sexta-feira, 29 de maio de 2015

Vergonha, Numa Hora Dessas?

Envergonhado Diário,

São 2:57 da manhã, eu deveria estar escovando os dentes e indo dormir o sono das justas, mas não, estou aqui humildemente pedindo sua atenção para vencer (mais um) de meus fantasmas internos, este aqui chamado vergonha. E, para tanto, peço o auxílio do bom e velho Pai Google de Aruanda, para que nos decifre novamente o que vem a ser essa tal de vergonha:

vergonha
substantivo feminino
  1. 1.
    desonra que ultraja, humilha; opróbio.
    "a v. de um insulto"
  2. 2.
    o sentimento desse ultraje, dessa desonra ou humilhação; opróbio.
    "redimiu sua v. com um duelo"

Não, eu não vou mais amolar Pai Google para saciar a curiosidade de vocês em saber o que é "opróbio". Consultem vocês mesmos, seus preguiçosos!
Então quer dizer que vergonha é tudo aquilo que humilha, ou que nos faz sentir humilhado. Ser servido como prato principal para as malediências alheias realmente não é lá das melhores coisas da vida, passar sempre o resto da vida querendo provar que você é mais do que um simples pedaço de roupa que te identifica como sendo deste ou daquele sexo, essa batalha inglória e inútil que você tem para querer convencer os outros de que você vale alguma coisa quando nem mesmo você acredita que você mesma vale alguma coisa. Ou, como diria o bom e velho Raul Seixas em "Por Quem os Sinos Dobram" (disparadamente a melhor canção dele, com perdão de "Gita"), "Convence as paredes do quarto e dorme tranquilo / sabendo no fundo do peito que não era nada daquilo".
Então chegamos ao final da nossa investigação. Vamos às conclusões: 
1 - Vanessa Jones é uma fraude, senhores. É apenas uma tentativa ridícula de um frustrado quase quarentão de choramingar, post após post, a sua desgraça em não nascer mulher;
2 - Como toda c... que se preze, ele nunca, jamais, em tempo algum terá coragem para se assumir, com medo de magoar em especial seus pais e sua senhora, e permanecerá ad aeternum insatisfeito com sua condição;
3 - Portanto, senhores, abandonem este blog agora, deletem-o de sua timeline. Se este é o modelo que vocês esperam de alguém que lhes infunda coragem e destemor ante as intempéries da vida, vocês estão iludidos: desse limão não sairá limonada alguma; ao contrário, ele secará...
Tudo isso agradeça a quem? À vergonha.
Bom, como diria Sun Tzu em sua Arte da Guerra, se você quiser vencer seu inimigo, terá de conhecê-lo. E eu já identifiquei.
A vergonha não perde por esperar... I´ll be back!


   



Peraí, Deixa Eu Tentar Entender...

Confuso Diário,

Você e os leitores mais espertos que mencionei no final do post anterior devem estar coçando a cabeça agora e fazendo a seguinte pergunta para mim:

"Peraí, Vanessa, deixa eu tentar entender uma coisa: se você se esforça tanto para não dar pinta, não exagerar em seus trejeitos, por que você teria medo de interagir com jovens e idosos se você não passaria essa imagem caricatural para eles?"

Como diria minha senhora, esta é a pergunta de um milhão de dólares, que até deixei em destaque aqui.
E a resposta é... tchan, tchan, tchan, tchan...
Porque, em parte, queira eu ou não, essa é a imagem que os cd´s e afins ainda passam para a humanidade em geral (ainda que tal visão, modestamente, não resista a cinco minutos de uma boa conversa comigo, isso eu garanto) e, em parte (e aí vem o pior...), porque eu ainda tenho, para tristeza de meus admiradores e fãs, um pouco de vergonha de mim mesma, de minha condição.
Surpresos por esta confissão? Sim, eu tenho vergonha...
E no que consistiria essa vergonha?
Vergonha de ter "fracassado" em aceitar meu sexo genético...
Vergonha de ter "sucumbido" às roupas femininas...
Vergonha, em suma, de não aceitar apenas um dos meus diferenciais em relação ao resto da humanidade...
E eu, que pensava em terminar aqui minhas divagações sobre o tema, vejo-me forçada a gastar mais uma folha deste diário para mais algumas reflexões... próximo post, please!

Caricatura?

Caricatural Diário,

Pesquiso agora na internet a primeira definição que o Pai Google de Aruanda dá para o termo caricatura, e o que encontro?

caricatura
substantivo feminino
  1. 1.
    desenho de pessoa ou de fato que, pelas deformações obtidas por um traço cheio de exageros, se apresenta como forma de expressão grotesca ou jocosa.
  2. 2.
    fig. reprodução deformada de alguma coisa.
    "suas obras eram c. de arte moderna"

Mantive o layout do termo para não perder a originalidade! Daqui continuo...
Em suma, uma caricatura é uma descrição deformada, exagerada, de alguma coisa. E esse é talvez um dos traços mais prejudiciais de todo crossdresser ou transexual (para não falar de drag queens, estes então...): o exagero enfático numa feminilidade artificial ou, pior, numa sexualização de seu comportamento que, de tão grotesco, chega a ser agressivo... 
Não que as categorias acima listadas sejam desta forma: de uma certa maneira, eles tiveram sua sexualidade tão reprimida que, quando estouram, realmente se apresentam (e aparentam) assim... mas, voltando...
As poucas pessoas além de minha senhora que já tiveram a oportunidade de interagir comigo a bordo de um vestido, uma saia ou alguma outra peça feminina sabem que o meu comportamento, em absoluto, não muda: não falo em falsete (embora confesse que não gosto nem um pouco do meu tom de voz: nas poucas vezes que pude escutar em delay minha voz no celular entrava em pânico), não desmunheco nem começo a agir afetadamente. Permaneço o mesmo (ou melhor, a mesma). Isso porque eu entendo simplesmente o seguinte: a mudança para Vanessa será apenas uma mudança na embalagem, e não no conteúdo: todo a minha vivência, cultura e experiências apenas mudaria de formato, por assim dizer. É como se você transferisse todos os seus arquivos de um computador velho e feio para um bonitinho cor-de-rosa que você imaginaria ser muito mais funcional do que o que você usa atualmente... muito embora, reconheço, essa metáfora que utilizei seja de pouco uso prático na vida real...principalmente para os que vão utilizar a máquina, porque vão julgar que os arquivos são oriundos daquele computador velho e caquético que já não lhe serve mais...
Entenderam? Os leitores mais espertos podem captar uma certa incoerência no que descrevi até aqui, incoerência esta que revelarei no próximo post. Vamos a ele?

Sarcasmos À Parte...

Sarcástico Diário,

Recuperando um pouco do sarcasmo dos posts anteriores, o que mais restou implícito deles? Uma questão, que, sinceramente, não sei bem como colocar ou expor no papel, sobre um sentimento que... bom, vou tentar explicar através de alguns tortos raciocínios que fiz hoje pela manhã...
A verdade é que, atrás deste mundo de sonho que imagino para mim quando abrir meus olhos pela manhã e pensar: "daqui por diante passarei a viver como mulher", existe muita coisa a ser feita... uma delas é parar de acreditar que minha versão feminina somente serviria para consumo a partir dos 18 anos até, vamos lá, 60 anos...
Entendeu? É como se você se sentisse inadequada para conviver com crianças e adolescentes por, sei lá, ser uma potencial má influência para eles, um péssimo exemplo ou algo do gênero, e da mesma forma inadequada para conviver com pessoas mais velhas do que você, que teriam uma visão distinta (e valores distintos também) dos dele...
Em ambos os exemplos, você seria considerada, como coloquei anteriormente... uma aberração!
Aberração porque você foge dos padrões normais do que se espera para uma pessoa, ou seja, é aquilo que batizo de complexo de flamenguista (os anti-flamenguistas é que vão adorar isso!), ou seja, uma vez aquilo, sempre aquilo. Você não pode fugir dos padrões, sob pena de (1) se marginalizar e (2), literalmente procurar sua turma, ou seja, se "guetizar" (tirei do termo "gueto"), ou seja, espaços mais ou menos liberais em que você seria aceito ou aceita pelo que você é, e não pelo perigo ou excentricidade que isso representa...
Mas a questão da aberração tem raízes mais profundas. Está ligado a um negócio chamado... (tampem os ouvidos, tirem as crianças da sala!) sexo!
Sim, o bom, velho e mal falado sexo. No momento em que você se apresenta para os outros, especialmente para os menores de 18 e os maiores de 60, fatalmente você se apresenta como uma ameaça para eles. Para os menores, sob a forma de má influência para uma futura vida sexual (ainda que a sua seja menos movimentada do que a de um padre) ou de uma ofensa aos seus valores tradicionais, no caso dos maiores...
Por isso tamanho receio em aparecer vanessizada para os baixinhos e altinhos (Xuxa curtiria isso!): porque, no fundo, no fundo, eu não consigo conceber Vanessa como algo mais além do mero desejo sexual, ou fetiche, podemos dizer assim, de viver como mulher. Ou, em outras palavras, repetindo a conclusão que cheguei hoje pela manhã, a Vanessa que vivo hoje é apenas uma caricatura da mulher que quero ser. Mas isso é assunto para um próximo post...

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Família III - O Sarcasmo

Familiar Diário,

Os leitores mais atentos vão perceber que escrevi anteriormente que uma prima, até então a única que sabia de mim... pois bem, é verdade. A verdade começa a penetrar (sem duplo sentido, por favor!) na família, e mais uma prima querida, que espero que esteja lendo este blog, também soube de mim. Obviamente, o roteiro não saiu diferente do que sempre acontece em situações como esta, que basicamente é o seguinte:

Vanessa - Eu gosto de me vestir de mulher
Pessoa - Hahahaha, tu tá de sacanagem! (o tempo de risada varia de acordo com o humor do interlocutor)
V - Estou não (e tento ser o mais séria possível)
P - Ah, para, seu sacana.
(Eu paro, realmente. Fico séria)
P - É verdade isso? Mas, como assim? Desde quando? ("Desde quando eu era um espermatozóide pulando no saco de papai pensava em usar batom, querida!")
Aí a conversa envereda para os tópicos obrigatórios:
P - Mas sua mulher? Ela sabe? E teus pais? Eles sabem? Sabe(m)?! E o que diz(em)?!
Depois de uma meia hora explicando que até a foto dos seus pais já te viu perambulando de camisola pela casa, a pessoa começa a cair em si:
P - Nossa... deve ter sido muito difícil para você, né? (Nada! Parafraseando o sumido Jota Quest, foi "fácil, extremamente fácil, pra você e eu e todo mundo sacanear junto...")
E aí a pessoa termina a conversa contigo exaltando sua coragem (Hein? Cadê?) e dizendo que deseja toda a sorte do mundo (eu não jogo na sena...) para você e lhe dando dicas de como superar isso (como se todos fossem experts neste assunto...)

Antes que as primas para quem contei achem que eu as estou sacaneando, advirto: não estou. Até porque, nosso interlocutor acima vai encerrar fatalmente a conversa com esse batido chavão: "Você desculpa a minha reação, mas nunca ouvi falar nisso antes". E você, com pena do sujeito, se sente portador de uma síndrome que acomete 1 em cada trezentos milhões de habitantes no mundo (o que, convenhamos, tem lá o seu fundo de verdade, nem tanto pela raridade, mas mais pela síndrome mesmo...)
E eu tenho que entender como o mundo reage a mim. Como algo, na mais branda das hipóteses, exótico, um "eu, hein, cada coisa..." ambulante...
Mas, fica aqui a pergunta: como o mundo vai me entender? De novo, Legião, "Quase sem querer": "Quantas chances desperdicei quando o que eu mais queria era provar pra todo mundo que eu não precisava provar nada pra ninguém..."
Perdoem o sarcasmo. Mas vocês imaginam se passo por essa conversa umas vinte vezes na festa? Cadê a paciência que falei no post anterior? Só mesmo se juntasse todo mundo e fizesse um discurso. Ei, espere aí, sabe que não é uma má ideia? Hmmmm.....
(Tremei, primas! Aguardem a festa!!! #preparandoodiscurso)

PS.: Para não terminar este post muito deprê, fiquem com a música que mencionei acima. Eu já falei aqui o quão ela é importante para mim. Tenham paciência e achem! Tchau!


Família II - Desabafo

Familiar Diário,

Como provavelmente não possa ter ficado subentendido no post anterior, um dos motivos (não o dominante, gostaria de ressaltar) para que me afastasse da família é um tão estúpido quanto (até o momento) inviável: eu queria estar entre eles como Vanessa.
Isso. Vou deixar uns cinco minutos aqui para você rir. Rir a bandeiras despregadas. hahahaha, kkkk, o que mais for. Pronto, acabou?
"Então você passa a vida toda como homem, some da sua família e quando volta, volta como menina, sem mais nem menos e nenhuma explicação? E a gostosa ainda pretende ser a rainha do baile, zanzando entre tios, primos de primeiro e segundo grau como se nada acontecesse, como se quase todo mundo não fosse te sacanear, falar pelas costas ou ligar para seus pais e dizer o absurdo que foi aquele homem peludo de vestido? Ora, Vanessa, faça-me o favor, pois não?"
Bom, este último parágrafo resumiu todas as minhas impossiblidades. E mostra como é difícil, simplesmente, ser natural ou se mostrar como parte de um grupo sem ser considerada uma aberração, ainda que este grupo te acolhesse como um dos seus enquanto você ainda usava calças.
Aberração. Como falei no início do último post, essa é a pedreira que eu teria que quebrar. A da minha imagem vista (principalmente por mim) como uma aberração.
Calma, eu sei que esta conversa é mais para psicólogos, psiquiatras e afins, mas estou apenas desabafando. Como eu posso agir de forma natural, sem que eu pareça algo totalmente estranho aos olhos dos conhecidos.
Afinal, todas as vezes que andei por aí como Vanessa simplesmente circulei entre estranhos, o pipoqueiro que me vendeu um saquinho era um ilustre desconhecido, o dono do sebo que me respondeu se tinha um determinado livro eu nunca tinha visto mais gordo...
Mas, e quando aquela tia fofa estiver na sua frente vendo seu sobrinho de vestido?
E quando aquela prima que você adora te ver de saia?
E quando aquele marido da tua prima olhar para você, dizer que está tudo bem e cochichar com alguém logo depois... e você pode apostar a sua vida que você é o assunto!
E quando aquele filho de uma prima (pensou que iria falar outra coisa, não?) que não entende nada disso lhe perguntar na cara dura "Porque você se veste de mulher?" E você, pacientemente, tendo que discorrer sobre que diabos é o tal do crossdresser ("Sabe o Laerte?" "Não" "Então a Xana da novela que acabou?" "Ah, você é isso?")
(Outro parêntese: como você pode perceber, a vida é muuuuuito irônica: povoou o lado paterno de mulheres, ou seja, salvo raras e benditos-frutos exceções, só tem mulher lá! Imagine a TPM! Só se esqueceu de euzinha aqui... Ah, vida, sua grande sacana... fecha o parêntese)
Respirou fundo? Parou de rir? Sacou qual é o meu drama?
"Ih, tu tá fresco hoje, hein? Vai procurar um psicólogo!"
Ok, psicólogo pode ajudar. Mas ele não vai entrar na cabeça de cada um que vai falar contigo e dizer algo do tipo "Ei, liga não, ele é maluco assim mas é gente boa...". O que ele pode te fazer é encarar a coisa com duas coisas que eu preciso urgentemente. Duas não, três...
Coragem. Em escalas industriais. Aos quilos. Aos litros, se tiver. Quanto mais e em qualidades diversas melhor. Isso eu preciso muito, com urgência. Pra ontem!
Humor. O dissolvente universal da cara amarrada. Nem sempre ajuda, é verdade, mas pelo menos você aprende a defecar e perambular lindamente tal qual um cavalo numa parada de 7 de setembro. Isso, eu reconheço, até tenho em certa quantidade.
Ah, e paciência. Porque a vontade que eu tenho seria a de andar com uma plaquinha ou um folheto do tipo "Tudo o que você queria saber sobre mim mas tinha vergonha ou não parou de rir ainda com meu novo look", obviamente com o link deste blog.
Ah, crossdressers, os maçons das minorias sexuais...
Próximo post, please!

Família I - Introdução

Familiar Diário,

Esta semana tem se revelado de especial interesse para mim... e, hoje, voltando do trabalho, descobri mais uma pedreira que terei que fazer em pedacinhos... explico:
Talvez uma dos maiores obstáculos internos que me impedem de me assumir como Vanessa (descobri hoje) é a questão de como me comportar, digamos, de forma natural, ou melhor, como assumir esta nova maneira de viver perante as pessoas mais próximas a mim. Não, não me refiro apenas à trindade Pai-Mãe-Esposa, mas, por exemplo, ao restante da minha família.
(Como você pode notar, desde quando comecei esta fase mais intimista, sem publicar meus posts no feicibuqui, estou tendendo a soltar mais características pessoais minhas... digamos que é tal da vontade de bater asas mais rápido que está fazendo isso... mas fechemos os parênteses e continuemos o texto).
O lado paterno da minha família é muito unido. Talvez uma família italiana, típica, daquelas chefiadas por um simpático casal de nonno e nonna não fosse tão unido (apesar, claro, das várias fissuras internas que uma família de dez irmãos naturalmente traz), mas são.
E eu, por várias circunstâncias, acabei um pouco me afastando da família, sabe? Na verdade, no fundo, no fundo, a única oportunidade que tive de me aproximar um pouco dela foi o curto período de aproximadamente três anos que fiquei com eles enquanto eu fazia faculdade. Mas várias coisas acabaram me afastando: a cidade em que passei a morar, novas amizades, novos amores, uma nova religião... tudo isso contribuiu para que eu acabasse meio que de lado na família.
E qual a razão de estar tão nostálgica hoje? Calma, cocada, já chego lá...
Há algum tempo, algumas primas resolveram montar um encontro meio festivo e temático em que todo mundo (ou quase todo mundo, lembrem-se da ausente aqui!) resolvesse se encontrar. Que eu me lembre já teve festa de halloween, havaí, e, nesta semana, tem mais uma edição dela, cujo tema é boteco.
Bom, desnecessário dizer que nunca estive em nenhum festerê destes. As razões foram várias, a maioria compromissos que eu teria no dia ou no dia seguinte... além dos locais geralmente não serem lá muito próximos de mim (lembrem-se de novo: sua Vanessinha não é motorizada...)
Mas desta vez recebi um convite de uma carona de uma prima (até então, a única que sabia de Vanessa) que disse que desta vez não teria desculpas, eu iria e voltaria para casa com elas. Aceitei na hora! E nessa hora entrei em paranoia! Explico no próximo post!

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Laura Pausini

Pausiniano Diário,

Hoje, 16 de maio, a minha, a sua, a nossa musa Laura Pausini completa 41 felizes anos de existência terrena! Longa vida a ela! E resolvi fazer dela mais uma vez assunto de post. Desta vez, com um approach diferente: como ela entrou na minha vida e a importância dela no permanente making of de Vanessa...
Escuto Laura há mais de vinte anos. E, para uma menina com quase a idade dela, como eu, isso significa metade da minha vida. E, obviamente, ela surgiu bem antes de Vanessa surgir na minha vida, mas ela deu um importante empurrão para que Vanessa aparecesse. Já já explico...
Imaginem vocês no início da década de 90, quais as músicas que um rapaz recém saído da adolescência ouviria. Laura Pausini, cantando em espanhol La Soledad seria uma das últimas opções. Ou, então, uma opção diria pouco menos ortodoxa...
Mas foi assim que começou. Em espanhol, depois, ao descobrir que se tratava de uma italiana, na sua língua pátria. Ajudou também o fato de na época estar estudando a língua de Dante. De certo modo ela foi minha professora... o pouco que sei desta língua devo - e muito - a ela.
Mas admitir a importância dela, pelo menos no início, para mim, era uma eterna justificação de que "apesar-de-escutar-laura-pausini-eu-não-sou-gay", ou algo do gênero. Mas nada me convencia do contrário, e, pior, a coisa só piorava...
A coisa só piorava porque eu passei a escutar muito suas músicas. E ela, em cada cd, tinha uma ou duas faixas que eu chamava de "auto-ajuda", tipo, aquelas músicas que você tinha que escutar quando estava para baixo, triste da vida. Foi assim que músicas como "Il Coraggio Che Non C´È", "Ascolta Il Tuo Cuore" e "Fidati di Me" (esta para mim uma das maiores injustiçadas em termos de coletâneas dela).
E aí Laura passou a ser para mim algo muito familiar. A irmã que eu não tive (lembrem-se, ela é um pouco mais velha que eu...). Aquela para quem eu apelava para me consolar nas minhas tristezas da vida...
Agora há pouco, fiquei bem umas duas horas, das onze à uma da manhã, vendo alguns clipes dela. E pude relembrar vários trechos da minha vida, amores perdidos, strani amori que vinham e se iam de modo tão esquisito, e para cada uma destas situações eu tinha uma canção dela para sacar da mente, para consolo, para alegria ou simplesmente distração...
Isso sem contar nas aproximadamente meia dúzia de vezes que sem querer querendo sonhei com ela...
Claro, elegendo-a como a irmã que nunca tive, algo mais estranho começou a ocorrer,,, não sei se seriam estas as palavras corretas, mas era como se minha alma começasse a ter uma voz. E era a voz dela...
Então, para cada cd novo, para cada música nova, era como se a minha própria alma cantasse, a minha própria alma se expressasse...
Mas, que alma? Ora, você é um homem, sua alma tem que ter voz masculina.
Mas não. A minha alma tinha a voz, o timbre dela.
E antes que você pense, não, não me tornei Vanessa por causa da Laura. Mas Laura que me chamou a atenção para Vanessa, que me dizia que eu deveria escutar meu coração, ainda que sofresse, sofrimento esse que ela passou, mas que mesmo assim eu ainda deveria confiar nela. Que dizia para eu vivê-la ainda que todo o mundo fosse contra, que eu deveria mergulhar dentro de mim e retornar para o exterior límpida...
Quem é pausiniana, como eu, sabe de cor que músicas que me referi no último parágrafo. E sabe que tudo isso é a mais pura e pausiniana verdade...
Mas, ainda assim, não aceitava ou não tinha consciência disso... até 4 de outubro de 2009...
Neste dia Vanessa já existia, mas não era tão ousada como hoje. Mas tinha um show dela (o último aliás, no Rio). E eu fui. Mas...
Eu fui devidamente maquiada e de bolsa. Só não me vesti completa porque não tive a coragem que hoje tenho.
E por qual razão fiz isso? Até hoje a única resposta que me veio à cabeça era "porque eu queria me encontrar com Laura da maneira como eu era realmente".
E neste dia eu me rendi: desde a primeira vez eu sempre escutei Laura para alimentar minha alma feminina. Para dizer a ela que apesar de tudo ela tem uma voz em quem se apoiar. E a voz era dela. Quem dava esperança para a alma era ela.
Ah, um aviso: apesar dos pesares, sou crítica quanto aos trabalhos dela. Algumas músicas dela eu simplesmente não gosto (In Assenza di Te é uma delas). E existem outros cantores que adoro, amo de paixão.
Mas Laura para mim está num outro patamar. Não é simplesmente uma cantora, para mim é A cantora, pouco me importando opiniões e críticas, seja lá de onde venham.
Porque sua voz é minha alma.
Límpida.


sexta-feira, 1 de maio de 2015

Do Anonimato Quase Público (Ou Vice-Versa...)

Anônimo Diário,

Este talvez seja um dos posts mais importantes deste blog. E, curiosamente, o que farei menos alarde no feicibuqui, E tenho um motivo para isso...
Se você acompanhou minha vida de crossdresser desde 29 de junho passado sabe que este blog era mais ou menos como uma represa prestes a estourar. Explico: as pessoas que sabem quem eu sou realmente conheceram pouco a pouco o blog, e começaram a se encantar (sabe-se lá a razão...) com minhas peripécias... viagens a São Paulo, Friburgo, tudo bem documentado, e narrado com pitadas de inocência e maldade que revelam mais ou menos a imagem de uma borboleta saindo do casulo, ou como uma das analogias mais grotescas que eu conheço, sair do armário (pior que esta é quando me perguntam se eu me monto... como assim? Eu - ou o meu lado feminino - lá é Lego para ser montado?). Mas tudo dentro do mais absoluto e restrito sigilo.
Aí eu pergunto para quem NÃO me conhece e NÃO tem a mínima ideia de quem eu sou: o que vocês sabem sobre mim? O básico que informei no "Quem sou eu" do blog e nada mais. Sim, sou casada, amo ler Nova, amo Laura Pausini. Onde eu moro? Em algum lugar da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, o que diminui consideravelmente as opções de busca de Vanessinha, dos iniciais 200 milhões de brasileiros para pouco mais que, sei lá, dez milhões. Já dei uma ajudada, não é?
Fora isso, o que mais se sabe sobre mim?
Este é o ponto.
Uns dias atrás, comecei a ter uma verdadeira noção do alcance deste blog e vi que não era lá muita coisa. Algo como se eu não avisasse as pessoas através do feicibuqui que eu acabei de postar uma ou outra coisa, ninguém iria se tocar, ninguém iria se interessar, ninguém iria ler.
É, guardadas as devidas proporções - e se uma determinada amiga desta blogueira ler isso sabe o quanto eu uso esta expressão - mais ou menos como uma atriz que quer ser reconhecida nas ruas mas que quase ninguém sabe quem é. Com apenas duas diferenças básicas...
Primeiro, eu nunca fui atriz...
Segundo, eu sou famosa?
Eu sou famosa? Não. Se eu não sou famosa, para que guardar o anonimato? Para que se manter quieta sobre quem eu sou, o que eu penso etc etc etc?
"Ora, Nessa" - dirão alguns de vocês - "para que se expor desta maneira? Você tem uma vida fora deste blog. Tem pessoas que dependem de você, tem uma profissão, tem uma vida, um nome a zelar, contas a pagar, situações que são incompatíveis com a vida que você tem neste blog..."
Certo. Absolutamente certo. E errado, absolutamente errado.
Partindo do pressuposto que este blog seria apenas uma válvula de escape para minhas frustrações diárias por não ter nascido mulher, a crítica é absolutamente procedente.
Mas, partindo do pressuposto de que não é apenas isso que eu quero da vida, está errado, completamente equivocado.
Porque, não me lembro se já contei aqui ou não. Caso não tenha contado, digo pela primeira vez: Vanessa Jones é apenas uma personagem. O "Jones" então, nem se fala... mas acabou ficando como uma marca, e até uma outra amiga encasquetou de me chamar somente de "Jones"... mas é apenas uma personagem...
A Vanessa real escreve aqui e agora. E está doida para dizer quem é de verdade. Quer adicionar seus sobrenomes reais ao nome que escolheu. E, fenômeno altamente curioso, sequer se importaria em colocar seu nome masculino após o Vanessa, como se fosse um nome composto, e talvez privilégio de alguns mortais do calibre de um Luis Inácio Lula da Silva ou de uma Maria das Graças Xuxa Meneghel. Até porque - e quem sabe fique à vontade para consultar no Pai Google de Aruanda - ainda assim existiria homônimos para mim, de nome e sobrenome, e nem muito longe de mim, aliás, acabei até de descobrir!
Então... não quero ser apenas o frustrado com o cotidiano de um macho incompleto. Eu quero a completude. Quero que as pessoas me conheçam como eu realmente sou, o que penso, o que faço, pra qual time eu torço, qual escola de samba é a minha, meus escritores favoritos, minha posição ideológica, política, religiosa, filosófica etc etc etc, todos estes aspectos fragmentários de uma vida que, juntos, formam algo integral chamado EU.
Um EU que, parafraseando Shakespeare (ou seria Homero? A preguiça não me deixa consultar o livro...) que não teme dizer seu nome. Seu verdadeiro nome. Ainda que isso custe a sua vida e a perda de muuuuuita coisa que é importante para mim, mas que talvez não seja mais importante que o que busco deseseperadamente há quase um ano neste blog.
A verdade. A minha verdade.
Aquela verdade quieta, que não alardeia. A verdade que apenas é.
E que por isso, também será lida apenas por quem realmente se interessar em ler este blog. Nos próximos dias verei o quanto este post foi lido, sem necessidade de propagandear no feicibuqui.
E aí, talvez, eu diga quem eu sou.

PS.: Sem querer querendo, acabei espalhando algumas dicas, no post anterior e neste, sobre minha verdadeira identidade. Para quem gosta de histórias do tipo O Código Da Vinci, Bridget Jones (eu acabei esquecendo de escrever lá em cima a paternidade do Jones!) e da já mencionada edição de Nova do mês de dezembro de 2014, será um prato feito para criptólogos amadores e profissionais... Roberts Langdons de todo o mundo, uni-vos! Nada tereis a perder senão as ilusões que carregam a meu respeito!


Algumas Considerações Acerca do Post Passado (ou Vanessa Rabbit?! II)

Sonhador Diário

Ponderemos alguns pontos...

1. Como disse anteriormente, minha senhora já imagina (e sonha) o processo de vanessização. Não deixa de ser curioso ela me imaginar como uma femme fatale, embora esteja anos-luz disso...
2. Na verdade, já começo a esboçar uma imagem de Vanessa dentro de mim. Claro, uma imagem realista, algo beeeem menos sexy, apesar de feminina. E isso se deu mais ou menos desde o final do ano passado, mais precisamente com a edição de dezembro de 2014 da Nova (que desde o mês passado virou Cosmopolitan, como no resto do mundo ela ficou conhecida), que apareceu uma reportagem com uma foto em que, modestamente, eu me vi, ou melhor, me imaginei sendo assim (iria escrever "exatamente" antes do "sendo assim" mas o uso do advérbio soaria bem forçado...). Receio colocar aqui a tal da imagem, que já capturei da internet (mas quem tiver a curiosidade e a revista em mãos, fica a dica, é uma das fotos da revista. Mais não direi...)
3. Iria fazer um link agora com o ponto anterior, mas iria fugir do tema deste post. O que fazer? Oras, outro post! Next, please!)

Vanessa Rabbit?!

Eu, segundo minha senhora... quem me dera!!
Onírico Diário,

Desperto da letargia da minha ausência de posts (também conhecida como "falta de assunto" mesmo...) para contar uma história, no mínimo, curiosa...

Eis que numa prosaica manhã desta prosaica semana minha senhora aparece para mim com ar circunspecto dizendo:
- Amor, tive um sonho esquisito com você hoje...
- Como assim? Algo ruim?
- Não necessariamente... sonhei que eu e você estávamos numa festa e que nossas mães estavam também nesta festa e você estava de Vanessa, e queria porque queria aparecer assim para elas... eu dizia: "Não, amor, você não vai fazer isso, a gente não se divorciou ainda..." e você dizendo "não, eu vou, eu quero..."... você estava realmente decidido...
- ??!
- E você estava com um cabelão à la Jessica Rabbit, sabe? Com um vestido todo justo, com um batom vermelho, um bocão... parecia até que tinha feito preenchimento labial...
- Não, amor, eu não preciso disso - disse eu, a clone (meu Deus perdoai!) da Angelina Jolie - meu beiço é de família, herdei da minha avó... pelo menos é o que minha mãe diz...

Em resumo, esta foi a conversa. Confesso que quanto ao traje não me lembro bem o que eu vestia, era algo colado, tenho quase certeza (não quis insistir, até porque, como todos devem saber, sonhos são muuuito fluidos. Mas não deixa de ser sintomático o fato de minha senhora já estar sonhando (literalmente!) sobre isso e me achando (só ela mesmo) que eu seria uma diva como... Jessica Rabbit!
Para os novinhos de plantão, ela é uma personagem de um filme de fins do século passado (mais precisamente 1988). Nunca vi o filme, nunca tive o interesse e, confesso, mesmo depois desta revelação, tampouco tenho vontade. Mas fica aí o registro... segundo minha senhora, I am Jessica Rabbit!