estranho aos olhos dos conhecidos.
Afinal, todas as vezes que andei por aí como Vanessa simplesmente circulei entre estranhos, o pipoqueiro que me vendeu um saquinho era um ilustre desconhecido, o dono do sebo que me respondeu se tinha um determinado livro eu nunca tinha visto mais gordo...
Mas, e quando aquela tia fofa estiver na sua frente vendo seu sobrinho de vestido?
E quando aquela prima que você adora te ver de saia?
E quando aquele marido da tua prima olhar para você, dizer que está tudo bem e cochichar com alguém logo depois... e você pode apostar a sua vida que você é o assunto!
E quando aquele filho de uma prima (pensou que iria falar outra coisa, não?) que não entende nada disso lhe perguntar na cara dura "Porque você se veste de mulher?" E você, pacientemente, tendo que discorrer sobre que diabos é o tal do crossdresser ("Sabe o Laerte?" "Não" "Então a Xana da novela que acabou?" "Ah, você é isso?")
(Outro parêntese: como você pode perceber, a vida é muuuuuito irônica: povoou o lado paterno de mulheres, ou seja, salvo raras e benditos-frutos exceções, só tem mulher lá! Imagine a TPM! Só se esqueceu de euzinha aqui... Ah, vida, sua grande sacana... fecha o parêntese)
Respirou fundo? Parou de rir? Sacou qual é o meu drama?
"Ih, tu tá fresco hoje, hein? Vai procurar um psicólogo!"
Ok, psicólogo pode ajudar. Mas ele não vai entrar na cabeça de cada um que vai falar contigo e dizer algo do tipo "Ei, liga não, ele é maluco assim mas é gente boa...". O que ele pode te fazer é encarar a coisa com duas coisas que eu preciso urgentemente. Duas não, três...
Coragem. Em escalas industriais. Aos quilos. Aos litros, se tiver. Quanto mais e em qualidades diversas melhor. Isso eu preciso muito, com urgência. Pra ontem!
Humor. O dissolvente universal da cara amarrada. Nem sempre ajuda, é verdade, mas pelo menos você aprende a defecar e perambular lindamente tal qual um cavalo numa parada de 7 de setembro. Isso, eu reconheço, até tenho em certa quantidade.
Ah, e paciência. Porque a vontade que eu tenho seria a de andar com uma plaquinha ou um folheto do tipo "Tudo o que você queria saber sobre mim mas tinha vergonha ou não parou de rir ainda com meu novo look", obviamente com o link deste blog.
Ah, crossdressers, os maçons das minorias sexuais...
Próximo post, please!

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