segunda-feira, 30 de junho de 2014

Do Sutiã e De Suas Vantagens...

O que mais eu teria a relatar eu não me lembro ou não tenho paciência, aqui, para contar, mesmo assim vá lá: descobri-me crossdresser, agora pelo menos era rotulável e pertencente a uma minoria sexual talvez mais discreta que a maçonaria... ou alguém vê a sigla CD no verdadeiro alfabeto que se tornou o tal do movimento LGBTTXYZ?
Passei a morar sozinha, e comecei, com muita timidez ainda, a comprar sutiãs (pretos, de renda e em lojões bem baratos, preços modicíssimos!). Passei a usá-los no recesso de meu lar solitário. Sentia-me bem, talvez tenha sido o sutiã o meu primeiro fetiche em termos de roupas femininas: aquele tecido abraçando meus seios transmitia para mim uma sensação de poder e segurança que poucas vezes sentia...
Epa, espere aí: poder? Segurança? Enlouqueceu? Ah, caros amigos, não tentem compreender minha psique ou fazer disso tratados psicológicos intrincados. Se querem uma verdade, aceitem a que darei agora: eu me sinto mais segura e dona de mim quando estou de menina do que se estivesse usando uma armadura medieval. Por que? Je n´ai sais pas...
Este blog não foi escrito com esta finalidade, repito. Mas um pouco de intimismo, numa chuvosa noite de segunda-feira, quase onze e meia da noite, até faz sentido. Outros momentos como este virão, aguardem!
Fui!

domingo, 29 de junho de 2014

Uma Explicação...

Querido Diário, sei que devo estar chata relatando isso tudo. Minhas memórias não diferem muito das memórias de outras crossdressers, aliás, a história é muuuuito repetida em várias situações. Talvez um flagra de alguém aqui, um troca-troca com um coleguinha acolá (coisas que nunca aconteceram comigo em minha crossdressed adolescência, confesso, para o bem ou para o mal).
Mas estes fragmentos de memória servem como rascunho de uma biografia que ainda estou escrevendo. E muita coisa ainda ocorreria, Vanessa, neste sentido, ainda nem havia nascido...
Te peço, Diário, assim, um pouco de paciência. Já já termino minhas breves lembranças. Continue servindo de consolo a uma quase quarentona...

28 de Julho de 1988

Nasci em 1975. Na data que dá o título a esta postagem não tinha sequer 13 anos completos. Mas foi neste dia em que coloquei um sutiã pela primeira vez na minha vida.
Aí alguém poderá - justificadamente - perguntar: Ora, mas como você se lembra exatamente da data deste evento? Simples: no dia estava passando um amistoso entre Brasil e Noruega que terminou empatado em 1 X 1. Daí pesquisar a data no Pai Google de Aruanda foi simples.
A peça era rendada, preta, da minha mãe. Claro, não tinha seios, mas mesmo assim a sensação era indescritível, principalmente ao me enxergar no espelho usando sutiã. Começou assim uma história de amor com esta peça que supera até mesmo o gosto por calcinhas, preferência de 11 entre 10 crossdressers... talvez só goste mais de usar camisolas do que sutiãs. Mas tudo começou naquela tarde de 28 de julho de 1988. E não parou mais...

Até Que...

Estão vendo esta revista aqui do lado? Ela foi o divisor de águas, foi quem (o ou quê) disse quem eu era. Só por isso tenho uma gratidão enorme pela Marie Claire, neste sentido mais até que a NOVA, que eu amo de paixão (falarei sobre isso em outro post). Mas vamos à história:
Um belo dia, estava eu viajando, não me lembro de onde para onde, de ônibus, e ele parou em algum lugar pitoresco entre Rio e São Paulo, cuja banca de jornal vendia edições antigas de revistas. E me deparei com esta Marie Claire aqui.
Confesso que a chamada de capa nem foi a determinante para sua compra, mas talvez a reportagem sobre moda ou mesmo a bela capa (Marie Claire manda muito bem, aliás, sempre mandou...).
Mas estão vendo a tal da chamada lateral, logo embaixo do logotipo: "Nem Freud explica: "Meu marido usa lingerie e salto alto'"? Pois é, era o meu caso. Poderia nem usar lingerie e salto alto, mas queria usar. Aliás, salto alto ainda quero, porque lingerie já uso...
A tal da reportagem chamava a atenção para uma tribo esquisita chamada Crossdresser, que, resumindo, são pessoas de um sexo que gostam de se vestir com roupas do outro sexo para se excitar sexualmente, mas que não necessariamente se veem inclinadas a serem homossexuais.
Bingo! Descobri o que eu era. Agora, a pergunta mudou: "Quem eu era" eu já tinha a resposta. Agora, "O que fazer com isso?" é que demorei mais para achar a resposta. Aliás, se não me engano, só descobri semana passada. E este blog vai ajudar a explicar isso...

O Tempo Passa...

E aquilo que senti aos seis (presumo!) anos nunca mais saiu da minha cabeça. Só que de uma forma, digamos, interessante: eu tinha uma vontade louca de me vestir, mas nunca tive desejo sexual por homens. Gostava de mulheres. Sinceramente, nunca havia entendido isso.
Chegava a adolescência, e os hormônios espoucando na minha cara, me deixando a cara de um abacaxi. Descobri a masturbação, e, o mais engraçado, era com o que eu me excitava. Não, minhas senhoras e meus senhores, não era a Playboy (nos tempos que a Playboy era A Playboy) ou qualquer outra publicação erótica... 
O que me excitava mais eram... catálogos de moda e ensaios de moda, principalmente em revistas femininas. Vai entender, mas qualquer foto, ainda que pequena, de um vestido que imaginava sexy (ou melhor, que me imaginava dentro dele) já me excitava mais que a Adriane Galisteu se depilando em 1995 (sim, eu comprei aquela revista...) 
E o mais engraçado é que até aquele momento eu sequer entendia o que se passava comigo. Sério. Queria vestir roupas femininas, queria viver como mulher mas não tinha interesse em homens, nem nunca saí com algum. Mas, qual a razão disso?

Basicamente...

... foi assim que tudo começou, com uma improvisada saia de plástico... por que aquela babá não ficou quieta naquele dia?
Mas foi naquele dia que senti que peguei, em algum momento, a rua errada para minha vida... rua que quero fazer o retorno agora...

Seis Anos?

Sim, perdoem-me os leitores, não me lembro se foi com seis anos isso ou não. Mesmo assim, vale a pena registrar que eu, com apenas seis anos (estimativa!), e sem ter a menor ideia - pelo menos consciente - do que estava fazendo, criei minha primeira (!) peça de roupa (!!), uma saia (!!!) de plástico ou de algo parecido com aquelas embalagens que se usam para guardar travesseiros e similares. Foi mais ou menos assim: abri (ou rasguei) o tal plástico até ele ficar bem largo e poder dar uma volta na minha cintura. E ele conseguiu dar a volta (acreditem: já fui magra uma vez na vida!) e, para amarrar, improvisei algo parecido com um lápis ou graveto que atava as duas pontas do plástico em sua parte superior bem em frente ao meu genital (vamos combinar que "pipizinho" é desnecessário... neste caso, o asséptico "genital" dá mais ressonância). E me ergui, bela e pimpona, com meu arremedo de saia. A alegria e a excitação por aquela minha primeira "obra" durou alguns poucos segundos, até a minha babá na época divertir-se com minha peraltice artesanal:
- Ih, você fez uma saia, você tá de sa-iá!!!
Imediatamente desfiz o arranjo que tanto procurei fazer. Quem, minha senhora, moi, de saia? Tá maluca! Sou guri, veja aqui o meu pipizinho...
E isso foi apenas o começo...

Querido Diário...

... quando eu era pequena, a.V., insisti em ter um Diário. Leitora das revistas da Luluzinha, me deliciava com as histórias em que ela escrevia num diário e procurava a todo custo manter sua intimidade resguardada de todos, em especial dos meninos do bairro, dentre os quais se sobressaía, em especial, também pelo peso, o Bolinha.
Ganhei o tal caderninho, e, se bem me lembro, era bem feminino, com letras douradas e capa imitando alguma coisa tipo madrepérola, meio rosado. Comecei a escrever com afinco e letra redondinha, o que era um milagre para a minha sempre péssima caligrafia (anos após, abandonei de vez a letra cursiva e comecei a escrever em letra de forma mesmo, o que pouco adiantou para os que me liam, dona que era de uma cacografia, no mais literal senso da palavra...).
Pois bem, o tempo passa, o tempo voa, e eis-me agora novamente às voltas com um diário que, por seu incrível paradoxo, tende a tornar público, para a blogosfera e tutti quanti, os meus mais íntimos e profundos desejos. Fazer o quê, né? Serve esta postagem à guisa de introdução a um começo bem longínquo, quando tinha mais ou menos uns seis anos de vida...